Brasil teve 4 ex-presidentes presos desde a redemocratização
5 de agosto de 2025
Decisão contra Bolsonaro marca quarta prisão de um ex-presidente do Brasil desde 1985. Também integram a lista Fernando Collor, Michel Temer e Lula. Relembre as sagas judiciais e as decisões que motivaram as prisões.
Michel Temer e Bolsonaro em fotografia de 2018. Meses depois, o primeiro seria preso duas vezes. Já Bolsonaro teve prisão domiciliar decretada em 2015Foto: picture alliance/AP Images/E. Peres
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Jair Bolsonaro se tornou na terça-feira (05/08) o quarto ex-presidente do Brasil a ser preso desde a redemocratização em 1985. Ele teve a prisão domiciliar decretada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), após descumprir medidas cautelares impostas no âmbito do julgamento da trama golpista.
Nos últimos quarenta anos, os ex-presidentes Fernando Collor de Mello, Luiz Inácio Lula da Silva (antes de ser reeleito para o terceiro mandato) e Michel Temer também já foram presos, sob diferentes condições e motivos. Dentre eles, apenas Collor cumpre pena atualmente. Desde maio, ele está em prisão domiciliar.
Em contrapartida, são quatro os ex-presidentes que não foram presos desde o fim da ditadura militar: Dilma Rousseff, Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco e José Sarney.
Dilma foi presa e torturada pela ditadura nos anos 1970. A petista foi anistiada em maio deste ano por decisão unânime da Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Relembre as sagas judiciais vividas pelos antigos chefes de Estado e o por quê das suas prisões.
Jair Bolsonaro (PL), 2025
Jair Bolsonaro enfrenta acusações por suposto envolvimento em trama golpista de 2024Foto: Leandro Chemalle/ZUMA/picture alliance
Um dos principais réus no julgamento da trama golpista de 2022-2023, o ex-presidente foi preso nesta semana após ter violado medidas cautelares por meio de mensagens divulgadas nos perfis em mídias sociais de aliados no último domingo. Ele havia sido proibido de usar as redes e transmitir áudios ou vídeos, mesmo que por terceiros.
Um dia antes de ser preso, Bolsonaro, que liderou o Executivo de 2019 a 2022, fez um breve discurso a apoiadores reunidos num ato bolsonarista em Copacabana, no Rio de Janeiro, por meio de uma ligação telefônica com o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro. Ele também participou de uma videochamada com o deputado federal Nikolas Ferreira em São Paulo.
Outras mensagens relacionadas ao ex-presidente foram publicadas ao longo do domingo nos perfis de Carlos e Eduardo Bolsonaro, também seus filhos e parlamentares. Protestos bolsonaristas aconteciam em diversas capitais naquele dia.
As publicações, para Moraes, continham "claro conteúdo de incentivo e instigação a ataques ao Supremo Tribunal Federal e apoio ostensivo à intervenção estrangeira no Poder Judiciário brasileiro".
Em prisão domiciliar, Bolsonaro está agora proibido de receber visitas, com exceção de seus advogados ou familiares autorizados pelo STF. Ele teve o próprio celular retirado pela Polícia Federal e não pode acessar outros aparelhos.
O ex-presidente enfrenta acusações cujas penas, somadas, chegam a mais de 40 anos de prisão.
Fernando Collor de Mello (PTB), 2023
Collor de Mello, senador depois de ocupar a Presidência, permanece em prisão domiciliarFoto: EVARISTO SA/AFP
Presidente entre 1990 e 1992, Collor foi condenado pelo STF em maio de 2023, em um processo que teve origem na Operação Lava Jato. Para os magistrados, o ex-presidente posteriormente eleito senador fez indicações políticas para a BR Distribuidora, então estatal subsidiária da Petrobras, enquanto dirigente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
Ele teria recebido R$ 20 milhões em vantagens indevidas em contratos da empresa, entre 2010 e 2014.
