Pesquisa encomendada pela DW mostra que maioria da população da Alemanha dá grande importância à manutenção da memória do Holocausto. Mas tendência nos últimos anos é de retrocesso.
Em 1996, o dia da libertação, 27 de janeiro, se tornou o dia oficial em memória às vítimas do nazismo na Alemanha, por iniciativa do então presidente alemão, Roman Herzog. Em 2005, as Nações Unidas seguiram o exemplo e declararam a data Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto.
Nos últimos anos, o antissemitismo se fortaleceu na Alemanha. Atos de cunho antissemita aumentaram, e é comum que alemães de confissão judaica sejam atacados nas ruas.
Um triste ápice foi o atentado ocorrido em Halle em 9 de outubro passado. Foi uma tentativa de atacar uma sinagoga no dia do principal feriado judaico, o Yom Kippur, e matar as 51 pessoas que estavam no local.
Em tempos como esses, que importância dão os alemães para a manutenção da memória do Holocausto? A DW contratou um instituto de pesquisas, o Infratest Dimap, para tentar responder a essa pergunta. O instituto ouviu 1.018 pessoas por telefone. O resultado, como definiu o pesquisador do Infratest Dimap Roberto Heinrich, é, "de um modo geral, tranquilizador".
A primeira pergunta feita foi: "Se você pensar em nazismo: você diria que os crimes são lembrados demais, de forma adequada ou muito pouco lembrados?" Mais da metade dos consultados disse que a atual cultura de manutenção da memória é adequada. Para um em cada quatro, a lembrança é excessiva, e um em cada seis disse que os crimes do nazismo são pouco lembrados.
A segunda pergunta foi: "Recentemente alguém disse: '75 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, nós não deveríamos mais nos ocupar tanto com a era nazista, mas finalmente pôr um ponto final nisso.' Você concorda com essa afirmação?" Uma clara maioria de 60% disse ser contra um ponto final, e 37% dos consultados disseram ser favoráveis a deixar para trás a era nazista.
O terceiro ponto abordado na pesquisa foi como lidar hoje com o nazismo. Para três em cada quatro pessoas ouvidas, a visita a um antigo campo de concentração, como Auschwitz-Birkenau ou Buchenwald, deveria ser parte obrigatória do currículo escolar.
Dos consultados, 61% disseram que os alemães deveriam procurar se informar sobre o papel da própria família na era nazista. E pouco mais da metade (55%) disse não ser necessário que refugiados políticos sejam obrigados a receber informações sobre os crimes dos nazistas.
"'Educação ajuda' foi a primeira reação de um colega quando ele analisou aspectos do estudo", disse Heinrich. Isso vale especialmente para o debate sobre o ponto final: apenas 21% das pessoas que têm o ensino médio que habilita para o ingresso na universidade defendem que haja um ponto final na era nazista. Já entre aqueles que concluíram as demais variantes do ensino médio alemão, que não dão acesso à universidade, o percentual sobe para 56%.
"De modo geral, há uma clara maioria que diz que nós devemos continuar nos ocupando com a temática do nacional-socialismo", resume Heinrich.
Mesmo assim, a comparação entre diversas pesquisas mostra que o ambiente político e social mudou na Alemanha nos últimos anos. Numa outra pesquisa, realizada em 2019, 33% dos consultados disseram ser a favor de um ponto final na era nazista, ante 26% na consulta de dois anos antes. Na atual pesquisa da DW, são 37%.
A "cinematografia do Holocausto" é composta de uma vasta lista de filmes. Embora transpor o indescritível para imagens em movimento seja uma tarefa altamente complexa, são diversas as tentativas.
