Airbus e Air France vão a julgamento por acidente em 2009
10 de outubro de 2022
Treze anos após queda de avião no oceano Atlântico matar 228 passageiros e tripulantes, começa julgamento em Paris, tendo as duas multinacionais no banco dos réus.
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O Tribunal Correcional de Paris começou nesta segunda-feira (10/10) o julgamento da companhia aérea Air France e da empresa aeroespacial Airbus por "homicídio involuntário", devido ao acidente aéreo, ocorrido 13 anos atrás, no qual morreram 228 ocupantes.
Em 1º de junho de 2009, o voo AF447, que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris, caiu no oceano Atlântico. Entre as vítimas estavam 58 brasileiros.
O julgamento segue até 8 de dezembro, presidido pela magistrada Sylvie Daunis. Ele ocorre após um longo período de investigação que terminou em 2019, incluindo várias perícias, e que culminou com o arquivamento do processo contra as duas multinacionais.
Na época, os juízes que comandaram as audiências de instrução determinaram que a responsabilidade do acidente recaía em uma má interpretação da situação pelos pilotos. Por isso, a companhia aérea e a construtora não deveriam ser levadas ao tribunal.
No entanto, os recursos apresentados pelas famílias e pelo Ministério Público francês permitiram invalidar o arquivamento da ação, graças a uma decisão do Tribunal de Apelação de Paris, que levou Air France e a Airbus ao banco dos réus.
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Depoimentos voluntários
Ambas as empresas devem se declarar inocentes. Representantes seus prestaram declarações voluntárias nesta segunda-feira no tribunal.
A diretora-geral da Air France, Anne Rigali, disse entender quão "difícil" é esse processo para as vítimas e afirmou que sua empresa também quer entender o que aconteceu naquela noite, porém "afirmamos que não cometemos crime algum".
Mais longa e tensa foi a intervenção do CEO de Airbus, Guillaume Faury: "Mostramos nossa solidariedade para com as famílias. Eu mesmo perdi colegas e parentes em outros acidentes aéreos", disse. Para o executivo, a missão de sua empresa é transportar "com segurança" os 5 milhões de passageiros que viajam todos os dias em aviões da Airbus.
"São 40% dos franceses que usam aviões todos os anos. Temos 10 mil aparelhos em operação. No momento, várias centenas de milhares de passageiros estão voando [num Airbus]. São gente como você e eu, e o que esperam é segurança."
Ao final das declarações da Air France e da Airbus, Faunis encerrou a primeira sessão. A decisão é esperada para fevereiro de 2023.
Questão chave
A questão chave do julgamento é se a queda do avião se deveu à falta de preparação dos pilotos – o que seria responsabilidade da Air France –, a uma falha do dispositivo de medição de velocidade – que seria de responsabilidade da Airbus –, ou se – como mantinha a instrução de 2019, revogada em 2021 – ou se deve ser atribuída à incompetência do piloto.
De acordo com as conclusões do Escritório de Investigação e Análise da França, o acidente ocorreu depois que gelo bloqueou as sondas de medição da velocidade da aeronave, deixando os pilotos sem a informação ao passar por área de turbulência.
De acordo com as investigações, eles não aplicaram o protocolo correto e elevaram a posição do avião até que aeronave perder sustentação, ficando em situação de queda livre a 1.150 quilômetros da costa do Recife.
Busca por justiça
Entre as 489 acusações particulares deste julgamento, está a de Carl de Vivo, de 32 anos, e da irmã, que perderam a mãe na tragédia.
"O que queremos é que a Airbus e a Air France aceitem que são culpadas neste caso. O nosso objetivo é mitigar um pouco a nossa dor, que reconheçam que não administraram de maneira correta a situação, que não fizeram as modificações [técnicas] necessárias [para evitar o acidente]", disse De Vivo à agência de notícias EFE, minutos antes da abertura do julgamento.
Para ele, não se trata de uma indenização, uma vez que ela já foi paga pela Air France, mas de reconhecimento de culpa de ambas as empresas. "O que sinto hoje é tristeza, porque é um retorno a um passado doloroso", arrematou o querelante.
le/av (Lusa, EFE)
Tragédias aéreas que chocaram o mundo
O avião é um dos meios de transporte mais seguros do mundo, mas desastres aéreos, quando acontecem, costumam envolver um grande número de vítimas. Relembre acidentes dos últimos 70 anos que entraram para a história.
Foto: picture-alliance/C. Daughty
Tragédia mata time base da seleção italiana
Há 70 anos, em 4 de maio de 1949, o avião que levava o time do Torino, então tetracampeão italiano, após um amistoso contra o Benfica, em Lisboa, se chocou contra a Basílica de Superga, em Turim. O acidente matou as 31 pessoas a bordo, incluindo 18 jogadores e cinco integrantes da comissão técnica. O Torino era considerado a melhor equipe de futebol do mundo e formava a base da seleção italiana.
Foto: picture-alliance/dpa
Milagre após 73 dias perdidos nos Andes
Em 13 de outubro de 1972, 45 pessoas – jogadores de um clube de rugby e familiares –partiram de Montevidéu em um avião da Força Aérea Uruguaia rumo ao Chile. A aeronave caiu nos Andes, causando na hora a morte de 12 pessoas e de outras 17 nos dias seguintes. No entanto, 16 homens sobreviveram a 73 dias na neve e foram resgatados após dois deles terem deixado o acampamento para pedir socorro.
Foto: AFP/Getty Images
O maior número de vítimas da aviação
Em 27 de março de 1977, um Boeing 747 da KLM vindo de Amsterdã colidiu com um Jumbo da PanAm que partiu de Los Angeles na pista do aeroporto de Los Rodeos, em Tenerife, nas Ilhas Canárias. A explosão matou 583 pessoas, o maior número de vítimas fatais da história da aviação. Os aviões tinham sido desviados para Los Rodeos devido a um ataque a bomba no aeroporto de Las Palmas, em Gran Canária.
