Além de poluição, correnteza é desafio para provas no Sena
Johan Brockschmidt
17 de julho de 2024
Prefeita de Paris mergulha no Sena para mostrar que rio está limpo para receber competições dos Jogos Olímpicos. Atletas, no entanto, apontam outro empecilho para a realização das provas.
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Provas de natação de longa distância no pitoresco Sena com vista para a Torre Eiffel. Em teoria, o ambiente parece ideal. Mas, para muitos atletas, é um pesadelo de planejamento.
"É desesperador para os atletas e para os técnicos que têm de preparar tudo", disse o técnico da seleção alemã de natação, Bernd Berkhahn, semanas antes do início dos Jogos Olímpicos de Paris, que começam em 26 de julho e vão até 11 de agosto. O maior obstáculo no momento: a velocidade ainda muito alta da correnteza do rio.
"Não é um problema nadar com a correnteza, o problema é o caminho de volta", explica Florian Wellbrock, medalhista de ouro da maratona aquática nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2021, à DW. "Nas condições atuais, é impossível realizar uma competição no Sena."
O percurso planejado para a maratona aquática vai da Ponte Alexandre 3° até a Ponte de l’Alma. A distância entre as duas pontes no centro de Paris, entre as quais será nadado percursos de ida e volta, é de cerca de um quilômetro.
A única competição olímpica em águas abertas ou maratona aquática cobre a distância de 10 quilômetros para homens e mulheres. Se ela realmente ocorrer no Sena, metade da distância, ou seja, cinco quilômetros, terá de ser percorrida contra a correnteza. Com base nos tempos vencedores de Tóquio – 1h48 para os homens e 1h59 para as mulheres – os atletas nadam contra a correnteza por cerca de 50 a 60 minutos.
O rio está fluindo atualmente a uma velocidade de 1,2 metro por segundo. Em média, um nadador de águas abertas se move cerca de 1,6 metro por segundo, sem uma contracorrente. Na velocidade atual da água, eles só conseguiriam se mover 40 centímetros por segundo contra a corrente. No caso de nadadores de longa distância, seriam, em uma velocidade média "normal" de 1,4 metro por segundo, apenas 20 centímetros.
Prefeita nada no Sena
Durante muito tempo, a má qualidade da água do Sena também foi um grande problema. No verão europeu de 2023, o ensaio geral da prova de natação em águas abertas teve que ser cancelado. Na época, foi detectada a presença de grandes quantidades de coliformes fecais no rio parisiense. No entanto, há esperança nesse ponto.
Um porta-voz da cidade de Paris disse, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos, que o Sena já estará limpo o suficiente
para sediar competições de natação em "onze ou dez" dias. Nesta quarta-feira (17/07), a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e o presidente do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, Tony Estanguet, nadaram no Sena, num ato simbólico para mostrar que o rio está limpo o suficiente para a competição.
"A água é muito, muito boa. Um pouco fria, mas não tão ruim", disse Hidalgo ao sair do Sena.
As autoridades francesas investiram cerca de 1,4 bilhão de euros em novas estações de tratamento de águas residuais e sistemas de esgoto. Se a qualidade da água não for boa o suficiente nas datas das competições, as provas poderão ser adiadas por alguns dias.
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Curso de remo como alternativa
"Originalmente, os nadadores foram informados de que não havia um local alternativo ao Sena", disse o técnico alemão Bernd Berkhahn. Mas, aparentemente, agora há: o trajeto onde será realizada a regata de remo em Vaires-sur-Marne, a cerca de 20 quilômetros de Paris. "A comunicação foi como uma montanha-russa com muitos altos e baixos", disse o astro da natação Florian Wellbrock. Ele está satisfeito com o fato de haver uma alternativa ao Sena e de a competição poder ser realizada de qualquer forma.