Foto: absolut Medien GmbH
Noite e neblina
Filme de 1955 que estreou no Festival de Cannes, "Noite e neblina", dirigido pelo francês Alain Resnais, foi um dos primeiros documentários a se debruçar sobre o Holocausto. Renais e Chris Marker, na época seu assistente, estavam entre os primeiros cineastas a terem um acesso mais amplo aos arquivos do Holocausto em França, Bélgica, Holanda, Polônia e Alemanha.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Ronald Grant Archive
Minha luta
Coprodução sueco-alemã de 1960, tem direção de Erwin Leiser (1923-1996), que emigrou aos 15 anos de idade, depois do Pogrom de 1938, para a Suécia, onde se tornaria mais tarde um cronista em imagens das atrocidades do regime nazista. No longa-metragem, o diretor reúne material de arquivo da época, como faria em outros filmes posteriores, em um minucioso trabalho de memória daquele período.
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Shoah
Obra mais importante sobre a memória do Holocausto, o filme de Claude Lanzmann, de 1985, com 9 horas e meia de duração, foi feito no decorrer de 11 anos. O diretor recusa-se a usar imagens de campos de concentração como fazem os documentários convencionais. O registro do horror acontece através do testemunho de sobreviventes – sejam eles vítimas, algozes ou meros espectadores das atrocidades.
Foto: absolut Medien GmbH
A lista de Schindler
Steven Spielberg contou neste filme de 1993 a história de um empresário que, embora conivente com o regime nazista, acabou salvando a vida de mais de mil judeus. A superprodução americana ganhou sete Oscars, incluindo os de melhor filme e direção, embora tenha sido apontada por parte da crítica como um melodrama que prima por transformar a dor em espetáculo.
Foto: picture alliance / United Archives/IFTN
Exílio em Xangai
O longa-metragem de 1997, de Ulrike Ottinger, é um filme sobre o Holocausto no sentido de documento da fuga e da migração dos judeus para Xangai durante o regime nazista. Com 4 horas e meia de duração, o documentário tem como ponto de partida as lembranças de seis judeus alemães, austríacos e russos, que fugiram para Xangai, um dos únicos lugares com fronteiras abertas até 1943.
Do Leste
Coprodução franco-belga de 1993, o documentário de Chantal Akerman é uma viagem realizada pela diretora passando pelo Leste alemão, Polônia, países bálticos e Rússia. O filme documenta não apenas o deslocamento geográfico da cineasta, mas sobretudo sua busca de um Leste que, embora lhe seja estranho, é a terra de origem de sua mãe judia, nascida na Polônia e sobrevivente de Auschwitz.
Balagan
Uma trupe tenta, na israelense Akko, tratar do Holocausto em um coletivo de teatro que envolve também um palestino. A partir daí, o diretor Andres Veiel busca, neste filme de 1994, descobrir as feridas abertas existentes quando se fala do assunto. O documentário não é um filme sobre sobreviventes, mas sim sobre seus filhos e sobre como eles conseguem lidar com essa herança histórico-familiar.
A vida é bela
Tragicomédia encenada pelo italiano Roberto Benigni em 1999, o filme recebeu o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes e atraiu um imenso público em muitos países. Por ser uma das raras tentativas de abordar o tema dos campos de concentração com humor, teve recepção ambivalente por parte de alguns sobreviventes do Holocausto, que viram aí um perigo de banalização das atrocidades nazistas.
Foto: picture-alliance/dpa
O Pianista
Vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2002, o filme de Roman Polanski tem roteiro baseado nas memórias de Wladyslaw Szpilman, músico polonês que testemunha como Varsóvia é tomada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial e cuja família é assassinada no campo de concentração de Treblinka. O próprio Polanski sobreviveu ao Gueto de Cracóvia e perdeu a mãe assassinada em Auschwitz.
Foto: imago stock&people
O filho de Saul
Filme de 2015 do húngaro László Nemes (ex-assistente de Béla Tarr), tem como protagonista um integrante do Sonderkommando (grupo de prisioneiros judeus encarregados de limpar câmaras de gás e remover cadáveres), cuja ideia fixa é enterrar um garoto. Filme claustrofóbico, cujo uso do primeiro plano, os closes exacerbados e a câmera em constante movimento, tira o espectador de sua zona de conforto.