Uma vez rejeitados os recursos da defesa, ele foi levado em abril a um presídio em Maceió, no estado de Alagoas, para cumprir pena de 8 anos e 10 meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
No entanto, seis dias depois, em maio, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, emitiu parecer favorável a um pedido de prisão domiciliare o ex-presidente passou a cumprir pena em casa. A defesa alegou que Collor, de 75 anos, tem idade avançada e sofre de problemas de saúde crônicos, incluindo doença de Parkinson, transtorno afetivo bipolar e apneia do sono. Ele, agora, usa tornozeleira eletrônica e só pode receber visitas dos seus advogados.
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Michel Temer (MDB), 2019
Michel Temer já entrou na mira de vários inquéritos, mas nunca foi condenadoFoto: REUTERS/U. Marcelino
Em março de 2019, Temer teve a prisão preventiva decretada por ordem do juiz federal Marcelo Bretas. A decisão aconteceu no âmbito da Operação Descontaminação, que investigava crimes de cartel, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e fraudes à licitação na construção da usina nuclear Angra 3.
Ele seria solto quatro dias depois e, em seguida, voltaria à prisão por mais seis dias em maio. A soltura decorreu de decisão favorável da Sexta Turma do STJ, sob o argumento de que não havia delito recente que justificasse a sua prisão preventiva.
Temer e o coronel João Baptista Lima, apontado como operador financeiro do ex-presidente, foram denunciados por supostos desvios na construção da unidade de geração de energia chegando a R$ 1,6 bilhão, em decorrência de diferentes esquemas.
O ex-presidente foi acusado dos crimes de corrupção passiva, peculato (quando funcionário público tira vantagem do cargo) e lavagem de dinheiro. Havia outros 11 réus envolvidos.
A denúncia que o levou à prisão seria anulada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região em 2023.
Tendo ocupado a Presidência de maio de 2016 — após o impeachment de Dilma — até o fim de 2018, Temer foi alvo de outros vários inquéritos. Mas nunca foi condenado e, portanto, segue em liberdade.
Michel Temer em 2019 na sede da PF no Rio de JaneiroFoto: Reuters/R. Moraes
Lula (PT), 2018
Num caso que se tornou marco político e jurídicono Brasil, o atual presidente do Brasil foi preso em abril de 2018 e permaneceu 580 noites preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, até novembro de 2019. À época na condição de ex-presidente, ele havia sido condenado em segunda instância a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro no processo de um apartamento triplex do Condomínio Solaris, no Guarujá (SP).
O petista foi o primeiro ex-presidente brasileiro a ir para a cadeia por um crime comum. A primeira sentença foi determinada, em julho de 2017, pelo então juiz federal Sergio Moroe seria, depois, ratificada pelo Tribunal Regional da 4ª região (TRF-4), que ainda aumentaria a pena para 12 anos e 1 mês de prisão.
Nas decisões, a Justiça considerou que Lula recebera vantagem indevida da construtora OAS, no valor de R$ 3,7 milhões, na compra e reforma do imóvel, e ocultado ser o titular do imóvel. A empreiteira teria feito obras no imóvel em questão como pagamento de propina, após o petista tê-la supostamente favorecido em contratos com a Petrobras.
Lula ao chegar na sede da PF em Curitiba em 2018Foto: picture-alliance/Zuma/G. Bubniak
Após um ano e sete meses de prisão, Lula foi solto após o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubar, por seis votos a cinco, a possibilidade de um condenado começar a cumprir pena antes de esgotados todos os recursos. À época, ele tinha recursos pendentes tanto no Superior Tribunal de Justiça (STJ) quanto no STF.
Dois anos mais tarde, em 2021, o STF confirmaria a anulação das condenações de Lula no caso do triplex e dois outros, alegando que elas não se enquadravam no contexto da Operação Lava Jato e, portanto, não eram da competência da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR), que havia condenado o então ex-presidente em primeira instância.
Vinte dias depois, a Segunda Turma do Supremo também decidiu que Moro havia sido parcial em seu julgamento de Lula e que, portanto, o processo deveria recomeçar do zero.
Com isso, Lula pode concorrer em 2022 ao seu terceiro mandato, que exerce desde janeiro de 2023. Antes, ele fora presidente entre 2003 e 2010.
ht (DW, Agência Brasil, Agência Senado, ots)
Ex-presidentes latino-americanos que já foram presos
A prisão domiciliar de Bolsonaro não é um caso isolado na América Latina. Mais de uma dúzia de líderes de outros países da região, como Argentina, Honduras, Peru e Panamá também enfrentaram problemas com a Justiça.
