Uma semana depois de ter recebido de volta o passaporte, o mais famoso artista chinês cumpre o que havia dito: que a primeira viagem seria para Berlim, onde mora o filho de 6 anos.
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Por quatro anos Ai Weiwei foi impedido de sair da China. Na quarta-feira da semana passada (22/07), ele recebeu de volta o seu passaporte e anunciou que a primeira viagem seria para Berlim. Dois dias depois, publicou, na rede social Instagram, uma foto do seu visto e também uma permissão de trabalho na Alemanha.
Já o Reino Unido não concedeu um visto de trabalho de seis meses a Ai Weiwei. Os britânicos concederam apenas uma estada de três semanas para o artista chinês. Na carta justificatória – que Ai Weiwei também publicou no Instagram –, ele é acusado de falso testemunho sobre seus antecedentes criminais.
"É de conhecimento público que o Sr. recebeu uma sentença penal na China", afirma a carta. Ai Weiwei, porém, havia informado nunca ter sido acusado ou condenado por algum crime.
O mais famoso artista chinês desembarcou por volta das 17h desta quinta-feira (horário local), em Munique. O destino final: Berlim. Com o filme Berlim, I love you, ele já havia deixado claro que possui uma forte ligação com a capital alemã.
O curta-metragem mostra a relação à distância com o filho de 6 anos, Ai Lao, que desde os 11 meses vive com a mãe em Berlim. O artista gravou esse filme durante a edição de 2015 da Berlinale, em fevereiro passado, por Skype, de Pequim.
Um ano antes, ele organizou, também da China, a maior exposição dele em solo alemão, no centro de exposições Martin Gropius Bau. Algumas das instalações foram concebidas especialmente para o museu, apesar de Ai Weiwei não ter tido a oportunidade de ir até o local.
Na capital alemã, Ai Weiwei tem até um cargo: poucas semanas depois de ter sido detido, em 3 de abril de 2011, a Universidade das Artes de Berlim o nomeou professor visitante. O processo já havia começado em dezembro, mas a detenção o acelerou. No momento do anúncio, Ai Weiwei estava há 81 dias numa prisão secreta na China.
O apoio ao artista chinês foi muito grande na Alemanha nos últimos anos. O galerista e sinólogo Alexander Ochs e um grupo de amigos berlinenses iniciaram a campanha "Liberdade de viagem para Ai Weiwei", que foi apoiada por milhares de pessoas na Alemanha. Ela foi seguida de uma segunda iniciativa: "Passaporte para Ai Weiwei".
Ochs conhece o artista chinês há 20 anos e foi o primeiro a expor as obras dele em Berlim. Ele nunca perdeu a esperança de que as campanhas surtissem efeito. "Quando eu fiquei sabendo, em junho, que Ai poderia expor suas obras na China, parti do princípio de que ele logo receberia de volta seu passaporte", disse Ochs. Ele disse ter ficado surpreso apenas com a rapidez com que isso aconteceu.
Ai Weiwei: um artista e a política
Celebrado no Ocidente, escultor, performer e criador de instalações foi tratado como criminoso na China. Depois de quatro anos, Ai Weiwei recebeu o passaporte de volta. E a primeira viagem programada é para a Alemanha.
Foto: Getty Images
Visto alemão
No dia 24 de julho de 2015, o artista chinês Ai Weiwei divulgou em sua conta no Instagram uma imagem do visto que obteve para viajar à Alemanha. O escultor, performer e criador de instalações irreverente ficou proibido de deixar a China durante quatro anos. O artista quer viajar a Berlim para ver o filho de seis anos, que vive na Alemanha desde 2014.
Foto: https://instagram.com
Passaporte de volta
O artista plástico e ativista social recebeu o passaporte de volta no dia 22 de julho de 2015. Acusado de fraude fiscal pelas autoridades chinesas, Ai Weiwei ficou detido de abril a junho de 2011. Desde então, o documento estava confiscado. "Quando peguei o documento senti que meu coração estava em paz", disse em entrevista ao jornal britânico "The Guardian".
