Alemães vestem quipá em protestos contra antissemitismo
25 de abril de 2018
Milhares de pessoas de vários credos se reúnem em Berlim e outras cidades em apoio à comunidade judaica. "Marcha do quipá" foi convocada após ataque na capital e em meio à preocupação com aumento do antissemitismo.
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Milhares de pessoas vestindo o quipá – chapéu característico dos judeus – saíram às ruas em várias cidades da Alemanha nesta quarta-feira (25/04) para protestos em apoio à comunidade judaica, em meio a preocupações com o crescimento do antissemitismo no país europeu.
Manifestantes se reuniram para a chamada "marcha do quipá" em cidades como Berlim, Colônia, Erfurt, Magdeburg e Potsdam. Na capital alemã, quase 2.500 pessoas de várias religiões se reuniram nas proximidades do Centro Comunitário Judeu, no distrito de Charlottenburg, segundo a polícia.
"Basta!", clamou Josef Schuster, principal líder da comunidade judaica na Alemanha, em discurso durante o protesto em Berlim. "Ficamos muito confortáveis na Alemanha. Um pouco de antissemitismo, um pouco de racismo, um pouco de hostilidade islâmica – isso tudo não é ruim? Sim, é ruim", afirmou Schuster. "É por isso que eu exijo 100% de respeito."
Outro discurso muito aplaudido pelos manifestantes foi o do prefeito de Berlim, Michael Müller, que declarou: "Hoje, todos nós vestimos quipás. Hoje, o quipá é símbolo de uma Berlim como queremos e na qual todos gostamos de viver."
Reinhard Borgmann, um judeu de 65 anos que perdeu vários tios-avós durante o Holocausto e cuja mãe só sobreviveu porque conseguiu se esconder dos nazistas, disse estar muito feliz com a elevada participação nos protestos, inclusive de cristãos, muçulmanos e ateus.
"Como judeus, queremos poder nos movimentar livremente, seja com quipá ou sem", afirmou o manifestante. "Queremos poder praticar nossa religião em paz, sem sermos discriminados por isso e sem vivermos com medo. O evento de hoje é um sinal – e um sinal importante."
As manifestações desta quarta-feira foram convocadas após um ataque contra dois jovens usando o quipá, ocorrido na semana passada na capital do país. As vítimas, um israelense de 21 anos e um alemão de 24, caminhavam à luz do dia no bairro de Prenzlauer Berg quando três homens se aproximaram e gritaram palavras em árabe. Um deles tirou o cinto e o utilizou para agredir o mais jovem deles, que filmou o incidente em seu telefone celular.
O ataque, que tem como principal suspeito um requerente de asilo sírio de 19 anos, provocou indignação na Alemanha e foi condenado pela chanceler federal Angela Merkel.
Esse foi o mais recente de uma série de incidentes antissemitas que têm levado judeus a se preocuparem com sua segurança na Alemanha – um país que, mais de 70 anos depois do Holocausto, ainda tenta se desvencilhar de seu passado nazista, responsável pela morte de 6 milhões de judeus.
Segundo autoridades alemães, 1.453 incidentes antissemitas foram registrados em 2017 em toda a Alemanha, o equivalente a quase quatro ataques por dia. Os números não foram muito diferentes em anos anteriores: em 2016, foram 1.469 incidentes e, em 2015, 1.366.
O ódio aos judeus esteve no centro de outra polêmica nesta quarta-feira, quando a indústria musical do país decidiu cancelar sua maior premiação, o Echo, depois que a cerimônia deste ano ficou manchada com a controversa premiação de um disco repleto de letras de teor antissemita.
Os rappers Kollegah e Farid Bang ganharam o prêmio de melhor álbum de hip-hop e música urbana nacional com o álbum Jung Brutal Gutaussehend 3. O disco inclui a música 0815, na qual há o seguinte trecho: "Meus músculos são mais definidos do que os de um preso de Auschwitz". A premiação gerou indignação e protestos no país.
Estima-se que cerca de 200 mil judeus vivam na Alemanha atualmente, a maioria imigrantes da antiga União Soviética – um número muito menor do que os 500 mil que residiam no país antes do Holocausto.
EK/ap/dpa/rtr/ots
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Os 70 anos de Israel
Triunfo ou catástrofe? Para os judeus, o dia 14 de maio de 1948 marca o nascimento de um Estado próprio. Fundação do país também é origem de conflitos com populações vizinhas, que se estendem por décadas.
Foto: Imago/W. Rothermel
Triunfo da esperança
Em 14 de maio de 1948, David Ben Gurion lê a Declaração de Independência de Israel perante o Moetzet HaAm (conselho do povo), em cerimônia tida como o ato de fundação do país. "Nunca perdeu a esperança", disse Ben-Gurion sobre o povo judeu. "Jamais cessou sua oração pelo regresso à casa e pela liberdade". Agora, os judeus estavam de volta à sua terra de origem - dispondo de seu próprio Estado.
