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Alemânico: na ponta da língua de seis países

Gernot Jäger (sm)

De Karlsruhe até a Suíça, na Floresta Negra, na Alsácia, além de partes de Liechtenstein, Áustria e Itália: regiões compartilham o mesmo dialeto, mas isso não quer dizer que todos necessariamente se entendam.

Moradora da Floresta Negra: em vilarejos da região também se fala alemânico
Moradora da Floresta Negra: em vilarejos da região também se fala alemânicoFoto: Hans-Jörg Haas

No sudoeste da Alemanha, sobretudo em certas partes do estado de Baden-Württemberg, pêssego é "Pfirschig" e não "Pfirsich". Em algumas comunidades de língua alemã na região francesa da Alsácia, a manteiga não é palavra feminina, mas masculina: "der Butter" em vez de "die Butter".

No principado de Liechtenstein e na região austríaca de Voralberg, por sua vez, as pessoas não conversam ("reden"), mas (diz-se que) tagarelam ("schwatzen"). E, na Suíça alemã e em alguns pontos da Itália, onde também se fala o dialeto alemânico (Alemannisch), como nos outros lugares já citados, diz-se "ne‘ schöne Sonntig!" para se desejar um bom domingo, em vez de "einen schönen Sonntag". Como se vê, o alemânico pode ser considerado um dialeto europeu.

Todo domingo, os feirantes armam suas barracas à sombra da Catedral de Freiburg, de manhã bem cedinho. Empilham suas caixas de legumes, frutas e verduras; penduram o toicinho e o presunto defumado nos ganchos; atraem os passantes com o aroma de pão fresco e queijo temperado. Aqui só se fala alemânico.

"Ich will des einfach au pflege. Aber je näher, dass d´ Leit bei Freiburg wohnet, desto stärker verlieret sie den Dialekt" ("Quero simplesmente cultivá-lo. Mas quanto mais perto de Freiburg as pessoas moram, mais vão perdendo o dialeto"), lamenta Christian Wisser (30), um alemão do Glottertal. Lá onde ele nasceu e vive, ainda se fala alemânico, assim como em certas áreas da Floresta Negra e da região de Kaiserstuhl.

Nos centros urbanos, as pessoas ainda sabem apreciar as especialidades regionais, como a aguardente de cereja ou pêra, os pães assados em forno a lenha – todas essas coisas que os camponeses trazem toda semana às feiras da cidade. Mas, para Christian, cultivar a tradição é mais do que isso.

"É só ver os meus afilhados que estão no jardim da infância, por exemplo. Já começaram a misturar elementos da língua padrão. Aí, fico pensando: 'Menino de Deus, você já não é mais dos meus: você fala alemão, e eu, dialeto'."

Dialeto falado em seis países

Mas como assim? Freiburg, Floresta Negra, Glottertal – tudo isso fica na região de Baden. E em Baden se fala um dialeto próprio, o Badisch, ou não? Que história é essa de alemânico? Para isso, só mesmo consultando um especialista.

"O alemânico é falado na Alsácia, na região ao sul de Karlsruhe até Lech, portanto na Suíça, além de Liechtenstein e da Áustria. Incluindo algumas pequenas ilhas linguísticas na Itália, são seis países ao todo", diz o linguista Rudolf Post, da Universidade de Freiburg.

Catedral de Freiburg

De Karlsruhe até a fronteira suíça, em parte da Floresta Negra, ao leste até Villingen-Schwenningen, ao sul até o Lago Constança, as pessoas falam alemânico. Sendo assim, o alemão falado na Suíça (Schwyzerdytsch) também é alemânico. E, a bem da verdade, na Alsácia não se fala alsaciano, mas sim uma variação do alemânico.

Mas de onde vêm os alemânis, falantes deste dialeto? Na verdade, eles nunca constituíram um povo homogêneo, mas sim uma comunidade multiétnica que povoou a atual área de influência do dialeto nos primeiros séculos da nossa era.

Doze nomes diferentes para salada

"O alemânico é um dialeto relativamente antigo, que manteve algumas formas do médio alto alemão, como o 'u' longo em palavras como 'Huus' [Haus, casa] ou outras variantes igualmente antigas, como 'Bruader' para 'Bruder' [irmão]", explica Post.

Mas isso não quer dizer necessariamente que em Baden, na Alsácia, em Liechtenstein e na Suíça as pessoas se entendam perfeitamente. Muitas vezes elas têm dificuldades de compreensão. Inclusive dentro da própria Alemanha. Dependendo da região, a palavra "varrer" pode ser "fegen", "kehren" ou "schweifen". Uma verdura, como "Feldsalat", pode ter 12 nomes diferentes!

Vista da AlsáciaFoto: dpa

Diante da ameaça de extinção dos dialetos, há comunidades que se empenham em cultivá-los na escola. Na Alsácia, por exemplo, uma região disputada há séculos por franceses e alemães e desde a Segunda Guerra definitivamente pertencente à França, há municípios onde o dialeto faz parte do currículo escolar, além das duas línguas padrão.

Em Ingersheim, por exemplo, um lugarejo de 4500 habitantes entre Colmar e Kaysersberg, as crianças aprendem francês, alemão e o dialeto alsaciano. "Claro!", diz o prefeito Gérard Kronenberg. "Todas as crianças na escola, os alunos turcos, todo mundo aprende dialeto. Os marroquinos e outros imigrantes, todos aprendem a falar perfeitamente o alsaciano!"

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