No entanto, Berkhahn ressalta que uma prova de natação no rio e um percurso de regata são duas "coisas completamente diferentes". A temperatura da água é diferente, assim como o vento e os limites. "Para os atletas, é terrível não saber o que está por vir e como se preparar mentalmente para a corrida."
Se pudesse escolher, o alemão Oliver Klemet preferiria o percurso de remo ao rio Sena. "Se mudarmos o local da prova, será mais fácil para nós", disse o nadador de águas abertas de 22 anos à DW. "Nadar em um rio é muito mais difícil do que no mar", compara, se referindo ao ambiente onde são realizadas muitas provas de longa distância.
"A mais difícil de todos os tempos"
De acordo com o campeão olímpico Wellbrock, não importa onde ele pulará na água. Mas uma coisa é certa, segundo o nadador de 26 anos: "Esta prova será a maratona aquática mais difícil de todos os tempos. Vai depender muito do preparo."
E foi uma preparação diferente. Devido às condições esperadas em Paris, Berkhahn treinou os atletas para nadar contra a corrente. "Força e resistência são o foco do treinamento. Por isso, vamos nadar mais com os braços."
Para simular a contracorrente, os atletas usaram os chamados "calções de freio". Trata-se de um calção com uma superfície semelhante a uma rede, que é vestido sobre a sunga, aumentando assim a resistência na água. Como alternativa, os nadadores puxaram um paraquedas pela água.
As próximas semanas mostrarão se esse tipo de preparação foi realmente necessário. Afinal de contas, se a chuva diminuir, o Sena fluirá mais lentamente. Portanto, os deuses do clima provavelmente darão a última palavra.
As mascotes dos Jogos Olímpicos
Os Jogos tiveram mascotes a partir de 1972, em Munique. Animais e figuras reais ou fantasiosas representam cada edição e motivam atletas e espectadores.
Foto: kyodo/dpa/picture alliance
Munique 1972: cão-salsicha Waldi
A primeira mascote da história dos Jogos Olímpicos foi o dachshund (cão-salsicha) Waldi. O famoso designer alemão Otl Aicher, que o concebeu para Munique 1972, escolheu esta raça canina porque ela se caracteriza pela resistência, tenacidade e agilidade, atributos importantes dos atletas.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Weigel
Montreal 1976: o castor Amik
O castor preto Amik representa, para os canadenses, trabalho árduo. O nome significa castor na língua algonquin, a mais difundida entre os indígenas canadenses. A escolha pelo animal, nativo do Canadá, se deveu a características importantes para um atleta: paciência e trabalho duro para construir as barragens onde vive.
Foto: Sven Simon/imago
Moscou 1980: o urso Misha
Em 1980, os Jogos em Moscou tiveram o animal nacional da Rússia como mascote. Ele foi concebido pelo caricaturista e ilustrador de livros infantis russo Viktor Chizhikov, que alcançou fama internacional com Misha. A imagem da mascote chorando na cerimônia de encerramento emocionou o mundo.
Foto: Sven Simon/imago
Los Angeles 1984: a águia Sam
Outro animal símbolo nacional: a águia Sam. Idealizado pelo desenhista Robert Moore, dos estúdios Disney, o animal tinha um chapéu cartola e gravata borboleta nas cores da bandeira dos Estados Unidos.
Foto: Tony Duffy/Getty Images
Seul 1988: o tigre Hodori
Nos Jogos na capital da Coreia do Sul, o escolhido foi o tigre Hodori, um animal enraizado na cultura e mitologia coreanas, e que representa vigor e espírito de luta. Em sua cabeça, a mascote usa um sangmo, chapéu típico de músicos populares sul-coreanos. Seu criador foi Kim Hyun. O nome é uma mistura de horangi, que significa tigre, e dori, diminutivo de garoto.
Foto: Sven Simon/imago
Barcelona 1992: o cão pastor Cobi
A mascote espanhola idealizada pelo designer Javier Mariscal no estilo do cubismo foi uma homenagem ao pintor espanhol Pablo Picasso. O nome vem do comitê organizador dos Jogos de Barcelona.
