Alemães debatem se ruas podem ter o nome de Hindenburg
Dagmar Breitenbach (mp)2 de agosto de 2015
Em toda a Alemanha há ruas e praças com o nome do marechal que foi presidente e nomeou Hitler chanceler. Algumas cidades acabaram com a homenagem. Outras deliberadamente não.
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Bigodudo e aristocrata, o marechal Paul von Hindenburg foi condecorado como um herói da Primeira Guerra Mundial, mas foi também o presidente que empossou Adolf Hitler no cargo de chanceler em 1933, fechou o parlamento e promulgou leis que restringiam direitos fundamentais e ampliavam os poderes dos nazistas.
O nome Hindenburg pode soar familiar para muitas pessoas porque, em homenagem ao marechal, era também o nome de um Zeppelin gigante que explodiu em Nova Jersey, em 1937, após uma travessia do Atlântico.
Muitas ruas e praças em cidades alemãs levam esse nome, uma questão que, de tempos em tempos, divide os alemães, mais de 80 anos depois da morte do ex-presidente.
Após algum tempo, a questão ressurge: será que se deve honrar a memória de Hindenburg e manter as placas nas ruas ou retirar o nome por ele ter possibilitado a instalação do terror nazista e, em consequência, a Segunda Guerra Mundial.
Alguns cidadãos exigem a substituição de nomes como Hindenburgstrasse e Hindenburgplatz, enquanto outros são contrários à remoção do nome e fazem campanha "pró-Hindenburg".
Legado controverso
A Hindenburgplatz, no nordeste da cidade de Münster, tornou-se Schlossplatz em 2012, depois de um referendo em que 60% dos cidadão se declararam a favor da mudança do nome da praça.
O conselho da cidade de Garmisch-Partenkirchen, na Baviera, também votou pela mudança do nome de sua Hindenburgstrasse – mas a decisão foi frustrada por cidadãos que não se mostraram interessados na troca. Um referendo em 2013 forçou a cidade a voltar atrás.
Para evitar situações semelhantes, a cidade de Bad Tölz, também na Baviera, tentou uma abordagem nova. "Nós simplesmente não queremos apagar a história”, diz Klaus Pelikan, um assessor do prefeito.
Em abril de 2015, depois de dois anos de planejamento meticuloso, a rua de quase um quilômetro ficou cheia de placas de concreto encurvadas, com fotos e informações sobre Hindenburg. "Achamos importante garantir que a história não seja esquecida", diz Pelikan.
Ele acrescenta que professores do ensino médio levam os estudantes para a rua para uma aula de história a céu aberto e, recentemente, William Moeller, ex-cônsul-geral dos Estados Unidos em Munique, "mostrou grande interesse".
Existem outros aspectos intrigantes na controvérsia sobre Hindenburg. No ano passado, um artista removeu um busto de bronze do marechal de um mosteiro em Dietramszell. Em 2013, uma pequena cidade bávara ao sul de Munique rendeu manchetes nos jornais após a câmara municipal se negar a retirar Adolf Hitler da sua lista de cidadãos honorários, uma decisão que foi revista depois de fortes protestos.
Cidadão honorário
Hindenburg também foi escolhido cidadão honorário de diversas cidades alemãs durante o nazismo. Muitas, incluindo Colônia, Munique, Halle, Leipzig, Stuttgart, Augsburg e Kiel, já o removeram de suas listas.
A capital alemã, não. Há alguns meses, Berlim derrubou pela terceira vez uma proposta do partido A Esquerda para retirar o nome do ex-presidente da lista. A cidadania honorária de Hindenburg é "absolutamente intolerável", disse o parlamentar do partido Wolfgang Bauer, argumentando que o presidente nomeou Hitler chanceler em 1933.
Já os democrata-cristãos dizem que um aspecto específico não pode servir de base para retirar Hindenburg da lista porque, por outro lado, ele defendeu com lealdade a democrática República de Weimar.
Ruínas da Segunda Guerra – memoriais da paz
Em vários locais da Alemanha são mantidas partes de edificações destroçadas pela violência bélica. Elas recordam o poder devastador das armas e quanto a paz é preciosa.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Wolf
Testemunhas eloquentes
Difícil acreditar: em 1945, numerosas cidades alemãs estavam tão destruídas como, hoje, partes do Iraque ou da Síria. Destroçadas por bombardeios e nunca mais reconstruídas, ruínas em meio às metrópoles do país ainda prestam testemunho eloquente dos horrores da Segunda Guerra Mundial. Em sua maioria, trata-se de edificações sacras, como a Igreja Memorial do Imperador Guilherme, em Berlim.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Hiekel
Novo e antigo
Inaugurada em 1895, no estilo neo-romântico, a Igreja Memorial do Imperador Guilherme (Kaiser Wilhelm Gedächtniskirche) sucumbiu a um ataque aéreo dos Aliados em 23 de novembro de 1943. Apenas a ruína da torre principal, com 71 metros de altura, foi preservada como memorial. Os quatro prédios que a rodeiam ficaram prontos em 1961, e hoje todo o complexo arquitetônico é tombado.
Foto: picture alliance/akg-images
Do culto à cultura
A história da Igreja do Convento Franciscano no bairro berlinense de Mitte remonta ao ano 1250. Em consequência da Reforma Luterana, em 1539 o convento foi fechado. E, em 3 de abril de 1945, o fogo choveu do céu. As ruínas da igreja foram protegidas, como único prédio da época a sobreviver à Segunda Guerra. Restaurada, desde 2004 ela abriga exposições, apresentações teatrais e concertos.
