Em entrevista a jornal alemão, artista chinês conta que autoridades de seu país permitiram que ele se movimente livremente. "Há uma base de confiança", declara.
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Em sua primeira longa entrevista desde que chegou a Munique no fim de julho, o artista Ai Weiwei, de 57 anos, afirmou ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung que as autoridades chinesas devolveram seu passaporte com a promessa de que ele poderá voltar para a China.
"Eles me prometeram que eu poderia retornar, o que é muito importante para mim. Eles disseram que eu sou uma pessoa livre", contou Ai Weiwei, um dos críticos mais proeminentes do regime comunista chinês, em entrevista publicada nesta quarta-feira (05/08)
O artista disse ainda que a permissão para sair da China " praticamente não tem" condições. As autoridades chinesas confiscaram o passaporte de Ai Weiwei por quatro anos sob a acusação de evasão fiscal em 2011. Na semana passada, ele recebeu a permissão oficial para poder vir à Alemanha.
"Eles sabem que quero fazer da China um país melhor, que eu me preocupo com as gerações jovens", disse o artista. "Há uma base de confiança. Caso contrário eles não permitiram minhas exibições, um ex-inimigo de Estado. Caso contrário, eles não teriam devolvido meu passaporte", completou.
Longa espera
Após a devolução de passaporte em julho, o artista afirmou que a Alemanha lhe ofereceu um visto de quatro anos. A Universidade das Artes de Berlim (UdK) deu a Ai Weiwei uma vaga de professor visitante. Ele viajou para a capital alemã na quarta-feira.
Em Munique, Ai Weiwei foi recebido no aeroporto por seu filho de seis anos. Na cidade ele passou por série de exames médicos. Segundo o artista, os médicos lhe deram um atestado de saúde.
Na entrevista, Ai Weiwei não comentou sobre planos de visitar o Reino Unido, onde na semana passada a secretária do Interior do Reino Unido, Theresa May, ordenou que fosse concedido ao artista um visto de seis meses, revertendo a retenção de um visto de longa duração ao artista.
CN/afp/dpa/ap
Ai Weiwei: um artista e a política
Celebrado no Ocidente, escultor, performer e criador de instalações foi tratado como criminoso na China. Depois de quatro anos, Ai Weiwei recebeu o passaporte de volta. E a primeira viagem programada é para a Alemanha.
Foto: Getty Images
Visto alemão
No dia 24 de julho de 2015, o artista chinês Ai Weiwei divulgou em sua conta no Instagram uma imagem do visto que obteve para viajar à Alemanha. O escultor, performer e criador de instalações irreverente ficou proibido de deixar a China durante quatro anos. O artista quer viajar a Berlim para ver o filho de seis anos, que vive na Alemanha desde 2014.
Foto: https://instagram.com
Passaporte de volta
O artista plástico e ativista social recebeu o passaporte de volta no dia 22 de julho de 2015. Acusado de fraude fiscal pelas autoridades chinesas, Ai Weiwei ficou detido de abril a junho de 2011. Desde então, o documento estava confiscado. "Quando peguei o documento senti que meu coração estava em paz", disse em entrevista ao jornal britânico "The Guardian".
Foto: Instagram/Ai Weiwei
Flores pela liberdade
Ai Weiwei fez uma campanha de 600 dias para recuperar o passaporte. Ele fotografou diferentes ramos de flores na cesta de uma bicicleta em frente ao seu ateliê e divulgou as imagens diariamente em sua conta no Instagram.
Foto: https://instagram.com
"Berlin, eu te amo"
Proibido de deixar a China, Ai Weiwei começou a dirigir um filme via Skype com a ajuda de um produtor alemão. "Berlin, ich liebe dich" ("Berlim, eu te amo") deve ser lançado no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), em 2016. O filme, que faz parte da série "Cities of love", trata da relação do artista com seu filho, Ai Lao.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Schulze
Superstar e provocador
Para muitos chineses, o escultor, performer e criador de instalações Ai Weiwei representa uma espécie de consciência social. Ele se engaja por maior liberdade de opinião em seu país e critica a repressão política de uma forma que alcança o grande público.
Foto: picture-alliance/dpa
Título revelador
A maior exposição de Ai Weiwei – "Evidence" ("prova") foi inaugurada em 2014 no museu Martin-Gropious-Bau, em Berlim. O título é pertinente, pois, em 34 esculturas e instalações, ele reflete sobre a realidade social da China. "Wooden stools", por exemplo, reúne 6 mil bancos de madeira no pátio interno do espaço de exposições, organizados de acordo com um reticulado geométrico.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Tradição e modernidade
Os bancos, oriundos da dinastias Ming e Qing, foram coletados no norte da China pelo artista e seus colaboradores ao longo de vários anos. Antigamente eles compunham o inventário padrão das residências chinesas, sendo herdados de geração em geração, dentro das famílias. Desde a Revolução Cultural, contudo, os bancos não são mais peças únicas de madeira, e sim artigos de massa, de matéria plástica.
Foto: Mathias Völzke
81 dias
Sem mandado de prisão, em 2011 o artista foi mantido num presídio secreto fora de Pequim, vigiado 24 horas por dias por câmeras e policiais militares, com a luz acesa dia e noite. Acusado de sonegação de impostos, teve seu passaporte apreendido e só foi libertado após pressão internacional. Ele reproduziu essa cela com precisão em Berlim, intitulando a obra "81" – número de dias de seu cativeiro.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Vigilância marmórea
Mesmo depois de libertado, o dissidente, hoje com 57 anos, continuou sob vigilância. Diante de seu ateliê em Pequim estão instaladas 17 câmeras, o Estado sabe sempre quem entra ou sai. Mas, pelo menos artisticamente, Ai Weiwei virou a mesa, esculpindo os aparelhos em mármore, com todos os detalhes: um símbolo da própria repressão política, através do filtro da arte.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
"Souvenir from Shanghai"
Até algum tempo atrás, o governo de Pequim ainda tentava se beneficiar da popularidade de Ai Weiwei. Ele foi encorajado a montar um estúdio em Xangai, como parte de uma gigantesca aldeia de artistas. Em 2011, como suas críticas desagradavam ao Partido Comunista, o ateliê já pronto foi demolido. Em Berlim, o artista expõe os destroços, dentro de uma cama de madeira tradicional chinesa.
Foto: Getty Images
Crustáceos ambíguos
Em protesto contra a demolição de seu estúdio, Ai Weiwei promoveu uma "festa de caranguejos", irritando Pequim mais uma vez. Pois a palavra chinesa para o crustáceo é foneticamente idêntica a "he xie", a "harmonia" tão exaltada como imagem ideal da sociedade chinesa pela propaganda do regime. Os caranguejos em Berlim são de porcelana.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Bicicletas evocativas
Ai Weiwei mandou soldar 150 bicicletas para essa impressionante instalação. Ele não só lembra como esse meio de transporte está sendo extinto na China, em favor dos automóveis, mas também evoca um espetacular processo de fachada. Alguns anos atrás, um jovem foi preso por andar com uma bicicleta não registrada, sofreu maus tratos no cárcere e mais tarde chegou a ser condenado à morte.