AIEA encerra investigações sobre programa nuclear do Irã
16 de dezembro de 2015
Decisão da Agência Internacional de Energia Atômica permite que Teerã acelere execução de ações preliminares para aplicação do acordo de Viena. Técnicos da ONU investigaram instalações iranianas durante mais de 12 anos.
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A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) encerrou, nesta terça-feira (15/12), formalmente a investigação sobre um possível programa nuclear do Irã para construir armas atômicas, abrindo caminho para a implementação do acordo nuclear definitivo em julho de 2016.
O encerramento oficial da investigação permite que Teerã acelere a realização de medidas preliminares para a aplicação do acordo de Viena, disse o embaixador iraniano na agência da ONU, Reza Najafi. Teerã espera que a decisão da AEIA entre em vigor em janeiro e pretende cumprir todos os compromissos em "duas ou três semanas", assegurou Najafi.
O Irã ainda tem de efetuar alterações no reator de água pesada em Arak, enviar ao exterior grande parte de sua produção de urânio enriquecido e desmantelar milhares de centrifugas. "Este caso possui uma história longa e complexa e o legado de desconfiança entre Irã e a comunidade internacional devem ser superados", disse o diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano.
No início de dezembro, a agência nuclear da ONU tinha assegurado que o Irã realizou uma série de atividades relevantes para o desenvolvimento de uma bomba nuclear até 2003, 2003, mas "não há indicações" de que as atividades tenham continuado para lá de 2009.
Os técnicos da AIEA, que investigaram o programa nuclear iraniano durante mais de 12 anos, asseguraram também que aquelas atividades ocorreram no "âmbito de um esforço coordenado". Segundo a agência, aquelas atividades "não avançaram além de estudos científicos, de viabilidade e de aquisição de certas competências e capacidades técnicas relevantes". A AIEA salientou também que não encontrou "indícios de um ciclo de combustível nuclear não declarado no Irã".
As potências mundiais do chamado Grupo 5+1, composto por Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China e Alemanha, chegaram a um acordo com Teerã em julho sob o qual as sanções que pesam sobre a economia do Irã serão suspensas em troca de restrições às atividades atômicas do país. Segundo o tratado, assinado em Viena, o Irã se comprometeu a reduzir e limitar as capacidades nucleares durante um período entre 10 e 15 anos.
PV/lusa/rtr
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.