Ala da AfD é enquadrada como extremista no leste alemão
12 de julho de 2023
Agentes da Proteção da Constituição afirmam que juventude do partido no estado de Brandemburgo atua como organização extremista de direita. Partido afirma que vai recorrer.
Na prática, essa classificação pode comprometer a empregabilidade de militantes da organização junto a órgãos públicos ou a capacidade dessas pessoas de obterem porte de armas de fogo. Também significa que os agentes à frente da investigação terão mais poderes para colher provas contra a Junge Alternative.
A decisão se soma à de outros estados alemães que já chegaram à mesma conclusão a respeito da Junge Alternative, mas ainda não tem alcance nacional – em abril, a Proteção da Constituição estendeu a classificação a todos os escritórios na Alemanha da Junge Alternative, mas teve que recuar temporariamente porque o caso está em disputa judicial.
Os militantes estavam sob investigação dos agentes em Brandemburgo desde 2019. O próprio diretório estadual da AfD é monitorado como caso suspeito desde 2020. Pelas contas do órgão, Brandemburgo tinha no ano passado 730 extremistas de direita dentro da legenda e outros 90 dentro da militância jovem.
A Junge Alternative é presidida desde outubro do ano passado por um político com assento no Bundestag – o Parlamento Federal –, Hannes Gnauck. Ele e outros membros da militância jovem mantêm contatos com um instituto no estado da Saxônia-Anhalt acusado pelos agentes de manter "esforços extremistas" – ou seja, cometer atos com vistas a aniquilar valores fundamentais da ordem liberal-democrática. A investigação de parlamentares com mandato constituído pelos agentes de Proteção da Constituição, porém, só é autorizada em casos excepcionais.
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AfD vai contestar decisão na Justiça
Ao anunciar a decisão nesta quarta-feira (12/07), o secretário para assuntos internos do estado de Brandemburgo Michael Stübgen afirmou que as posições da Junge Alternative (alternativa jovem, na tradução para o português) contradizem claramente a Constituição Federal e que isso teria sido verificado repetidas vezes em circunstâncias concretas. Por este motivo, explicou o político democrata-cristão, a organização representa um "perigo" para a juventude, a segurança pública e o regime democrático e de liberdades.
O diretório do partido em Brandemburgo, chefiado por Birgit Bessin, anunciou que levará o caso à Justiça. Bessin sugeriu que a ação "descarada" contra a Junge Alternative seria motivada pela falta de provas contra o diretório da AfD.
O Departamento Federal de Proteção da Constituição funciona como um serviço secreto voltado apenas para assuntos internos que possam ameaçar a ordem democrática alemã, o Estado de Direito e os direitos humanos – é o caso, por exemplo, de organizações possivelmente extremistas que atuam dentro do país.
São eles: Partido Social-Democrata (SPD), União Democrata Cristã (CDU), União Social Cristã (CSU), Partido Liberal Democrático (FDP), Alternativa para a Alemanha (AfD), Verdes, Esquerda e Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
Foto: picture-alliance/dpa
União Democrata Cristã (CDU)
Fundada em 1945, a CDU se considera "popular de centro". Seus governos predominaram na política alemã do pós-guerra. O partido soma em sua história cinco chanceleres federais, entre eles Helmut Kohl, que governou por 16 anos e conduziu o país à reunificação em 1990, e Angela Merkel, a primeira mulher a assumir o cargo, em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Dedert
Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD)
Integrante da Internacional Socialista, o SPD é uma reconstituição da legenda homônima fundada em 1869 e identificada com as classes trabalhadoras. Na Primeira Guerra, ele se dividiu em dois partidos, ambos proibidos em 1933 pelo regime nazista. Recriado após a Segunda Guerra, o SPD já elegeu quatro chanceleres federais: Willy Brandt, Helmut Schmidt, Gerhard Schröder e Olaf Scholz.
Foto: Thomas Banneyer/dpa/picture alliance
União Social Cristã (CSU)
Igualmente fundada em 1945, a CSU só existe na Baviera, onde a CDU não conta com diretório local. Os dois partidos são considerados irmãos. A CSU tem como objetivo um Estado democrático e com responsabilidade social, fundamentado na visão cristã do mundo e da humanidade. Desde 1949, forma no Bundestag uma bancada única com a CDU.
Foto: Peter Kneffel/dpa/picture alliance
Aliança 90 / Os Verdes (Partido Verde)
O partido Os Verdes surgiu em 1980, após três anos participando de eleições como chapa avulsa, defendendo questões ambientais e a paz. Em 1983, conseguiu formar uma bancada no Bundestag. Oito anos depois, o movimento Aliança 90 se fundiu com ele. Em 1998 participou com o SPD pela primeira vez do governo federal.
Foto: Christophe Gateau/dpa/picture alliance
Partido Liberal Democrático (FDP)
O Partido Liberal Democrático (FDP, na sigla em alemão) foi criado em 1948, inspirado na tradição do liberalismo e valorizando a "filosofia da liberdade e o movimento pelos direitos individuais". O partido é tradicionalmente um membro minoritário de coalizões de governo federais
Foto: Hannes P Albert/dpa/picture alliance
A Esquerda (Die Linke)
Die Linke (A Esquerda, em alemão) surgiu da fusão, em 2007, de duas agremiações esquerdistas: o Partido do Socialismo Democrático (PDS), sucessor do Partido Socialista Unitário (SED) da extinta Alemanha Oriental, e o Alternativa Eleitoral por Trabalho e Justiça Social (WASG, criado em 2005, aglutinando dissidentes do SPD e sindicalistas).
Foto: DW/I. Sheiko
Alternativa para a Alemanha (AfD)
Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam por falas incendiárias, a legenda tem vários diretórios classificados oficialmente como "extremistas" pelas autoridades
Foto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
Aliança Sahra Wagenknecht (BSW)
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW) é um partido fundado em janeiro de 2024 pela mulher que lhe dá o nome, uma ex-parlamentar do partido Die Linke (A Esquerda) que defende uma mistura de política econômica de esquerda e retórica social de direita. Nas suas primeiras eleições, o partido tomou boa parte do espaço que era ocupada pela Esquerda.
Foto: Anja Koch/DW
Os pequenos
Há numerosos partidos menores na Alemanha, como Os Republicanos (REP) e o Heimat (Pátria), ambos de extrema direita, ou o Partido Marxista-Leninista (MLPD), de extrema esquerda. Outros defendem causas específicas, como o Partido dos Aposentados, o das mulheres, dos não eleitores, ou de proteção dos animais. E mesmo o Violetas, que reivindica uma política espiritualista.