Baixa participação
27 de setembro de 2009A participação eleitoral nas eleições parlamentares alemãs deste domingo (27/09) caiu para um nível recorde desde a Segunda Guerra Mundial. Apenas 72,5% dos eleitores foram às urnas, ou seja, 5% a menos que no último pleito, quando já havia sido registrada uma baixa histórica.
Tendência comprovada
Nas últimas décadas, porém, a população do país apresentou claras tendências a não querer votar. Se nos anos 1970, na então Alemanha Ocidental, praticamente 80% dos eleitores participavam de pleitos estaduais, hoje apenas 67% comparecem às urnas para eleger os representantes que governarão cada estado.
A tendência geral é decrescente e as abstenções se tornaram motivo de preocupação. Entre as razões para a não participação nas urnas, apontam especialistas, estão o desinteresse pela política, a vontade de protestar através do não comparecimento ou o simples enfado em relação aos representantes do povo no Parlamento.
O direito de voto, conquistado a duras penas no decorrer da história e considerado obrigação máxima do cidadão (embora não seja obrigatório no país), deixa de mobilizar parte da população, que se omite frente à vida política, seguindo a máxima: "Votar? Não, obrigada".
Três categorias de abstenções
Richard Hilmer, diretor do instituto de pesquisa de opinião Infratest dimap, divide as abstenções em três grupos: "O eleitor que não vota não é uma categoria definida. Há diversas peculiaridades que fazem com que uma pessoa não vote. Há aqueles que, de fato, nunca vão às urnas e formam o grupo das abstenções por princípio. Eles são, porém, uma exceção. Mais típicos são aqueles que decidem se vão às urnas ou não em função do tipo de eleição, do contexto e dos problemas do momento. Entre um e outro, há nas eleições as abstenções 'casuais', ou seja, aquelas pessoas que, por um motivo particular, seja este de doença ou qualquer outra coisa, se vêem impossibilitadas de ir às urnas", explica Hilmer.
Decisivas para uma eleição são as abstenções do segundo grupo, ou seja, ao contrário daqueles que nunca votam mesmo ou dos que se vêem impedidos de votar por algum motivo corriqueiro, os "indecisos" podem, através de temas concretos ou do carisma de um ou outro político, serem convencidos, de última hora, a irem às urnas.
Eleições estaduais e federais
Uma especificidade das eleições na Alemanha é a baixa participação nas eleições estaduais, que geralmente registram um número muito mais alto de abstenções que as eleições para o Bundestag.
"De fato, o significado das eleições estaduais diminuiu nos últimos anos. Os cidadãos têm cada vez mais a impressão de que problemas centrais, como o desemprego e o desenvolvimento econômico, não são mais definidos na esfera estadual, mas basicamente no nível federal", analisa Hilmer.
Trata-se de uma tendência registrada em todo o país. "Quando os eleitores têm a impressão de que, numa eleição estadual, a coalizão entre diferentes partidos ainda está em aberto e de que o resultado depende do voto de cada um, então aumenta o interesse pelo pleito. Aí também há uma cobertura maior da mídia sobre a eleição em questão, fazendo com que caia o número de abstenções", diz Hilmer.
Poder de decisão
A sensação de poder definir, de alguma forma, a política, podendo mudar alguma coisa, poderia, acredita Hilmer, motivar mais o cidadão a comparecer com mais regularidade às urnas. Mas não apenas as coalizões são decisivas. Muitas vezes, tudo é uma questão de convencimento, ou seja, da capacidade dos políticos de estabelecer um diálogo com os eleitores e de apresentar alternativas concretas.
O exemplo mais recente da história em nível internacional foi a eleição de Barack Obama para a presidência dos EUA, um país conhecido por um alto percentual de abstenções em torno de 50%. A ampla rejeição ao ex-presidente George W. Bush e o carisma de Obama, especialmente em sua campanha pela internet, fizeram com que a participação nas urnas subisse para mais de 66% – o maior percentual de eleitores num pleito nos últimos 100 anos nos EUA.
Autora: Nadine Wojcik (sv)
Revisão: Rodrigo Rimon