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Alemães de volta aos livros

Sonia Phalnikar/cv21 de fevereiro de 2005

Literatura em máquinas de venda automática, em embalagens de cigarro ou transmitida através dos interfones em conjuntos residenciais. São muitas as iniciativas para tornar a literatura mais popular entre os alemães.

Livros concorrem com chocolates, salgadinhos e gomasFoto: presse

Um grupo de pessoas parado ao redor do interfone de um edifício residencial pode parecer uma cena comum. Mas se elas estiverem concentradas ouvindo a voz de um locutor recitando um poema ou esbravejando a respeito de algum problema político, então não se pode mais falar de um fato comum.

Cenas como essa podem ser vistas na capital alemã desde o último verão e resultam do trabalho de um grupo artístico e literário. O conceito envolve nove autores do grupo sentados em um apartamento e revesando-se, cada vez que o interfone toca, na leitura dos textos já preparados.

Os textos, que podem ser histórias, peças teatrais ou poemas, são sempre curtos. Assim que uma recitação acaba, o interfone é desligado e, para ouvir mais, basta apertar o botão novamente e um outro autor começa a recitar.

"O nosso objetivo é levar a literatura para as ruas", diz Mia Frimmer, integrante do grupo e autora de ensaios e peças teatrais. "Queremos tirar a literatura do meio intelectual e torná-la acessível e agradável a todos.”

As leituras são gratuitas e a divulgação é feita através de cartazes ou da propaganda oral. "É interessante não saber quem ou quantas pessoas estão ouvindo as leituras", diz Frimmer. "No fundo, é uma forma subversiva de apresentar literatura. A imaginação dos ouvintes é estimulada a criar uma imagem da pessoa por trás da voz."

Alemães deixam livros de lado

As leituras do grupo são a última invenção de uma série de iniciativas a fim de tornar a palavra escrita mais atraente e barata, numa época em que os alemães estão comprando cada vez menos livros e destinando menos tempo ainda à leitura dos que eles ganham. Ao mesmo tempo, a quantidade de horas passadas em frente à televisão aumenta.

Nos últimos anos, o mercado livreiro alemão vem registrando perdas contínuas. Parte da culpa poderia ser da economia estagnada, mas as estatísticas mostram que os alemães simplesmente estão lendo menos. Um estudo recente da Fundação de Leitura em conjunto com o Ministério da Educação e Pesquisa, envolvendo uma parcela representativa da população de 2530 alemães, revelou que somente seis por cento pega um livro nas mãos todos os dias e 45 por cento diz ter dificilmente ou nenhum contato com livros.

Estudo aponta que alemães lêem cada vez menosFoto: dpa

Ao mesmo tempo, o hábito de assistir à televisão tem crescido drasticamente. Em 2004, os alemães passaram em média três horas e meia por dia em frente à TV, o que significa um novo recorde. A introdução de monitores para a apresentação de eventos, propagandas e flashs de notícias nos metrôs de Berlim é uma demonstração de que os passageiros, hoje, prestam mais atenção às telas do que em livros.

Para reverter essa tendência, uma agência berlinense de publicidade apostou na idéia de colocar a literatura ao alcance dos interesses práticos e econômicos das pessoas. Eles iniciaram disponibilizando livrinhos no valor de um euro em máquinas de venda automática em estações de trem por toda a Alemanha.

Os livrinhos amarelos, que lembram a famosa série Reclam, característica por obras de gênios literários como Goethe, Kant e Shakespeare, concorrem com chocolates, salgadinhos e gomas. Diferentemente dos livros escolares, os textos vendidos nas máquinas são de autores e jornalistas jovens e desconhecidos, que escrevem pequenas histórias incomuns e poemas de no máximo 24 páginas.

"Nós queremos tornar a literatura de qualidade mais acessível ao cidadão comum e passar às pessoas o sentimento de que ela é somente mais um produto de consumo como um chocolate", diz Frank Maleu, gerente da agência.

A ambição de Maleu de alcançar um grupo de leitores inatingíveis – passageiros e pessoas em deslocamento – parece estar dando certo. A companhia, que está tentando publicar novos livros a cada mês, vendeu cerca de 10 mil exemplares desde que a idéia foi lançada no final de 2003. A concepção, aliás, também chegou ao Brasil: nas estações de metrô da capital paulista já é possível comprar livros nas máquinas de venda automática.

Divertido e original

Bom, barato e cada vez menor parece ser o slogan de uma agência de publicidade de Munique, que lançou no ano passado os chamados “romances de cigarro”, disponíveis nas livrarias por dois euros. Isto foi meses depois de a União Européia determinar que as carteiras de cigarro devem conter advertências do tipo “Fumantes morrem mais cedo” ou “Fumar provoca impotência”.

'O Beijo': um romance de cigarro

A idéia da agência é publicar histórias curtas, impressas em capas para carteiras de cigarro, que podem ser utilizadas para cobrir as advertências. Para escrever as histórias foram contratados autores famosos, como Vladimir Kaminer, de Russen Disco (Discoteca Russa) e a cineasta Doris Dörrie.

“Não se trata de defender o fumo, mas de um ato contra a repulsiva estética das advertências governamentais”, diz Wolfgang Farkas, gerente da agência. “Nós achamos a idéia divertida e original, uma forma de oferecer uma boa leitura ao homem comum.”

Palco para novos autores

Um dos resultados positivos dessas diferentes iniciativas de popularização da literatura é que elas oferecem uma oportunidade para novos autores de mostrar suas obras para uma grande audiência. No ano passado a agência muniquense realizou uma competição de “romances de cigarro” para jovens autores, com cerca de 700 participantes.

Frimmer, do projeto das leituras no interfone, diz que alguns dos seus autores também são principiantes. “A anonimidade do trabalho é perfeita porque eles se sentem ainda inseguros para falar ao público.”

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