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Turismo responsável

Sonia Phalnikar (jdc)21 de agosto de 2007

Encarregado do governo alemão para direitos humanos conclama turistas a viajarem com responsabilidade e discernimento a países onde direitos humanos são desrespeitados – um apelo um tanto ingênuo, para especialistas.

Turismo consciente: olhar crítico para não cair como patinhos em paraísos irreaisFoto: BilderBox

O que as praias da Tailândia, os mercados do Cairo e o deserto do Rajastão têm em comum durante o verão? Hordas de turistas alemães. Campeões mundiais quando se fala em turismo, os alemães protagonizaram nada menos que 86,6 milhões de viagens para o exterior em 2005 (o país tem 82 milhões de habitantes), 24 milhões das quais para fora da União Européia.

Agora, esse batalhão de globe-trotters recebeu uma orientação para olhar além das areias brancas e águas cristalinas de destinos de férias. Na semana passada, Günter Nooke, encarregado do governo alemão para direitos humanos e ajuda humanitária, apelou para que os alemães adotassem um olhar mais crítico ao viajar.

Olhar por cima do muro do resort

Praia no Caribe: turistas devem olhar para além das palmeirasFoto: PA/dpa

O apelo se referia especificamente a países com histórico problemático na proteção aos direitos humanos. Nooke citou, nominalmente, Cuba, México, Egito, Tailândia, Turquia, Quênia, República Dominicana e Indonésia.

A lista inclui os destinos mais populares do país: em 2005, a Turquia foi o destino turístico número um dos alemães, atraindo 3,8 milhões de viajantes, seguida do Egito, em segundo lugar, e da Tunísia, em terceiro. Ainda não se tem as estatísticas de 2006.

A declaração foi dada de forma inesperada numa coletiva de imprensa em Berlim. Nooke pediu que os alemães "não se deixassem seduzir pelas aparências" e olhassem por cima do muro de seus resorts de férias.

"Não muito longe das praias e palmeiras vivem pessoas cujos direitos humanos são completamente ignorados", disse Nooke na ocasião, frisando que a intenção não era dissuadir os alemães de viajar. Pelo contrário, deveriam se informar mais sobre a situação dos países que visitam, para então procurar levantar assuntos pertinentes em conversas com locais, abordando temas como censura, liberdade de imprensa e tortura.

Falar abertamente pode causar problemas

Pessoas que trabalham para promover turismo ético disseram que os comentários de Nooke, apesar de bem-intencionados, mostravam falta de visão. "Tudo depende do lugar para onde você vai", diz Regina Spöttl, da Anistia Internacional na Alemanha.

Günter Nooke, encarregado do governo para direitos humanosFoto: dpa

"Em países como a Síria e a Tunísia, onde os serviços secretos são onipresentes, você tem que tomar cuidado ao falar sobre a situação política. Se for um turista ocidental, provavelmente não estará ameaçado, mas pode facilmente colocar em perigo o morador com quem conversar", explica Spöttl.

Outro problema é que, freqüentemente, corrupção e discriminação social não são evidentes a turistas ocidentais. "Há dezenas de exemplos de como um turista é indiretamente parte de uma violação de direitos humanos", diz Heinz Fuchs, especialista da Tourism Watch, organização de fiscalização ao turismo criada pela Igreja protestante na Alemanha.

Fuchs cita a construção de áreas especiais para turistas em Kerala, no sul da Índia, destino popular entre alemães endinheirados em busca de tratamentos ayurvédicos em spas luxuosos. A criação de tais áreas turísticas, segundo ele, freqüentemente passa ao largo de procedimentos legais e acarreta problemas como remoção de comunidades locais, destruição ambiental e condições de trabalho irregulares.

Turismo atual subestimado?

Nooke também dirigiu seu apelo às agências de viagem. Elas deveriam incluir informações sobre a situação dos direitos humanos nos folhetos em que divulgam seus destinos. Especialistas consideraram o apelo no mínimo ingênuo.

Mercado na Turquia, principal destino dos alemãesFoto: AP Photo

Isso porque, de acordo com Fuchs, turistas já têm, hoje em dia, um conhecimento mais profundo da realidade dos países para onde viajam. Pela quantidade de informações a que têm acesso, tornam-se cada vez mais críticos. E a indústria de viagem está se adaptando às exigências desse turista bem informado, de forma lenta, porém segura.

Fuchs vê melhoras na situação do turismo mundial. Na virada do século 21, "turismo sustentável" e "ecoturismo" viraram os novos mantras da indústria. "Certamente não se dá o mesmo destaque à dimensão social do turismo quando a meta é proporcionar lucro a todas as partes envolvidas, mas as coisas estão melhorando", considera.

Ampla oferta para viajar eticamente

Dada a explosão de agências de viagem especializadas em roteiros sustentáveis e socialmente responsáveis, especialistas garantem: alemães que quiserem viajar de forma ética nunca tiveram tantas opções como hoje. "Por que um turista curioso optaria por um pacote all-inclusive com uma agência de viagem, onde até o bazar que se visita é artificial, se ele tiver uma alternativa ou puder viajar por conta própria?", pergunta Fuchs.

Uma década atrás, turistas alemães em viagens educativas só queriam ver ruínas históricas. Hoje, a ênfase é conhecer o país, seus habitantes e seus problemas sociais, diz Klaus Dietsch, porta-voz da Studiosus – agência de viagem que oferece roteiros educativos para mais de 100 lugares no mundo. "Voar para um país distante e deitar no sol por duas semanas num resort luxuoso não é o que eles querem", diz Dietsch.

Ecoturismo no Chile: turismo sustentável em escalada no novo milênioFoto: AP

Especialistas indicam que, para tirar férias com responsabilidade, viajantes devem organizar sua viagem com discernimento. Uma dica é ler bastante sobre o destino antes de partir e, ao chegar, caminhar sempre de olhos e ouvidos bem abertos.

Será que o apelo inusitado de Nooke aos turistas alemães foi apenas uma tentativa de preencher o vazio de notícias do governo durante o recesso parlamentar? Não para todos. "Sempre fico contente quando políticos, independentemente de suas convicções, abordam publicamente a questão dos direitos humanos – mesmo que de forma controversa", diz Regina Spöttl, da Anistia Internacional. "Isso não acontece todo dia."

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