Foto: Alan Santos/Brazilian Presidency/REUTERS
Jair Bolsonaro (Brasil)
Acusado de liderar uma trama golpista após a eleição de 2022 e réu em diferentes ações na Justiça, o ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) teve decretada prisão domiciliar em agosto de 2025 após ser acusado de violar medidas cautelares impostas pelo Supremo, como a proibição de usar redes sociais.
Foto: Evaristo Sa/AFP
Michel Temer (Brasil)
Presidente entre maio de 2016 até o fim de 2018, Michel Temer foi preso em março de 2019, poucos meses depois de deixar o cargo, no âmbito de um desdobramento da Lava Jato. Foi solto quatro dias depois, mas voltou a ser preso por mais seis dias em maio de 2019. O caso foi posteriormente anulado pela Justiça.
Foto: Imago Images/Agencia EFE/F. Bizerra Jr
Fernando Collor (Brasil)
Presidente entre 1990 e 1992, Collor foi condenado por corrupção pelo Supremo em maio de 2023, em um processo que teve origem na Operação Lava Jato. Em abril de 2025, foi levado a um presídio em Maceió, no estado de Alagoas, para cumprir pena de 8 anos e 10 meses de prisão. Seis dias depois, passou a cumprir pena em casa.
Foto: EVARISTO SA/AFP
Lula (Brasil)
Lula, que governou o Brasil entre 2003 e 2010, passou 580 dias na prisão entre abril de 2018 e novembro de 2019, após ser condenado por corrupção. Em março de 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as duas sentenças por irregularidades processuais cometidas pelo Ministério Público e pelo juiz do caso. Assim, conseguiu disputar a eleição de 2022, na qual derrotou Jair Bolsonaro.
Foto: Reuters/R. Buhrer
Cristina Kirchner (Argentina)
Ex-presidente da Argentina (2007-2015) e ex-vice (2019-2023), Cristina Kirchner teve em junho de 2025 uma pena de seis anos de prisão por corrupção confirmada pela Suprema Corte. No mesmo mês, começou a cumprir prisão domiciliar - a a lei argentina que prevê essa possibilidade para pessoas com mais de 70 anos.
O presidente argentino Carlos Menem (1989-1999) enfrentou diversos processos. Em seu primeiro julgamento, em 2008, foi acusado de tráfico de armas para o Equador e a Croácia entre 1991 e 1995. Passou seis meses em prisão domiciliar preventiva em 2001, e foi solto depois que a Justiça anulou as acusações. A partir de 2005, teve imunidade como senador, cargo que ocupou até sua morte em 2021
Foto: Ricardo Ceppi/Getty Images
Jeanine Áñez (Bolívia)
Jeanine Áñez assumiu a presidência interina da Bolívia em 12 de novembro de 2019 como segunda vice-presidente do Senado, dois dias após a renúncia de Evo Morales. Ela foi detida em 13 de março de 2021, e numa decisão polêmica, um tribunal a condenou a 10 anos de prisão pelos crimes de violação de deveres e resoluções contrárias à Constituição. Em agosto de 2025, ele continuava presa
Foto: Juan Karita/AP Photo/picture alliance
Ricardo Martinelli (Panamá)
Ricardo Martinelli, que governou o Panamá de 2009 a 2014, foi preso em junho de 2017 na Flórida. No ano seguinte, foi extraditado para ser julgado em seu país num caso sobre escutas ilegais, do qual foi posteriormente absolvido. Em 2019, foi solto. Em 2024, no entanto, voltou a ser condenado em outro caso e no mesmo ano se abrigou numa embaixada. Em agosto de 2025, vivia como asilado na Colômbia.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Franco
Juan Orlando Hernández (Honduras)
O ex-presidente hondurenho Juan Orlando Hernández (2014-2022) foi extraditado para os Estados Unidos em abril de 2022, onde foi acusado de conspiração para importar cocaína, posse de metralhadoras e armas pesadas e conspiração para possuir tais armas. Em 2024, foi condenado a 45 anos de prisão. Em agosto de 2025, ele seguia detido em uma penitenciária dos EUA
Foto: Andy Buchanan/AFP
Antonio Saca (El Salvador)
Presidente de El Salvador entre 200e e 2009, Antonio "Tony" Saca foi condenado a 10 anos de prisão em 2018 após se declarar culpado por desviar mais de US$ 300 milhões em fundos públicos durante seu mandato. Em agosto de 2025, ele estava cumprindo pena na prisão La Esperanza, em El Salvador.