Foto: gemeinfrei/imago/F. Berger
Memorial no Reno
Destruída e jamais recuperada, a Igreja de Santo Albano fica na parte histórica da cidade renana de Colônia. Na foto veem-se os restos do coro. A antiga nave, hoje descoberta, serve de memorial para os mortos da guerra. Em seu centro, uma escultura evocativa apela pela paz: "Pai e mãe de luto", de Ernst Barlach, com base num desenho de Käthe Kollwitz.
Foto: CC BY-SA 3.0/Raimond Spekking
Sobrevivente solitária
A pouca distância de Santo Albano está Santa Colomba, uma das mais antigas igrejas paroquiais de Colônia. Sua pedra fundamental foi lançada em 980. Após a destruição quase total em 1943, além de uns poucos resquícios dos muros externos, datando do fim da Idade Média, restou apenas uma figura de Nossa Senhora, em meio aos escombros.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Gambarini
Destaque no museu
Para abrigar essa estátua da Virgem construiu-se no mesmo local, já em 1947-50, uma capela octogonal. Desde então ela é, para os colonianos, a "Madona dos Escombros". Em 1956-57, a capela marista foi ampliada em capela sacramental quadrilateral. Em 2007, a Igreja de Santa Colomba foi totalmente integrada ao edifício do novo Museu Episcopal Diocesano.
Foto: CC BY-SA 3.0/Elke Wetzig
Esplendor barroco perdido
Datando do século 12, o Palácio Zerbst, na Saxônia-Anhalt, era residência dos príncipes de Anhalt-Zerbst. Reformas no século 17 lhe deram uma estrutura em três alas, e passou a constar entre as principais edificações barrocas da Alemanha central. Em criança, a princesa Sofia Augusta Frederica de Anhalt-Zerbst ia visitar lá os seus parentes. Ela seria coroada em 1762 Catarina 2ª, czarina da Rússia.
Foto: picture-alliance/AKG
Ainda há esperança
Em abril de 1945, o Palácio Zerbst foi atingido por bombas aliadas e totalmente consumido no incêndio subsequente. Sua preciosa decoração interna se perdeu. A reconstrução teria sido possível, mas foi rejeitada por motivos políticos. Somente a ruína da ala leste escapou à demolição, e uma associação de amigos cuida para que seja mantida. Sua meta é a restauração fiel da parte exterior da ala.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Wolf
De "bunker" a igreja
Apesar de não ser uma ruína, este "hochbunker" (abrigo de superfície) em Düsseldorf é mantido como memorial. Para fins de proteção, no início dos anos 1940 ele fora camuflado como igreja. A partir de 1949, foi então transformado de fato em casa de culto. O prédio tombado, que também funciona como local de exposições, é arquitetonicamente ímpar, sendo considerado a igreja mais segura do mundo.
Foto: CC BY-SA 3.0/Ilion
Usina memorial
Este antigo abrigo de superfície em Hamburgo-Wilhelmsburg é igualmente único no mundo. Enquanto, após o fim da guerra, grande parte dessas edificações sucumbiram ao tempo, ele foi amplamente saneado e transformado num "Energiebunker". Equipado com painéis fotovoltaicos e uma usina regeneradora dotada de armazenador de calor, o colosso de concreto fornece eletricidade e calefação à população.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Marks
Altura fatídica
As origens da Igreja de São Nicolau de Hamburgo remontam a 1195. Após um incêndio em 1842, foi consagrada no local, 32 anos mais tarde, uma casa de culto totalmente nova, em estilo neogótico. Por um tempo, sua torre de 147 metros foi a construção mais elevada do mundo. Porém, em 23 de julho de 1943, sua altura provou-se fatídica, ao servir de ponto de orientação para os bombardeiros dos Aliados.
Foto: gemeinfrei
Hamburgo-Gomorra
Somente a torre e os porões abobadados resistiram. Ao fim da Segunda Guerra, o Senado hamburguês decidiu não reerguer a Igreja de São Nicolau. Suas ruínas permanecem até hoje como ferida aberta, dedicadas "às vítimas da guerra e da ditadura entre 1933 e 1945". Nos porões criou-se um centro de documentação, com a mostra permanente "Gomorra 1943 – A destruição de Hamburgo na guerra aérea".
Foto: picture-alliance/dpa
Sobrevivência por um triz
Em 1945 jazia em destroços, em Dresden, a famosa Frauenkirche, a igreja protestante de Nossa Senhora. Após sobreviver aos devastadores ataques aéreos de 13 e 14 de fevereiro, no dia seguinte a cúpula de pedra dessa chamada "pérola do Barroco" desmoronou. A Alemanha Oriental não tinha verbas para reerguê-la, e por muitos anos as ruínas jazeram como memorial contra a guerra e a destruição.
Foto: Hulton Archive/AFP/Getty Images
Esperança contra a devastação
Com a Reunificação, iniciou-se em 1996 a reconstrução da Frauenkirche, concluída em 2005. O financiamento do projeto de 180 milhões de euros envolveu 16 associações de amigos no país e no exterior, assim como doações de todo o mundo. As pedras da edificação original foram integradas nos novos muros. A igreja reerguida tornou-se, assim, um símbolo de esperança e do entendimento entre os povos.
Foto: DW/Holm Weber
Recomeço a partir dos escombros
Já em 1947, a Igreja da Ressurreição de Pforzheim, sul da Alemanha, foi a primeira construída no país, no pós-Guerra. Como material de construção, 30 mil tijolos das casas circundantes foram desenterrados, coletados e meticulosamente limpos. Além de sinalizar um recomeço, ela serviu de modelo para 46 "igrejas de emergência" nas cidades alemãs destruídas na Segunda Guerra.