AI denuncia ataques sistemáticos contra hospitais sírios
3 de março de 2016
Anistia Internacional acusa forças sírias e russas de alvejarem deliberadamente centros médicos como parte de uma "estratégia de guerra". Negociações de paz devem ser retomadas na próxima semana, em Genebra.
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Ataques aéreos executados pelo governo sírio e forças russas contra hospitais e outras instalações médicas fazem parte de uma "estratégia de guerra" visando preparar o caminho às tropas terrestres para avançar até Aleppo, afirmou a Anistia Internacional (AI), nesta quinta-feira (03/03).
"Forças governamentais russas e sírias parecem ter alvejado deliberada e sistematicamente hospitais e outras instalações médicas nos últimos três meses", disse a ONG, acrescentando que os ataques foram intensificados durante as recentes negociações sobre uma trégua na Síria.
"Forças síria e russas atacaram deliberadamente instalações de saúde em flagrante violação do direito humanitário internacional", reforçou a diretora de resposta a crises da Anistia, Tirana Hassan. "Mas o que é realmente vulgar, é que acabar com hospitais parece ter se tornado parte de sua estratégia militar."
A Anistia Internacional afirmou ter "provas convincentes" de pelo menos seis ataques deliberados contra centros médicos na província de Aleppo nas últimas 12 semanas, que mataram pelo menos três civis. A ONG afirmou que todas as testemunhas com quais conversou relataram que não havia alvos militares nas proximidades dos hospitais atacados.
Já a organização médica sírio-americana Sams comunicou à Anistia que na região de Aleppo ocorreram ao menos 14 bombardeios contra hospitais, que causaram a morte de quatro funcionários e 45 civis.
As negociações de paz patrocinadas pela ONU estão programadas para serem retomadas em Genebra na próxima semana, após terem sido suspensas no mês passado em meio a uma ofensiva militar de Damasco em torno de Aleppo. A operação, apoiada por Moscou, desencadeou um êxodo de dezenas de milhares de civis.
Em dezembro, a Anistia Internacional pediu por uma investigação independente sobre os relatos de que ataques aéreos russos teriam matado centenas de civis na Síria. Um relatório da ONG sobre mortes de civis destaca evidências de que a Rússia possa ter usado munições de fragmentação proibidas internacionalmente e bombas não guiadas para atacar alvos em áreas residenciais, incluindo hospitais.
PV/epd/afp/ap
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.