Alemães, belgas e holandeses se unem contra usinas nucleares
26 de junho de 2017
Milhares de manifestantes formam corrente humana na tríplice fronteira entre Alemanha, Bélgica e Holanda. Eles exigem o fechamento de dois reatores nucleares belgas com centenas de microfissuras em suas estruturas.
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Milhares de pessoas protestaram neste domingo (26/06) pelo fechamento de dois reatores nucleares na Bélgica por questões de segurança. Os manifestantes formaram uma corrente humana na região da tríplice fronteira entre Alemanha, Bélgica e Holanda.
Os organizadores do protesto citaram que cerca de 50 mil manifestantes participaram do ato, dando as mãos da cidade alemã de Aachen até Liège, na Bélgica, e Maastricht, na Holanda. A corrente também passou perto da usina nuclear de Tihange, localizada cerca de 20 quilômetros a sudoeste de Liège.
Os reatores Tihange 2 e Doel 3 levantaram preocupações quanto à segurança devido a microfissuras em suas estruturas. Doel fica no norte da Bélgica, próximo da cidade portuária de Antuérpia. Foram registrados numerosos incidentes de segurança – em maioria de nível baixo – nos dois reatores, que estão em funcionamento há mais de 30 anos.
No ano passado, a ministra do Meio Ambiente da Alemanha, Barbara Hendricks, pediu à Bélgica o fechamento dos dois reatores até que as questões de segurança fossem esclarecidas. No entanto, o pedido foi rejeitado pelo órgão regulador nuclear da Bélgica.
Aachen lança ações legais
Inspeções recentes no reservatório de alta pressão revelaram 70 fissuras adicionais em relação ao controle anterior, em 2014. O resultado foi comunicado pelo ministro do Interior da Bélgica, Jan Jambon, há algumas semanas. Segundo a organização Nucléaire Stop, o órgão regulador nuclear belga encontrou um total de 3.219 indícios de danos no reator Tihange 2.
Ativistas criticam há anos a operação da usina de Tihange. A cidade alemã de Aachen e cerca de 100 comunidades ao longo da região fronteiriça estão processando os operadores de Tihange 2.
A manifestação deste domingo foi organizada por uma série de associações ambientais de Alemanha, Bélgica e Holanda e liderada pelo ator e diretor belga Bouli Lanners. Os prefeitos de Aachen e Colônia, no oeste da Alemanha, expressaram seu apoio à iniciativa.
"É a mensagem mais forte que a região poderia enviar", disse o chefe administrativo da região da cidade de Aachen, Helmut Etschenberg. "Não queremos mais viver com o elemento da incerteza que é Tihange 2 e continuaremos [a protestar]."
Além de exigir o encerramento das usinas nucleares, os manifestantes pedem o fim das entregas de combustíveis às duas estações energéticas da planta nuclear de Lingen, no estado alemão da Baixa Saxônia.
PV/afp/dpa/ap
A resistente fauna de Chernobyl
Trinta anos de contaminação radioativa não expulsaram os animais que habitam ao redor do antigo reator nuclear que explodiu em 1986. Um fotógrafo bielorrusso documentou a vida na região desabitada por humanos.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Quando os humanos se foram
Trinta anos após o desastre de Chernobyl, na antiga União Soviética, grandes áreas ao longo da usina nuclear, nos territórios que hoje são da Ucrânia e Belarus, ainda estão desertas por medo das consequências de longo prazo de um vazamento nuclear. Em vez de casas e edifícios, reaparecem águias, lobos, veados e outros animais.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Inóspito para humanos
Diferentes tipos de animais foram vistos no local, como esta raposa na foto tirada pelo fotógrafo bielorrusso da agência de notícias Reuters, Vasily Fedosenko, responsável por esta série de imagens. Segundo a agência, a ministra ucraniana do Meio Ambiente, Hanna Vronska, informou que "as pessoas não podem viver lá, é impossível, nem mesmo nos próximos 24 mil anos."
