Alemanha atrai mais cientistas e estudantes estrangeiros
Richard A. Fuchs (av)14 de julho de 2016
País é o terceiro que mais atrai pesquisadores e professores e o quinto destino favorito de jovens que vão estudar no exterior. Brexit pode ter efeitos negativos para alemães que escolherem universidades britânicas.
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A ministra alemã da Educação, Johanna Wanka, estava visivelmente satisfeita ao apresentar, nesta quarta-feira (13/07), o relatório anual sobre a mobilidade internacional de pesquisadores e estudantes universitários. "A Alemanha se transformou num polo bem central para os cientistas internacionais", declarou, resumindo as conclusões do estudo Wissenschaft weltoffen 2016 (Ciência aberta para o mundo 2016).
Em 2014 pesquisaram e lecionaram em universidades e centros de pesquisa extra-universitários na Alemanha mais de 85 mil acadêmicos estrangeiros, número absoluto só superado por Estados Unidos e Reino Unido, países de língua inglesa. Os setores acadêmicos mais procurados são engenharia, matemática e ciências naturais, mas também medicina. Nesse aspecto, a Sociedade Max Planck de Pesquisa Básica tem um papel exemplar: um terço de seus funcionários possui passaporte estrangeiro.
Vitória do cosmopolitismo
Em contrapartida, 43 mil cientistas alemães trabalharam no exterior em 2014, principalmente na Áustria, na Suíça, na Holanda e no Reino Unido. Mas também cresceu o número dos intercâmbios com a China, a Coreia do Sul e o Japão.
A ministra da Educação tira uma conclusão otimista: "Em tempos em que, em muitos países, há correntes políticas que parecem estar se despedindo de um maior cosmopolitismo, esses números mostram: a ciência da Alemanha está interconectada em nível internacional e, justamente por isso, é atraente e tem alto desempenho."
Outro reflexo seriam as publicações científicas no país, metade das quais é coassinada por um pesquisador estrangeiro. Wanka atribuiu essa situação também à Iniciativa de Excelência, financiada pelos governos estaduais e federal, que disponibiliza verbas para instituições de ponta, intercâmbio internacional e mobilidade científica.
Alemanha em 5º lugar entre os destinos acadêmicos
O relatório registra igualmente uma significativa intensificação da mobilidade dos estudantes, tanto para a Alemanha quanto a partir dela, nos últimos anos. Em 2015 estavam inscritos nas instituições superiores nacionais cerca de 320 mil estrangeiros e alemães com passaporte de outro país – o equivalente a 11,9% do contingente estudantil total. Desses universitários, mais de 30 mil eram oriundos da China.
"Para 2016 são esperados 339 mil estudantes estrangeiros. Com isso, já foi praticamente alcançada a meta de 350 mil até o ano 2020", apontou Monika Jungbauer-Gans, diretora geral do Centro Alemão de Pesquisa Universitária e Científica (DZHW), no evento em Berlim.
Para fins de comparação: a Unesco calcula em 200 milhões o total dos estudantes universitários em todo o mundo, dos quais apenas 4 milhões iniciam estudo no estrangeiro, ficando 700 mil concentrados na América do Norte.
Desse modo, a Alemanha avançou para a quinta colocação no ranking internacional das destinações acadêmicas, enfatizou Magret Wintermantel, presidente do Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD), acrescentando que o fomento ao idioma alemão segue sendo um grande desafio.
Possíveis efeitos negativos do Brexit
No tocante à mobilidade dos estudantes alemães no exterior, registrou-se recentemente um ligeiro recuo devido a efeitos estatísticos. Em 2013, quase 135 mil alemães estavam matriculados para cursos no exterior, visando a obtenção de um grau universitário. Os quatro destinos preferidos foram Áustria, Holanda, Reino Unido e Suíça.
Ultimamente o Reino Unido crescera mais de 14% em termos de atratividade, mas isso poderá mudar devido à decisão do país de se desligar da União Europeia. "No momento em que não vigorar mais a livre circulação, vai haver consequências", advertiu Wanka.
As autoridades de educação e ensino alemãs também observam com apreensão o intercâmbio com o Reino Unido no âmbito do programa Erasmus. Até agora, os estudantes podiam se matricular gratuitamente nas instituições britânicas, o que poderá ser alterado durante as negociações do Brexit.