Foto: Instagram/Ai Weiwei
Flores pela liberdade
Ai Weiwei fez uma campanha de 600 dias para recuperar o passaporte. Ele fotografou diferentes ramos de flores na cesta de uma bicicleta em frente ao seu ateliê e divulgou as imagens diariamente em sua conta no Instagram.
Foto: https://instagram.com
"Berlin, eu te amo"
Proibido de deixar a China, Ai Weiwei começou a dirigir um filme via Skype com a ajuda de um produtor alemão. "Berlin, ich liebe dich" ("Berlim, eu te amo") deve ser lançado no Festival Internacional de Cinema de Berlim (Berlinale), em 2016. O filme, que faz parte da série "Cities of love", trata da relação do artista com seu filho, Ai Lao.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Schulze
Superstar e provocador
Para muitos chineses, o escultor, performer e criador de instalações Ai Weiwei representa uma espécie de consciência social. Ele se engaja por maior liberdade de opinião em seu país e critica a repressão política de uma forma que alcança o grande público.
Foto: picture-alliance/dpa
Título revelador
A maior exposição de Ai Weiwei – "Evidence" ("prova") foi inaugurada em 2014 no museu Martin-Gropious-Bau, em Berlim. O título é pertinente, pois, em 34 esculturas e instalações, ele reflete sobre a realidade social da China. "Wooden stools", por exemplo, reúne 6 mil bancos de madeira no pátio interno do espaço de exposições, organizados de acordo com um reticulado geométrico.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Tradição e modernidade
Os bancos, oriundos da dinastias Ming e Qing, foram coletados no norte da China pelo artista e seus colaboradores ao longo de vários anos. Antigamente eles compunham o inventário padrão das residências chinesas, sendo herdados de geração em geração, dentro das famílias. Desde a Revolução Cultural, contudo, os bancos não são mais peças únicas de madeira, e sim artigos de massa, de matéria plástica.
Foto: Mathias Völzke
81 dias
Sem mandado de prisão, em 2011 o artista foi mantido num presídio secreto fora de Pequim, vigiado 24 horas por dias por câmeras e policiais militares, com a luz acesa dia e noite. Acusado de sonegação de impostos, teve seu passaporte apreendido e só foi libertado após pressão internacional. Ele reproduziu essa cela com precisão em Berlim, intitulando a obra "81" – número de dias de seu cativeiro.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Vigilância marmórea
Mesmo depois de libertado, o dissidente, hoje com 57 anos, continuou sob vigilância. Diante de seu ateliê em Pequim estão instaladas 17 câmeras, o Estado sabe sempre quem entra ou sai. Mas, pelo menos artisticamente, Ai Weiwei virou a mesa, esculpindo os aparelhos em mármore, com todos os detalhes: um símbolo da própria repressão política, através do filtro da arte.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
"Souvenir from Shanghai"
Até algum tempo atrás, o governo de Pequim ainda tentava se beneficiar da popularidade de Ai Weiwei. Ele foi encorajado a montar um estúdio em Xangai, como parte de uma gigantesca aldeia de artistas. Em 2011, como suas críticas desagradavam ao Partido Comunista, o ateliê já pronto foi demolido. Em Berlim, o artista expõe os destroços, dentro de uma cama de madeira tradicional chinesa.
Foto: Getty Images
Crustáceos ambíguos
Em protesto contra a demolição de seu estúdio, Ai Weiwei promoveu uma "festa de caranguejos", irritando Pequim mais uma vez. Pois a palavra chinesa para o crustáceo é foneticamente idêntica a "he xie", a "harmonia" tão exaltada como imagem ideal da sociedade chinesa pela propaganda do regime. Os caranguejos em Berlim são de porcelana.
Foto: Johannes Eisele/AFP/Getty Images
Bicicletas evocativas
Ai Weiwei mandou soldar 150 bicicletas para essa impressionante instalação. Ele não só lembra como esse meio de transporte está sendo extinto na China, em favor dos automóveis, mas também evoca um espetacular processo de fachada. Alguns anos atrás, um jovem foi preso por andar com uma bicicleta não registrada, sofreu maus tratos no cárcere e mais tarde chegou a ser condenado à morte.