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Além da Covaxin, CPI mira negociação de vacina chinesa

28 de junho de 2021

Negociação do Ministério da Saúde para compra de imunizante do laboratório chinês CanSino foi intermediada por empresa apoiada por bolsonaristas e possivelmente ligada a líder do governo na Câmara.

CPI da Pandemia
Linha de investigação sobre a Convidecia pela CPI deverá ser discutida nesta segundaFoto: Dilson Rodrigues/Agência Senado

Além do escândalo da compra da vacina indiana Covaxin, que nos últimos dias se aproximou do presidente Jair Bolsonaro, senadores que integram a CPI da Pandemia pretendem investigar a negociação feita pelo Ministério da Saúde para aquisição do imunizante chinês Convidecia, do laboratório CanSino Biologics.

Assim como no caso da compra da Covaxin, produzida na Índia pelo laboratório Bharat Biotech e intermediada pela Precisa Medicamentos, a negociação envolvendo a Convidecia contou com uma empresa intermediária no Brasil, a Belcher Farmacêutica.

Apoiada por empresários bolsonaristas, entre eles Luciano Hang e Carlos Wizard, a Belcher tem como um de seus sócios o filho de um empresário próximo ao líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). A farmacêutica tem sede em Maringá, no Paraná, onde Barros já foi prefeito. O empresário cujo filho é sócio da Belcher foi presidente da empresa de urbanização da cidade durante a gestão de Barros.

"Tem essa movimentação para a compra de vacina chinesa com empresa de Maringá com ligações próximas com Barros. Não quero acusá-lo de nada, mas é muita coincidência", afirmou neste domingo (27/06) o senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da CPI da Pandemia. "A CPI vai apurar, sem dúvida nenhuma", disse, citado pelo jornal Folha de S. Paulo.

Além da possível ligação com Barros, acusado de envolvimento em irregularidades na aquisição da Covaxin, a Belcher Farmacêutica é alvo da Polícia Federal no âmbito de uma investigação que apura desvios de recursos destinados à compra de testes para diagnóstico da covid-19 pelo governo Bolsonaro. Segundo a investigação, a Belcher teria ajudado, por meio de propostas fictícias num processo de dispensa de licitação, empresas beneficiadas com contratos para o fornecimento de testes, aponta o jornal O Globo.

"Defendo toda e qualquer investigação que envolva suspeita de compra fraudulenta de vacinas. Vacinas que podem significar a vida ou a morte de milhares de brasileiros faltaram por negacionismo. Agora são aceleradas por negociatas? Isso é repugnante”, afirmou a senadora Simone Tebet (MDB-MS), líder da bancada feminina no Senado, ao Globo.

O senador Humberto Costa (PT-PE), integrante da CPI, sinalizou que uma linha de investigação sobre a Convidecia será discutida nesta segunda-feira. É possível que o tema seja abordado durante o depoimento de Wizard, que deve ocorrer nesta semana.

Vacina mais cara negociada pelo governo

O governo federal assinou no início deste mês uma carta de intenção de compra com a Belcher Farmacêutica, na qual estava prevista a aquisição de 60 milhões de doses da Convidecia, a 17 dólares cada – o que faz do imunizante o mais caro contra a covid-19 negociado pelo Brasil, superando os 15 dólares previstos para cada dose da Covaxin e os até 12 dólares acordados com a Pfizer.

A aquisição da Convidecia totalizaria cerca de R$ 5 bilhões, e ainda não foi formalizado um contrato de compra.

Procurada pelo Globo, a Belcher afirmou não representar mais a chinesa CanSino e reforçou que não assinou contrato com o governo. Em nota, o Ministério da Saúde afirmou o mesmo.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), à qual a Belcher apresentou um pedido de uso emergencial da Convidecia em meados de maio, ainda não deu luz verde para o imunizante. A Anvisa disse aguardar novos documentos, pedidos após análise inicial.

A agência também afirmou que foi informada pela CanSino em 17 de junho de que a Belcher não tem mais autorização para representá-la no Brasil, tornando uma reavaliação do pedido de uso emergencial necessária. De acordo com representantes do Ministério da Saúde citados pela Folha, a negociação para aquisição da vacina foi cancelada no dia seguinte, 18 de junho.

Escândalo da Covaxin se aproxima de Barros e Bolsonaro

Em depoimento à CPI da Pandemia na última sexta-feira, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que Bolsonaro, ao ser informado por ele sobre suspeitas de irregularidades na compra da Covaxin, mencionou que Barros estaria envolvido no caso.

Hoje líder do governo na Câmara, Barros foi ministro da Saúde no governo Michel Temer e tem seu nome envolvido em uma série de polêmicas. Em discurso em abril, Barros cobrou abertamente mais agilidade da Anvisa para autorizar o uso de vacinas como a Covaxin e a Sputnik V.

Em suas redes sociais, Barros, aliado próximo do presidente, negou que tenha participado de qualquer negociação relacionada à compra da Covaxin. "Não sou esse parlamentar citado. A investigação provará isso", escreveu o deputado.

A implicação de Barros na CPI será explorada no próximo mês pelos senadores, que pretendem reunir mais informações sobre a compra da Covaxin e discutem informar o Supremo Tribunal Federal (STF) de indícios de que Bolsonaro teria cometido o crime de prevaricação ao não determinar a investigação do caso após ter sido avisado.

Deputados também consideram incluir a acusação de prevaricação em um novo pedido de impeachment do presidente elaborado por uma articulação de diversos partidos e movimentos sociais que será protocolado na Câmara na próxima quarta.

lf/as (DW, ots)

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