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Alemães assumem comando político e militar no Kosovo

Bruno Taitson1 de setembro de 2006

Embaixador Joachim Rücker e general Roland Kather tomaram posse como comandantes da UNMIK e da KFOR, respectivamente, em um momento em que as negociações para redefinir o status da província se encontram num impasse.

O general Roland Kather assume, em Pristina, o comando da KFORFoto: AP

Dois alemães acabam de assumir as principais posições de comando em uma das regiões de maior complexidade geopolítica do mundo. O embaixador Joachim Rücker passa a ser, a partir de setembro, o chefe da Missão de Administração Transitória da ONU no Kosovo (UNMIK). O mandado tem 18 meses de duração e deve marcar a transferência do poder político na província, administrada pelas Nações Unidos desde 1999, para instituições locais.

O general Roland Kather será, durante os próximos 12 meses, o comandante da Força Militar Internacional do Kosovo (KFOR), coordenada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A KFOR está na região também desde de 1999, com a missão de estabelecer e manter a segurança na província, localizada no sul da Sérvia.

Para Joachim Rücker, integração política é o maior desafioFoto: ©UNMIK DPI

Rücker e Kather assumem os cargos em um momento delicado, no qual as negociações mediadas pela comunidade internacional entre líderes sérvios e albaneses têm sistematicamente fracassado e a violência entre os dois grupos étnicos na região vem crescendo. O Conselho de Segurança da ONU tem até dezembro de 2006 para defenir a situação política da província, mas analistas não acreditam em uma saída negociada para a questão.

Joachim Rücker, que é diplomata de carreira e foi prefeito da cidade alemã de Sindelfingen (estado de Baden-Württemberg) entre 1993 e 2001, está no Kosovo há cerca de dois anos, onde coordenava a área econômica da UNMIK. Para ele, o principal desafio é integrar politicamente os dois grupos étnicos da região. "A UNMIK tem como missão administrar o Kosovo como um todo, e estruturas que trabalhem contra este objetivo não serão toleradas", avisou Rücker.

O general Kather, que vai comandar uma força de 17 mil militares, esteve na Bósnia-Herzegovina em 1996 e no Kosovo em 1999 e 2000. Ele vê com otimismo seu mandato na KFOR e espera que suas tropas consigam diminuir o ódio entre sérvios e albaneses. "Minha meta é poder dizer, daqui a um ano, quando estiver voltando para a casa, que pudemos contribuir para o crescimento e a pacificação do Kosovo", destacou.

Os enfrentamentos na região têm acontecido com freqüência nos últimos anosFoto: AP

A tarefa de Kather não será fácil. O entorno da cidade kosovar de Metrovica, onde há uma maior concentração de sérvios, tem sido cenário de seguidos atos de violência, normalmente perpetrados por albaneses. No dia 28 de agosto, uma cafeteria sérvia foi alvo de um atentado a bomba, que deixou sete feridos. Três dias depois, um comboio de quatro ônibus escolares, com cerca de 300 crianças de origem sérvia, foi atacado a pedradas.

No lado político, o impasse nas negociações – uma nova rodada iniciada em fevereiro praticamente não registrou evoluções – não é difícil de ser entendido. Os albaneses do Kosovo só aceitam a integral independência em relação à Sérvia. O principal argumento é de caráter demográfico, já que o grupo representa cerca de 90% da população total de 1,8 milhão da província e é amplamente favorável à separação.

Os sérvios, por sua vez, não abrem mão do Kosovo, e oferecem à província autonomia política dentro do Estado sérvio. "Kosovo é parte da Sérvia, isso é uma formulação legal e constitucional", afirmou o primeiro-ministro sérvio, Vojislav Kostunica, em 31 de julho. Uma justificativa apresentada está no fato de que a minoria sérvia que vive na região é perseguida pela maioria albanesa, e com a independência da província, ficaria ainda mais desprotegida.

Cerca de 90% da população do Kosovo é de origem albanesaFoto: AP

Mas outro argumento, de grande força entre os sérvios, é de ordem emocional, e parte do princípio de que o berço da cultura sérvia estaria no Kosovo, onde se encontram diversos monastérios e igrejas ortodoxos, nos últimos anos freqüentemente vandalizados por albaneses.

Segundo Erhard Busek, encarregado da União Européia na região dos Bálcãs, Kosovo tem um significado mitológico para os sérvios. "Quando o ministro sérvio das Relações Exteriores, Vuk Draskovic, diz que Kosovo é a Jerusalém dos sérvios, não se pode discutir racionalmente o tema", afirmou Busek, em entrevista à DW-WORLD.

As próximas discussões acerca do status do Kosovo estão previstas para os dias 11 e 12 de setembro, em Sofia, capital da Bulgária. Líderes sérvios e albaneses vão se reunir com representantes de organizações internacionais envolvidas com a problemática da região, na tentativa de apresentar novas alternativas para a questão.

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