Foto: picture-alliance/dpa
Novo tempo
A bandeira do novo Estado é logo içada em frente ao prédio das Nações Unidas, em Nova York. Para os israelenses, esse foi mais um passo em direção à segurança e à liberdade: eles finalmente conseguiam um Estado internacionalmente reconhecido.
Foto: Getty Images/AFP
Momento sombrio
O significado da fundação do Estado de Israel torna-se claro no contexto do Holocausto. Os nazistas assassinaram seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra. Nos campos de concentração, especialmente na Europa Central, eles mantiveram os judeus como trabalhadores forçados e os mataram em escala industrial. A imagem mostra os prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz após a libertação.
Foto: picture-alliance/dpa/akg-images
"Nakba" – a catástrofe
Os palestinos chamam a fundação de Israel como "nakba", a catástrofe. Cerca de 700 mil pessoas tiveram que deixar suas regiões para dar espaço aos cidadãos do novo Estado. Assim, a fundação de Israel é também o começo do chamado "conflito do Oriente Médio", que não foi resolvido nem mesmo após 70 anos, apesar de inúmeras iniciativas e tentativas de mediação.
Foto: picture-alliance/CPA Media
Trabalhando pelo futuro
A Autoestrada 2 não apenas liga as cidades de Tel Aviv e Netanya, mas também documenta as aspirações do jovem Estado. A estrada foi aberta em 1950 pela então primeira-ministra israelense, Golda Meir, que colocou o país num rigoroso curso de modernização econômica e social.
Foto: Photo House Pri-Or, Tel Aviv
Infância no Kibutz
Os Kibutzim – plural de "kibutz" – eram assentamentos coletivos rurais espalhados por Israel, construídos principalmente nos primeiros anos após a fundação do Estado. Aqui, em sua maioria judeus seculares e socialistas realizam na prática suas ideias de comunidade.
Foto: G. Pickow/Three Lions/Hulton Archive/Getty Images
Estado defensivo
As tensões com os vizinhos árabes continuam. Em 1967, culminam na Guerra dos Seis Dias, durante a qual Israel derrotou os invasores de Egito, Jordânia e Síria. Ao mesmo tempo, Israel assume o controle, entre outras regiões, de Jerusalém Oriental e da Cisjordânia – motivos de novas tensões e guerras na região.
Foto: Keystone/ZUMA/IMAGO
Assentamentos na terra inimiga
A política israelense de assentamentos alimenta frequentemente o conflito com os palestinos. A Autoridade Palestina acusa Israel de impossibilitar um futuro Estado palestino com a construção contínua de assentamentos. As Nações Unidas também condenam a medida.
Foto: picture-alliance/newscom/D. Hill
Ódio e pedras
Em dezembro de 1987, os palestinos protestam contra a dominação israelense nos territórios ocupados. O protesto começa na cidade de Gaza e se espalha rapidamente para Jerusalém Oriental e Cisjordânia. A revolta dura anos e termina com a assinatura dos Acordos de Oslo em 1993.
Foto: picture-alliance/AFP/E. Baitel
Enfim, a paz?
O primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin (esq.), e o chefe da OLP, Yasser Arafat (dir.), realizam negociações de paz em 1993, mediadas pelo então presidente dos EUA Bill Clinton. Elas culminam no Acordo de Oslo I, em que ambos os lados se reconhecem oficialmente. O assassinato de Yitzhak Rabin, dois anos depois, praticamente enterra o tratado.
Foto: picture-alliance/CPA Media
Cadeira vazia
O assassinato de Yitzhak Rabin provoca turbulência política na sociedade israelense. Moderados e radicais, judeus seculares e ultraortodoxos se afastam cada vez mais. Em uma manifestação em 4 de novembro de 1995, Rabin é morto a tiros por um estudante de direita radical. A imagem mostra o então primeiro-ministro Shimon Peres ao lado da cadeira vazia de seu antecessor.
Foto: Getty Images/AFP/J. Delay
Superando o passado
O genocídio dos judeus se reflete até hoje nas relações entre Alemanha e Israel. Em fevereiro de 2000, o então presidente alemão Johannes Rau faz um discurso no Parlamento israelense. Era mais um passo para superar o passado e reforçar a amizade entre os dois países.
Foto: picture-alliance/dpa
O muro israelense
A política israelense de assentamentos endurece as frentes do conflito com os palestinos. Em 2002, é construído um muro de 107 quilômetros na Cisjordânia. Embora tenha contribuído para suprimir a violência, a medida não resolve os problemas políticos do conflito entre os dois povos.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb/S. Nackstrand
Reverência aos mortos
O novo ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, abraça resolutamente a tradição da reaproximação entre Alemanha e Israel. Sua primeira viagem ao exterior é ao Estado judaico. Em março de 2018, ele deposita uma coroa de flores em homenagem às vítimas do Shoa no Memorial Yad Vashem.