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Alemães consomem mais cocaína do que se imaginava

(gh)10 de novembro de 2005

Análise inédita de águas fluviais indica que consumo da droga no país pode ser bem superior ao que supunham as autoridades. Somente moradores da região do Reno consumiriam 11 toneladas de cocaína pura por ano.

Nova pesquisa põe em xeque números oficiais sobre drogadosFoto: dpa - Fotoreport

Os alemães consomem quantidades inimagináveis de cocaína. É o que indicam análises de águas fluviais realizadas pelo Instituto de Pesquisas Biomédicas e Farmacêuticas (IBMP), de Nurembergue, cujos resultados foram divulgados nesta quarta-feira (09/10) pela revista Spiegel Online.

Durante duas semanas, os peritos do IBMP examinaram amostras de água de vários rios à procura de rastros químicos do consumo de cocaína. Com base na concentração de benzoilegonina, principal produto de decomposição da cocaína, eles projetaram números sobre o consumo da droga no país.

As maiores concentrações do produto foram constatadas no rio Isar, perto de Munique, enquanto Colônia teve índices intermediários e Berlim, baixos.

Segundo o IBMP, a análise indicou que só os 38,5 milhões de habitantes cujo esgoto, depois de tratado, escoa para o Reno – maior rio da Alemanha –, consomem cerca de 11 toneladas de cocaína pura por ano.

Numa estação de tratamento de esgoto perto de Düsseldorf, capital da Renânia do Norte-Vestfália, os pesquisadores mediram uma concentração equivalente ao despejo de 30 quilos de cocaína por dia. Isso indicaria o consumo de "pó" no valor de 1,6 bilhão de euros por ano só nessa região.

Números confiáveis?

Segundo estatísticas de autoridades alemãs e européias, apenas 0,8% dos alemães entre 18 e 59 anos (cerca de 400 mil pessoas) consomem cocaína pelo menos uma vez por ano. "Se os resultados do IMBP forem corretos, então o número de consumidores da droga é bem superior ao que se supunha", diz Roland Simon, do Instituto de Pesquisa Terapêutica (IFT), de Munique, que fornece dados a esse respeito para o governo alemão e a União Européia.

Tomando-se por base as análises do IBMP, cada um dos 184 mil alemães entre 18 e 59 anos dessa região consumiria 60 gramas da droga por ano (164 mg por dia). Levando em conta um grau de pureza de no máximo 40% da cocaína vendida nas ruas, cada viciado consumiria 411 mg/dia, um valor considerado improvável.

O Relatório Mundial sobre Drogas 2005, da ONU, estima que um viciado europeu consome, em média, 35 g de cocaína pura por ano. Combinando esse dado com a concentração de benzoilegonina encontrada no Reno, o IBMP calcula que o número de usuários de cocaína na Alemanha seja o dobro do que afirmam os dados oficiais.

Até agora, os dados sobre consumo de drogas na Alemanha baseavam-se em pesquisas de opinião, estatísticas da polícia e das instituições de tratamento e assistência aos dependentes. No que diz respeito à cocaína, essas informações não são consideradas confiáveis. Nem todo drogado busca auxílio para abandonar o vício, os casos de morte ligados à droga são raros e as estatísticas policiais dependem da freqüência das investigações nesse campo.

Leia mais: Pesquisa inédita é polêmica

Estudo inédito

Análise revelou alta concentração de benzoilegonina em água de esgotoFoto: dpa

Por isso, os químicos do IBMP fizeram uma análise inédita de águas fluviais na Alemanha. De acordo com os peritos, a benzoilegonina encontrada na água só pode ter se originado da decomposição de cocaína, assim como ela ocorre no corpo humano. "Outros processos de formação da substância não são conhecidos", diz Herbert Käferlein, professor de Medicina Forense da Universidade de Colônia.

Käferlein, que participou na análise do escândalo envolvendo o técnico de futebol Christoph Daum, diz que as análises do IBMP são cientificamente corretas. Já Gerold Kauert, diretor do Instituto de Toxicologia Forense da Universidade de Frankfurt lembra que a própria benzoilegonina também sofre decomposição, o que se deve considerar nas conclusões da pesquisa.

Primeiro passo

Os pesquisadores colheram amostras em vários rios da Alemanha e constataram que, nas proximidades de cidades, a concentração de benzoilegonina na água sobe. No cálculo final, eles consideraram também o fato de que apenas um quarto de uma dose de cocaína consumida sai pela urina e que 80% da benzoilegonina é destruída pelas estações de tratamento de esgoto.

"Essa equação naturalmente não considera todos os fatores de influência, mas permite uma estimativa sólida", diz Fritz Sörgel. Ele vê a pesquisa apenas como "um primeiro passo" para comprovar o consumo de droga através da análise da água. "Naturalmente, não podemos responder a todas as dúvidas na primeira tentativa", acrescenta.

Estudos semelhantes aos do IBMP, porém menos abrangentes, já provocaram polêmicas na Itália e n Reino Unido, por apontarem um consumo maior de drogas do que supunham as autoridades. Os autores das atuais estatísticas tendem a admitir que o novo método pode ser um bom complemento seu trabalho.

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