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Evacuados e realocados
O acidente ocorreu em 26 de abril de 1986, quando um experimento fracassado na usina nuclear na localidade de Pripyat levou a uma explosão no reator número 4, que fora construído somente três anos antes do desastre. Uma imensa quantidade de material radioativo foi liberada na atmosfera, espalhando-se para o resto da Europa. Mais de 350 mil pessoas foram evacuadas e realocadas entre 1986 e 2000.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Consequências pouco claras
Os pesquisadores continuam divididos sobre as implicações do desastre na flora e fauna da região, especialmente considerando a contradição entre os efeitos negativos da radiação e as conseqüências positivas da ausência humana. No entanto, parece que não se pode conter a natureza, como demonstra esta manada de bisões perto do vilarejo de Dronki, em Belarus.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Vilarejos abandonados
Reportagem de 2014 transmitida pelo programa "60 minutes", principal noticiário da emissora americana CBS, mostrou as ruínas quase intocadas de Pripyat, cidade abandonada na fronteira entre a Ucrânia e Belarus e que antes abrigava 50 mil pessoas. Aqui se veem restos de edifícios agrícolas perto do vilarejo bielorrusso de Pogonnoe, na declarada faixa de exclusão de 30 quilômetros.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Implicações de longo prazo
Muitas pessoas temem os efeitos de longo prazo para a saúde, provocados por tal ambiente radioativo. Em março, a Prêmio Nobel bielorrussa Svetlana Alexievich disse à DW: "todos os amigos que perdi nos últimos dez anos morreram de câncer. E não passa um dia em que eu não escuto de alguém que adoeceu ou morreu."
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Ninguém é imune
Um lobo olha para a câmera no vilarejo abandonado de Orevichi, em Belarus. Ainda que muitas espécies de plantas, flores e animais continuem a povoar a área em torno do reator nuclear, sabe-se que a taxa de mortalidade entre eles é maior que a média, e que eles sofrem de tumores e outras complicações. O impacto da radiação parece variar por espécie.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Perigo por séculos
"Foi bastante óbvio que padrões de deformação tenham prevalecido muito mais em áreas de alta contaminação", explicou o biólogo Timothy Mousseau à DW, após passar anos coletando insetos, aves e ratos mutantes da região de Chernobyl e Fukushima, no Japão. "Muitas áreas vão permanecer perigosas por séculos, ou até milênios", acrescentou. Aqui, alces são vistos perto de Dronki.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Efeitos em Belarus
Uma águia pousa sobre o telhado de uma escola no vilarejo abandonado de Tulgovichi, a cerca de 370 quilômetros ao sudeste de Minsk. A antiga república soviética de Belarus recebeu por volta de 70% da precipitação radioativa do acidente. Mais de 20% das terras agrícolas do país foram contaminadas.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Números pouco concludentes
Trinta anos depois, números precisos sobre casos de câncer causados pelo desastre de Chernobyl e pela contaminação indireta ainda não são concludentes. A quantidade de mortes atribuídas diretamente à explosão é de 31, mas até agora não há um quadro compreensível ou mesmo um consenso sobre o método usado para contabilizar os impactos na saúde.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
De uma geração a outra
O exame de animais, como este pica-pau visto perto do vilarejo de Babkhin, levou cientistas a acreditar que os efeitos da radiação são passados tanto através da cadeia alimentar quanto de uma geração a outra. Testes em animais provenientes da região de Chernobyl apontaram para um aumento das taxas de tumores, catarata e defeitos neurológicos, como tamanhos menores de cérebro.
Foto: Reuters/V. Fedosenko
Grande incerteza
Alguns pesquisadores acreditam que várias espécies encontradas hoje ao redor da área de Chernobyl não estavam lá antes do desastre. No entanto, essas suposições não foram confirmadas e, em sua maioria, os cientistas são cautelosos sobre tais declarações.