Foto: Getty Images/AFP
Bomba derruba aeronave no Oceano Atlântico
A explosão de uma bomba no compartimento de cargas de um Boeing 747 causou a queda do vôo 182 da Air India no Oceano Atlântico, em 23 de junho de 1985, quando ele sobrevoava a costa da Irlanda, na rota entre Montreal e Nova Déli. As 329 pessoas a bordo morreram. O ataque foi vinculado a extremistas sikhs.
Foto: Getty Images/AFP/A. Durand
O maior número de vítimas em um único avião
O acidente com o maior número de vítimas a bordo de um único avião aconteceu com o voo 123 da Japan Airlines, que fazia a rota entre Tóquio e Osaka. O Boeing 747-SR46 colidiu com o Monte Takamagahara, a 100 quilômetros de Tóquio, em 12 de agosto de 1985. Entre os 520 mortos estava o famoso cantor Kyū Sakamoto. Quatro mulheres sobreviveram, sendo duas delas crianças.
Foto: picture alliance/dpa/Toshiki Ohira
Avião atinge espectadores de show aéreo
Três aviões da esquadrilha acrobática italiana Flechas Tricolores (Frecce Tricolori) se chocaram em pleno voo durante um show de acrobacias aéreas na base militar americana em Ramstein, no sudoeste da Alemanha, em 28 de agosto de 1988. Um dos jatos caiu sobre a multidão de espectadores, matando 70 pessoas e deixando mais de mil feridas.
Foto: picture-alliance/dpa/Füger
Choque causa morte de crianças e adolescentes
Uma colisão entre um Tupolew 154 da companhia russa Bashkirian Airlines, que vinha de Moscou, e um jato da empresa alemã DHL, que viajava do Bahrein a Bruxelas, matou 71 pessoas na noite de 1º de julho de 2002 sobre a cidade de Überlingen, na Alemanha, às margens do Lago de Constança. Entre as vítimas, estavam 49 crianças e adolescentes que viajavam de férias para a Espanha.
Foto: AP
Colisão mata 154 no Brasil
Um choque no ar com um jato Legacy provocou a queda de um Boeing da Gol em 29 de setembro de 2006, a 692 quilômetros de Cuiabá (MT), matando as 154 pessoas a bordo. O voo 1907 havia saído de Manaus, faria escala em Brasília e seguiria para o Rio. O Legacy, que viajava para os Estados Unidos quando bateu, conseguiu pousar na Serra do Cachimbo, no Pará. As sete pessoas a bordo saíram ilesas.
Foto: Força Aérea Brasileira/Divulgação
Acidentes mortais da Latam
Em 17 de julho de 2007, um Airbus A320 da Latam (antiga TAM) que vinha de Porto Alegre não conseguiu parar na pista de Congonhas, atravessou uma avenida e colidiu com um prédio da TAM Express, causando 199 mortes (187 a bordo e 12 em solo). Onze anos antes, um Foker 100 que seguia para o Rio havia caído 24 segundos depois de decolar de Congonhas, matando as 96 pessoas a bordo e três em solo.
Foto: AP
Brasileiros na tragédia da Air France
Em 31 de maio de 2009, um Airbus 330-203 da Air France que fazia a rota Rio de Janeiro-Paris caiu no Atlântico, matando as 228 pessoas a bordo, sendo 59 brasileiros. Partes da fuselagem e corpos foram encontrados quase dois anos depois. A investigação concluiu que a causa foi uma combinação de erros dos pilotos com problemas ocorridos por congelamento nos sensores de velocidade.
Foto: picture-alliance/dpa
Míssil russo derruba Boeing na Ucrânia
Um míssil russo abateu o voo MH17 da Malaysia Airlines, causando a queda do Boeing 777 que sobrevoava a Ucrânia, em 17 de julho de 2014. As 298 pessoas a bordo morreram, a maioria holandesas – o voo havia partido de Amsterdã com destino a Kuala Lumpur. Os investigadores concluíram que o míssil Bouk-Telar foi disparado de uma brigada antiaérea em Kursk, na Rússia, perto da fronteira com a Ucrânia.
Foto: imago/Itar-Tass
Acidente causado por piloto da Germanwings
Uma tragédia em 24 de março de 2015 chocou a Alemanha. Um Airbus A320 da Germanwings que fazia a rota Barcelona-Düsseldorf caiu nos Alpes Franceses, matando os 144 passageiros e seis tripulantes. O desastre foi causado intencionalmente pelo copiloto, Andreas Lubitz, que omitiu da companhia tendências suicidas. Andreas trancou o piloto fora da cabine e chocou a aeronave contra as montanhas.
O presidente da Polônia Lech Kaczynski morreu em 10 de abril de 2010, quando o Tupolev 1954 em que ele estava caiu perto do aeroporto de Smolensk, na Rússia, matando também outras 96 pessoas, entre elas autoridades do primeiro escalão do governo. A comitiva polonesa viajava para a Rússia para participar de uma cerimônia em memória ao massacre de prisioneiros poloneses na Segunda Guerra Mundial.
Foto: AP
Tragédia da Chapecoense
Em 28 de novembro de 2016, o avião da LaMia que levava o time da Chapecoense, dirigentes e jornalistas caiu quando voava de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, para Medellín, na Colômbia, matando 71 das 77 pessoas a bordo. A equipe disputaria a final da Copa Sul-Americana contra o colombiano Atlético Nacional. A investigação revelou uma série de erros, como falta de combustível.