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Alemães têm mais medo de Trump que de Putin

Jefferson Chase rk
16 de julho de 2018

EUA podem ser aliado número um da Alemanha, mas, segundo estudo, dois terços dos alemães acham que presidente americano é mais perigoso que o russo. O que não surpreende: prioridades políticas dos países são diferentes.

O presidente dos EUA, Donald Trump, depois de chegar a Helsinki para encontro com Putin
O presidente dos EUA, Donald Trump, depois de chegar a Helsinki para encontro com PutinFoto: Reuters/L. Foeger

Questionados sobre qual líder mundial representa uma ameaça maior para a segurança global, 64% dos alemães escolheram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e não o o presidente russo, Vladimir Putin, segundo uma pesquisa do instituto britânico YouGov publicada no domingo (15/07), véspera do encontro de ambos em Helsinki.

A antipatia dos alemães em relação a Trump não acaba aí: 56% dos entrevistados acham que Putin é mais competente que Trump, que obteve apenas 5% da preferência nesse quesito. E ainda: 36% dos alemães gostam mais de Putin do que de Trump, enquanto 6% dizem o contrário – apesar de muitos entrevistados terem se recusado a indicar alguma predileção nessa questão.

O dado talvez mais surpreendente da pesquisa é que 44% dos alemães disseram que Putin tem mais poder que Trump, comparado a apenas 29% que disseram que o presidente dos Estados Unidos tem mais poder.

Os conservadores alemães partilham da aversão a Trump manifestada pelos cidadãos do país em geral. Em níveis similares aos dos entrevistados como um todo, os eleitores que votaram no partido CDU, da chanceler federal Angela Merkel nas últimas eleições legislativas (setembro de 2017), também consideram Putin mais simpático, competente e poderoso do que o presidente dos Estados Unidos. Na verdade, eleitores conservadores tinham uma tendência levemente mais alta (66%) de classificar Trump como mais ameaçador do que o total dos entrevistados (64%).

Numa entrevista concedida à edição dominical  do tabloide alemão Bild, o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, incluiu um alerta ao presidente americano.

"Diálogo requer  clareza, e no sistema de coordenadas de Trump essa clareza é ausente", afirmou Maas. "Qualquer um que esnobe seus parceiros corre o risco de sair perdendo no final. Acordos unilaterais em detrimento dos parceiros dos americanos também acabam prejudicando os Estados Unidos", acrescentou. "Se esse encontro produzir alguns impulsos para o desarmamento nuclear, seria um passo para a frente", considerou Maas.

Por um lado, os alemães temem que as tendências de "macho alfa" de Trump e Putin possam colidir durante a reunião em Helsinki, aumentando as tensões entre as duas maiores potências militares mundiais. Por outro, talvez eles tenham ainda mais medo de qeu Trump e Putin concordem demais.

"Os dois homens mais poderosos do mundo têm uma coisa em comum", diz o texto da principal matéria do Bild, publicada no domingo. "Eles querem enfraquecer a Europa."

Esse ponto de vista é amplamente difundido na Alemanha, onde muitos temem que as hostilidades ocasionais contra a aliança militar atlântica Otan, por exemplo, beneficie o objetivo estratégico de Putin de dividir o Ocidente e aumentar a influência internacional da Rússia.

"Donald Trump está se encontrando com Vladimir Putin, o homem que ele admira – e que se tornou o adversário do Ocidente", diz o texto principal da revista semanal Der Spiegel. "Se a cúpula de Helsinki se tornar um encontro de dois [líderes] que pensam igual, isso poderia abalar [profundamente] a Europa."

Uma das maiores preocupações dos alemães é a crença de que o homem de negócios e ex-estrela de TV Donald Trump pode estar extremamente abaixo do nível de um político veterano como Putin. "O presidente americano está tropeçando para dentro de uma cúpula com um ex-agente da KGB, o extinto serviço secreto soviético, que se manteve no poder por 18 anos, oprimiu a oposição, manipulou eleições democráticas e não tem escrúpulos em usar de violência", relata o Spiegel. "[Putin é] Alguém que sabe exatamente o que quer", descreve ainda o texto da revista.

A desconfiança das motivações e da capacidade de liderança de Trump fica evidente em como os alemães veem os EUA como um todo. Numa pesquisa do YouGov publicada no início de julho, os alemães foram questionados se tinham uma visão geralmente positiva ou negativa dos Estados Unidos: 59% disseram ver os EUA de forma negativa, comparados com apenas 29% que assinalaram a opção positiva.

A diferença entre a perspectiva negativa e positiva na França foi de 56% para 36%, respectivamente, enquanto mais entrevistados no Reino Unido disseram ver os Estados Unidos de forma positiva (48%) do que negativa (39%). Porém, a visita de Trump ao país na semana passada pode ter alterado esses números.

Os motivos para a antipatia dos alemães em relação a Trump são mais complexos do que a resposta visceral ao estilo de liderança abrasivo do presidente americano. Os alemães simplesmente têm prioridades diferentes.

Num estudo recente realizado pelo instituto de pesquisas de opinião Emnid para o diário Bild, perguntou-se aos entrevistados quais assuntos políticos eles consideravam os mais importantes. O aumento de despesas com o setor da Defesa, uma das prioridades de Trump, ficou em último lugar, com apenas 16%.

Segundo a pesquisa, os alemães também não estão particularmente preocupados com o aumento da imigração na Europa: apenas 38% dizem que priorizariam "limitar a imigração". O que parece preocupar mais os alemães é a pobreza na velhice, a manutenção de oportunidades de educação iguais para todos e a melhoria de seu sistema de saúde.

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