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História

Bernd Gräßler (sv)20 de agosto de 2008

Para quem viveu na ex-Alemanha Oriental, de regime comunista, 1968 é lembrado não como o ano das revoltas estudantis, mas como o marco representado pela Primavera de Praga.

Policial prende manifestante: movimento reformista é sufocado por tropas do Pacto de VarsóviaFoto: picture-alliance/ dpa

A tentativa dos reformistas sob o comando de Alexander Dubcek (primeiro-secretário do Partido Comunista) de construir na antiga Tchecoslováquia um socialismo democrático era acompanhada com atenção também na então Alemanha Oriental, de regime comunista.

A invasão das tropas do Pacto de Varsóvia em agosto de 1968 acabou, no entanto, com o "experimento de Praga", pondo também fim na esperança de muita gente na República Democrática Alemã (RDA).

Sonho jogado por terra

"Minha mulher chegou na cozinha e disse: eles invadiram. É o que todos sempre temiam", lembra Hartmut Zwahr, que em 1968 tinha 32 anos. Na época, o então jovem historiador da Universidade Karl Marx, de Leipzig, estava fascinado pela renovação do socialismo no país vizinho.

O alemão Zwahr pertence à minoria étnica dos sórbios. Em 1968, ele, que fala fluentemente tcheco, viajava com freqüência à então Tchecoslováquia e lia com regularidade os jornais locais, que sumiam rapidamente das bancas de Leipzig. Na então Alemanha Oriental, a população demonstrava, sem dúvida, simpatia por Dubcek e suas reformas. As tropas na Primavera de Praga destruíam, naquele momento, o sonho de muitos com um socialismo mais humano.

Medo de tudo e todos

Maio de 1968 em Praga: Alexander Dubcek ao centroFoto: picture-alliance/ dpa

"A invasão foi decepcionante e desoladora. A democratização de Dubcek já estava aliada, em março de 1968, à libertação de presos políticos. Milhares de pessoas saíram da prisão, havia mais liberdade de imprensa e de locomoção. Com a chegada das tropas, a esperança entre nós desapareceu. E devo confessar: tive medo da segurança do Estado. Não fiz mais amizades no meio que tinha a ver com as minhas atividades. Foram conseqüências amargas", lembra Zwahr.

Nos meses da Primavera de Praga, o alemão de Leipzig levou uma vida de dupla identidade. Na universidade, comportava-se de acordo com as expectativas em relação a um "camarada". À noite, porém, Zwahr escrevia um diário sobre as reuniões do partido – onde os camaradas linha-dura tomavam a palavra e os simpatizantes de Dubcek silenciavam – e sobre seus conflitos interiores. Ele escrevia piadas de teor político e descrevia a frustração cotidiana. Somente décadas mais tarde é que Zwahr pôde publicar suas anotações de então.

Protestos individuais

Em Frankfurt do Oder, a então estudante de 17 anos Hildegart Becker usava a máquina de escrever do pai, um pastor da Igreja Luterana, para redigir, junto de uma amiga e da própria irmã, uma mensagem de protesto contra a invasão de Praga, a seguir enviada aos habitantes da cidade, cujos endereços ela tirou da lista telefônica. Até a letra "K" ela conseguiu enviar, quando então foi pega pela Stasi, a polícia política da Alemanha Oriental.

"Nós nos comportamos de forma tão hábil (risos). Conseguimos mandar 150 cartas, gastamos um horror de selos e chegamos ao K, ou seja, acho que enviamos a mensagem para um terço ou para a metade da lista telefônica. Mas muito poucas cartas chegaram aos destinatários. E muitos daqueles que receberam as cartas entregaram as mesmas a representantes do regime. Isso só vim a saber muito mais tarde, quando li a documentação da Stasi", conta Becker.

Onipresença da Stasi

20 de agosto de 1968: sonho de 'socialismo mais humano' desmoronaFoto: AP

Entre 21 de agosto e fins de novembro de 1968, foram conduzidos, na Alemanha Oriental, processos de investigação envolvendo 1.290 pessoas, que haviam distribuído mensagens contra a invasão de Praga ou somente feito críticas em público ao fato.

Para o país comunista de então, cuja população vivia sob controle acirrado, tratava-se de uma verdadeira "onda de protesto". Entre os detidos estavam jovens operários e estudanes, alguns deles filhos de altos funcionários públicos ou de membros do partido único. Hildegart Becker foi presa três semanas depois da distribuição das mensagens.

"A gente nem podia imaginar o quanto eles pesquisaram até descobrirem quem tinha uma máquina de escrever. Três semanas mais tarde, quando estava indo para escola, parou um carro do meu lado. Me pediram a identidade e disseram que tinham algumas perguntas a fazer. Fizemos um percurso mínimo de carro, poderíamos ter ido andando. Eram 500 metros até a prisão", recorda Becker.

Depois de três meses detida, ela recebeu permissão para deixar a prisão pouco antes do Natal de 1968. O Estado não queria entrar em atrito excessivo com a Igreja, por isso a libertação da filha do pastor.

Hildegart Becker pôde concluir sua formação profissionalizante, estudou Engenharia Civil e mais tarde Teologia, tendo participado do movimento pelos direitos humanos em 1989, pouco antes da Queda do Muro de Berlim.

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