Foto: Pressefoto Baumann/imago
Atlanta 1996: Izzy
Izzy foi a primeira mascote olímpica que não representava um animal típico do país. O designer americano John Ryan criou uma criatura puramente imaginária. O difícil era dizer do que se tratava, tanto que o nome é uma abreviação de "Whatizit", forma informal da pergunta "What’s it?" (O que é isso?, em inglês).
Foto: Michel Gangne/AFP/Getty Images
Sydney 2000: Olly, Syd e Millie
Pela primeira vez, os Jogos tiveram três mascotes numa edição. Criadas pelo designer Matthew Harton, elas representam animais nativos australianos. Olly, cujo nome vem de Olimpíada, é um pássaro kookaburra; Syd, versão reduzida de Sydney, é um ornitorrinco; e Millie, batizada em homenagem ao novo milênio, é um equidna, espécie de porco-espinho.
Foto: Arne Dedert/dpa/picture-alliance
Atenas 2004: Athena e Phevos
As mascotes dos Jogos Olímpicos de Atenas foram uma homenagem à mitologia grega. Athena e Phevos receberam os nomes de irmãos do Olimpo. Athena era a deusa da sabedoria e deu o nome à cidade onde se realizaram os Jogos. Phevos era o outro nome de Apolo, deus da luz e da música. A inspiração para o desenho, feito por S. Gogos, foi uma "aitala", boneca de terracota encontrada em escavações.
Foto: Alexander Hassenstein/Bongarts/Getty Image
Pequim 2008: Beibei, Jingjing, Huanhuan, Yingying e Nini
Os Jogos na capital chinesa tiveram cinco mascotes, cada um numa cor dos anéis olímpicos: Beibei, um peixe; Jingjing, um panda; Huanhuan, o fogo olímpico; Yingying, um antílope tibetano; e Nini, uma andorinha. Os nomes foram derivados de "Beijing huanying ni", que significa "Pequim lhe dá as boas-vindas".
Foto: Kazuhiro Nogi/AFP/Getty Images
Londres 2012: Wenlock e Mandeville
Wenlock e Madeville – esta última mascote dos Jogos Paralímpicos – lembram gotas de aço. Elas têm na cabeça um escudo laranja que lembra os sinais luminosos sobre os táxis ingleses. O olho, uma câmera, simboliza a era digital. Um nome vem de Much Wenlock, que teria inspirado o Barão de Coubertin a criar os Jogos da Era Moderna, e o outro vem de Stoke Mandeville, berço do Movimento Paralímpico.
Foto: Julian Finney/Getty Images
Rio 2016: Vinícius e Tom
A mascote Vinícius é uma mistura de macaco e gato selvagem e representa a fauna brasileira. Já a mascote paralímpica Tom combina várias plantas e representa a flora brasileira. Os nomes foram inspirados em Vinícius de Moraes e Tom Jobim.
Foto: Sebastiao Moreira/dpa/picture alliance
Tóquio 2020: Miraitowa e Someity
Miraitowa significa "futuro" (mirai) e "eternidade" (towa), em japonês. O projeto do artista Ryo Taniguchi foi escolhido por estudantes japoneses e combina futurismo com o tradicional estilo mangá. Já Someity, mascote dos Jogos Paralímpicos, mistura o termo "Someiyoshino", um tipo popular de flor de cerejeira, e a expressão "so mighty" (tão poderoso, em inglês).
Foto: picture-alliance/Kyodo/Maxppp
Paris 2024: os barretes Les Phryges
As mascotes dos Jogos de Paris também vêm em dupla: Les Phryges, em versão olímpica e paralímpica. Sua forma é inspirada no barrete frígio, "uma peça de vestuário que é um simbolo de liberdade, tem sido parte de nossa história há séculos e data a tempos remotos", "um símbolo de revoluções" e onipresente na França, explica o website do evento.