Foto: Rodrigo Sura/Agencia EFE/IMAGO
Otto Pérez Molina (Guatemala)
General aposentado que governou a Guatemala de 2012 a 2015, Otto Pérez Molina foi preso um dia depois de renunciar ao cargo. Ele foi condenado a 16 anos de prisão por liderar uma rede milionária de fraudes alfandegárias. Ele deixou a prisão em 2024 após pagar fiança.
Foto: Luis Vargas/AA/picture alliance
Álvaro Uribe (Colômbia)
Acusado de fraude processual e suborno, o ex-líder colombiano Álvaro Uribe (2002-2010) ficou 67 dias na prisão em 2020 "devido a possíveis riscos de obstrução da Justiça". Em julho de 2025, foi condenado a 12 anos de detenção, a serem cumpridos em prisão domiciliar.
Foto: Long Visual Press/LongVisual/ZUMA Press/picture alliance
Alberto Fujimori (Peru)
Alberto Fuijimori, que governou o Peru entre 1990 e 2000, deu um autogolpe em 1992. Seu governo foi marcado por vários casos de corrupção. Em 2005, foi preso no Chile e depois extraditadi. Posteriormente, foi condenado a 25 anos de prisão por homicídio qualificado, usurpação de funções, corrupção e espionagem, além de desvio de fundos. Em 2023, foi solto. Fujimori morreu no ano seguinte.
Foto: Martin Mejia/AP/picture alliance
Pedro Castillo (Peru)
Pedro Castillo, destituído da presidência do Peru após ter ordenado a dissolução do Parlamento em dezembro de 2022, foi detido e levado ao presídio de Barbadillo. Às acusações de corrupção que já enfrentava, o Ministério Público acrescentou a do alegado crime de rebelião "por violação da ordem constitucional". Em agosto de 2025, o ex-presidente seguia detido.
Foto: Renato Pajuelo/AP/picture alliance
Pedro Pablo Kuczynski (Peru)
Presidente do Peru de 2016 até sua renúncia em 2018 na esteira de um processo de impeachment, Pedro Pablo Kuczynski foi alvo de prisão preventiva em 2019 no âmbito do escândalo Odebrecht. Alegando problemas de saúde, passou a cumprir a medida em casa. Em agosto de 2025, ainda cumpria várias medidas cautelares, como proibição de deixar o país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Mejia
Ollanta Humala (Peru)
Ollanta Humala (2011-2016) completou seu mandato presidencial no Peru, mas, um ano depois, foi colocado em prisão preventiva. Ele e a esposa foram investigados pelo suposto recebimento ilegal de dinheiro da Odebrecht. Em abril de 2018, o Tribunal Constitucional do Peru revogou a prisão. Em 2021, se candidatou novamente à Presidência, mas recebeu apenas 1,5% dos votos. Em 2025, voltou a ser preso.
Foto: El Comercio/GDA/ZUMA Press/picture alliance
Alejandro Toledo (Peru)
Presidente do Peru entre 2001 e 2006, Alejandro Toledo foi condenado em outubro de 2024 a 20 anos e seis meses de prisão por corrupção. Detido nos EUA em 2023 e extraditado no mesmo ano, ele cumpria pena no Peru em agosto de 2025.
Foto: Guadalupe Pardo/AP/picture alliance
Martín Vizcarra (Peru)
Martín Vizcarra foi o sexto ex-presidente do Peru a se somar à lista de presos. Ele governou o Peru entre 2018 até 2020, quando foi afastado em meio a um processo de impeachment. Sua prisão preventiva em agosto de 2025 envolveu suspeita de risco de fuga em meio a um processo de crime de suborno.