Dez dicas para estudar na Alemanha
A Alemanha está se tornando um destino cada vez mais atraente para estudantes de diversos países, mesmo aqueles com tradição em receber estrangeiros nas suas universidades, como Inglaterra e Estados Unidos.
Foto: DAAD/Volker Lannert
Gratuidade relativa
Depois de longo impasse e muitos protesos, os Estados alemães aceitaram, no ano passado, abolir as mensalidades em várias universidades. Mas só fica livre do pagamento de taxas quem se candidatar para cursos específicos nas universidades públicas, aceitar e quiser estudar sob as mesmas condições que os estudantes alemães - com todos os desafios inerentes.
Foto: Fotolia/N-Media-Images
Controle sua tendência “workaholic”
O visto para estudante limita a permissão de trabalho. Estudantes sem passaporte da União Europeia podem trabalhar anualmente 120 dias em tempo integral ou 240 em tempo parcial. Durante o semestre, estudantes devem somente trabalhar 20 horas por semana. Comparando com EUA e Inglaterra, aluguel, alimentação, seguro saúde e transporte público são mais baratos.
Foto: DW/M. Soric
Candidatura de bolsas
Se você é talentoso na sua área e assíduo em candidaturas, deve haver uma fonte de financiamento esperando por você para estudar na Alemanha. O DAAD – Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico - é uma instituição pública e oferece diversas possibilidades de auxílio para estrangeiros. Existem também fundações com bolsas especiais. A bolsa ajuda o estudante ser aceito na universidade.
Foto: DAAD - Chile
A luta dos imigrantes é real
Se voce não for cidadão europeu, certamente terá que dedicar bastante tempo ao Ausländerbehörde (o serviço de imigração). Você será responsável por resolver questões fundamentais para a sua permanência no país, como arranjar um seguro de saúde, provar suas condições financeiras, encontrar um apartamento, registrar-se na prefeitura, renovar o visto e manter esses documentos organizados.
Foto: AP
Não tema formulários
Você precisará se acostumar com papeladas e formulários diversos, convenções e linguagem burocrática. Tenha sempre a cópia de tudo. Ser organizado e rápido para acessar seus documentos vai ser um ponto importante a seu favor em situações concretas - desde negociações para um visto até eventuais problemas com apartamentos alugados.
Foto: picture-alliance / dpa/dpaweb
Falar alemão ajuda
Na maioria das cidades alemãs, você poderá viver sem saber a língua local. Muitos cursos nas universidades estão disponíveis inclusive em inglês. Contudo, a sua vida será mais fácil se você dominar o idioma alemão. Isso auxiliará em situações do quotidiano – desde lidar com servidores públicos até fazer amigos. Se você decidir trabalhar, a fluência será clara vantagem.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Kalaene
As universidades não vão paparicar você
Muitas universidades privadas no Brasil costumam pegar os estudantes pelas mãos e quase implorar para que concluam seus trabalhos no final do semestre. Não é bem assim que o ensino superior alemão funciona. Você terá retorno se investir tempo e energia. Enquanto alguns cursos são mais expositivos - com avaliação da participação em aula e apresentação de seminários - outros fazem exames finais.
Foto: DW/J. Albrecht
Diversos tipos de acomodações
Algumas universidades alemãs têm residências oficiais para estudantes a seu modo - pode ser uma pequena “vila de estudantes” (Studentendorf) ou blocos de apartamentos localizados na zonas urbanas, que oferecem um quarto simples. Você pode também tentar partilhar um apartamento, ingressando em uma WG (Wohngemeinschaft). Esta pode ser uma boa alternativa para fazer amigos e aprimorar o idioma.
Você não será o primeiro
Não interessa a crise existencial que o afete – seja problemas com o visto ou o ingrediente “exótico” daquela comidinha caseira: alguém em algum fórum de discussão sobre a Alemanha já começou um debate espirituoso sobre o tema. Crie o costume de fazer buscas simples nestes fóruns antes de pedir dicas. Poucas coisas irritam mais os sabichões expatriados do que perguntas redundantes.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Bozoglu
Atenção: você pode querer ficar para sempre
Você terminou o curso e agora só vai querer ficar mais um tempinho, relaxar um pouco na Alemanha, talvez trabalhar e depois voltar para casa para se estabilizar financeiramente, certo? Talvez. Ou você pode se apaixonar perdidamente pela Alemanha. Então vai ter de enfrentar o dilema de dizer permanentemente Tschüss para a sua terra natal ou partir o seu coração por deixar um país encantador.