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Alemã processa Google após fotos íntimas vazadas na internet

5 de setembro de 2025

Imagens foram roubadas da nuvem e aparecem na busca da plataforma com o nome da vítima. Depois de tentativa de remover conteúdo permanentemente ter falhado, jovem consegue ajuda para recorrer à Justiça.

A imagem mostra uma pessoa digitando em uma tela de computador que exibe a página de busca do Google
Caso na Europa levanta questões fundamentais sobre a proteção de dados dos usuários na internetFoto: Eibner Europa/imago

Um verdadeiro pesadelo: desconhecidos roubam fotos nuas e de sexo da nuvem privada de uma jovem alemã e as divulgam em sites pornográficos. E o pior: o conteúdo, que mostra ela e seu parceiro, pode ser encontrado até mesmo na busca do Google, que expõem seus nomes, pois um documento de identidade também estava na pasta que foi invadida pelos criminosos.

A mulher recorre então à HateAid, uma organização sem fins lucrativos que ajuda pessoas afetadas pelo ódio online e pela violência digital. Com a ajuda da organização, ela entra em contato com muitos dos sites correspondentes e também denuncia ao Google mais de 2.000 URLs que podem ser encontrados por meio da pesquisa de imagens do mecanismo de busca.

Embora o Google geralmente remova os resultados de pesquisa correspondentes, as imagens e os vídeos continuam a aparecer na internet e nos resultados de pesquisa da busca da plataforma, assim como deepfakes, ou seja, imagens geradas ou manipuladas com inteligência artificial (IA).

O caso levanta algumas questões fundamentais: até onde deve ir a proteção de dados na internet? Quais são os cenários mais ameaçadores para os usuários e como lidar com eles?

Imagens nunca destinadas à publicação

A vítima, que prefere se manter anônima na reportagem e é chamada de Laura no site HateAid, descobriu por acaso em 2023 que seus arquivos haviam sido roubados ao pesquisar seu próprio nome no Google.

Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, ela disse que, ao encontrar na internet fotos e vídeos íntimos que nunca foram destinados à publicação, sentiu-se quase como se tivesse sido violada. O incidente alterou toda a vida de Laura: ela se mudou, trocou de emprego e passou a sofrer de transtorno de estresse pós-traumático.

Depois de não ter conseguido, fora dos tribunais, que o Google retirasse permanentemente as imagens da pesquisa, Laura entrou com uma ação contra a empresa na Irlanda. Ela é apoiada pela  HateAid.

"Nós arcaremos com todos os custos do processo e também com todos os riscos futuros relacionados a esse assunto, pois pouquíssimas pessoas afetadas realmente podem se imaginar entrando com uma ação contra uma empresa como o Google por conta própria", explica a diretora executiva da organização, Josephine Ballon.

Ela espera que a decisão esclareça se os mecanismos de busca são legalmente obrigados a remover permanentemente dos resultados de busca uma imagem que já tenha sido denunciada, mesmo que ela seja republicada posteriormente em outro site.

Mesmo tendo enviado ao Google mais de 2.000 links de sites, imagens continuam sendo exibidasFoto: Silas Stein/dpa/picture alliance

O que se pode exigir do Google?

A especialista em proteção de dados e informática Marit Hansen afirma à DW que "há onze anos, o Tribunal Europeu de Justiça fez história na área da proteção de dados com a decisão sobre o direito ao esquecimento. O caso atual pretende dar continuidade a isso".

O direito ao esquecimento permite que uma pessoa exija a eliminação dos seus dados pessoais, desde que sejam cumpridas algumas condições.

Hansen, responsável pelo setor de proteção de dados do estado de Schleswig-Holstein, no norte da Alemanha, afirma que, de acordo com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) da União Europeia (UE) e o direito fundamental à proteção de dados, o uso dos dados pessoais deve permanecer controlável.

E que, segundo ela, portanto, "não é surpresa que isso gere obrigações para os provedores de mecanismos de busca em todo o mundo. Agora, entretanto, é preciso decidir precisamente até onde vão essas obrigações no que diz respeito às imagens". Mas será que filtrar resultados de pesquisa é tecnicamente viável? No caso de cópias exatas, em que todos os bits dos arquivos de imagem são idênticos, isso é relativamente fácil, de acordo com Hansen.

O que o Google sabe sobre você - e o que ele faz com isso?

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Por outro lado, segundo a especialista, a situação é mais complicada quando se trata de conteúdos "extremamente semelhantes", nos quais há pequenas diferenças em relação ao original, por exemplo, devido a cortes ou angulações diferentes e também a alterações feitas com a ajuda da IA.

"Essa questão está relacionada às possibilidades da pesquisa reversa de imagens, oferecida por vários provedores, incluindo o Google", explica Hansen.

Neste caso, as imagens são carregadas e o mecanismo de busca procura fotos similares – isso geralmente funciona, mas não é 100% confiável, pois também há muitos resultados incorretos.

Por isso, segundo a especialista, os provedores de mecanismos de busca poderiam argumentar que a precisão para a filtragem técnica de imagens praticamente idênticas ainda não é suficiente. No entanto, em princípio, plataformas como o Google deveriam ser responsabilizadas. Questionado, o Google ainda não respondeu à DW sobre o caso.

"Google lucra com a violência sexual contra as mulheres"

A HateAid vê no caso de Laura não apenas um exemplo de problemas de proteção de dados e privacidade na internet, mas também de violência sexualizada baseada em imagens contra mulheres e pessoas de gênero feminino. E do lucro que isso gera para empresas como o Google, já que "o mecanismo de busca torna o conteúdo acessível a um público amplo e lucra com os acessos", afirma Ballon.

"Principalmente mulheres e pessoas identificadas como mulheres frequentemente sofrem abuso devido ao vazamento de imagens íntimas. E também imagens e vídeos falsos são produzidos com a ajuda da inteligência artificial. Hoje em dia, teoricamente, basta uma foto de perfil do LinkedIn para que isso aconteça. Esse é um problema que afeta toda a sociedade e está crescendo. Vemos isso em nosso trabalho de aconselhamento às vítimas", explica Ballon.

Qualquer um pode sofrer

O fenômeno da violência sexual baseada em imagens é bastante conhecido, especialmente em relação a celebridades. Em 2014, por exemplo, houve um ataque hacker em grande escala a fotos privadas de artistas, predominantemente mulheres. Divulgadas online, foram nomeadas de "Celebgate".

Deepfakes de mulheres famosas como a cantora Taylor Swift ou a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, circularam pela internet. Mas o caso de Laura mostra que isso também pode acontecer com pessoas que não são figuras públicas.

Enquanto a campanha associada à ação judicial também tem como objetivo que a criação de tais deepfakes seja considerada crime, caso a pessoa retratada não tenha dado seu consentimento, o processo judicial deve obrigar o Google a proteger mais as vítimas. "Sem essa reivindicação, os afetados precisam passar a vida inteira procurando suas imagens para, então, solicitar manualmente a remoção delas. Isso é um estresse psicológico enorme que não deveria e não precisa existir", conclui Ballon.

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