Alemanha atinge recorde de 3,26 milhões de refugiados
8 de setembro de 2023
Balanço oficial foi obtido pelo partido A Esquerda após questionamento ao governo federal. Montante soma refugiados, solicitantes de asilo e tolerados.
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O Departamento Federal de Administração da Alemanha (BVA, na sigla em alemão), órgão responsável pelo registro de estrangeiros, contabilizou no final de junho de 2023 o recorde de 3,26 milhões de refugiados no país. Somente de janeiro a junho deste ano, 111 mil pessoas buscaram abrigo na Alemanha.
Dois dos fatores que possivelmente influenciaram esse número recorde foram as pessoas que chegaram à Alemanha vindas da Ucrânia devido à guerra , mas, também, a nova lei de oportunidade de residência, em vigor desde 31 de dezembro de 2022 e que impediu que milhares de pessoas fossem deportadas.
Os dados foram divulgados pelo jornal alemão Neue Osnabrücker Zeitung nesta sexta-feira (08/09) e são uma resposta oficial do governo federal a um questionamento do partido A Esquerda.
O número inclui refugiados, refugiados de guerra, solicitantes de asilo e tolerados — pessoas que tiveram processo de deportação negado, mas que não pode retornar ao país de origem por vários motivos, como ameaça de guerra ou de prisão, gravidez ou doença grave, ou por estar estudando ou em treinamento profissional na Alemanha.
Segundo o partido A Esquerda, o número é o maior contingente registrado no país desde os anos 1950. A resposta do ministério do Interior a Clara Bünger, integrante do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), ressalta que muitos desses refugiados vivem na Alemanha há anos, ou mesmo décadas.
A quantidade de refugiados da Ucrânia cresceu pouco em seis meses: 29 mil entraram no país. Com isso, o grupo soma agora cerca de um milhão de pessoas. Embora o total de ucranianos que emigraram para a Alemanha tenha sido muito maior do que esse montante, uma parcela já retornou ao país de origem, alega o governo alemão.
Os solicitantes de asilo e os que pediram a admissão no país por razões humanitárias, como, por exemplo afegãos, representam uma pequena parcela dos migrantes: 4 mil pessoas.
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Mesmo sem asilo, impossibilitados de voltar
O documento ressalta que o total de pessoas obrigadas a deixar a Alemanha atingiu o menor número em 10 anos. Houve uma redução de 8% nesse indicador. Em 2023, 279.098 pessoas estavam nessa situação.
Um dos motivos para a queda foi a nova lei de permanência adotada pela coalizão que governa o país (social-democratas, verdes e liberais). A medida permite que pessoas com estadia tolerada possam solicitar o visto de residência permanente se tiverem morado na Alemanha por pelo menos cinco anos até 31 de outubro de 2022.
O documento aponta que cerca de 80% das pessoas obrigadas a deixar a Alemanha têm a estadia permitida porque não podem ser deportadas em função da situação no país de origem, por razões legais ou humanitárias, por exemplo.
jm/le (ots)
Entre saudades de casa e recomeço: ucranianas na Alemanha
Elas fugiram da guerra sem saber exatamente o que as esperava. DW conversou com cinco refugiadas da Ucrânia que deixaram o país em guerra, em nome da própria segurança e dos filhos, deixando para trás parte de si.
Foto: DW
"Queria ir para casa"
Olexandra deixou Kiev em 23 de março de 2022 e agora vive na cidade de Bergisch Gladbach, no Oeste alemão. "Eu queria ir para casa, mas ainda não é possível. Às vezes tenho vontade de deixar tudo e voltar para Kiev, mesmo com bombas caindo. É difícil, aqui no estrangeiro. Temos que salvar tantas vidas quanto possível, para reconstruir o país. Esse pensamento me ajuda a aguentar a situação."
Foto: DW
"Meu Deus, que eu sobreviva até amanhã"
Olexandra recorda: "Em 15 de março decidi ir embora: uma estação de metrô nas vizinhanças tinha sido atingida, acordei com as paredes da casa tremendo. Em 23 de março tomei o trem para ficar com uma amiga em Lviv. Mas em 26 de março bombas caíram lá, também. Eu estava no porão e pensei: 'Deus, me deixa sobreviver até amanhã.' De Lviv, fui primeiro para a República Tcheca, e de lá para a Alemanha."
Foto: DW
Abrigo numa garagem
Olexandra passou os primeiros dias da guerra numa garagem subterrânea. "No terceiro dia acabou a comida. A um certo ponto eu não tinha forças nem para prender os cabelos com um elástico. No abrigo antiaéreo tinha uma toalete e uma pia em que se podia lavar a louça. Chuveiro não havia."
Foto: Privat
"Fiquei chocada"
Olena deixou a região de Kiev com os filhos em 10 de março, e agora vive em Colônia. "Venho da região de Donetsk, minha cidade natal é Avdiivka. Em 2014 e 2015 ficamos lá oito meses sob bombardeios. E aí veio o 24 de fevereiro de 2022. Meu Deus, eu nunca teria pensado que ia haver guerra novamente, fiquei chocada."
Foto: DW
Fuga sob perigo de vida
Sobre as duas primeiras semana de guerra nas proximidades de Kiev, Olena conta: "No lugarejo mesmo não havia soldados russos, mas bem perto, em Bucha, Makariv e Borodyanka. Havia bombardeios horríveis. Decidi pegar as minhas coisas e fugir. Ficar significaria pôr em perigo também a vida e a saúde dos meus filhos."
Foto: DW
"Ficamos na Alemanha"
Olena se considera de muita sorte: "Nunca estive aqui, mas era o único país para onde eu queria ir. Me ajudaram a encontrar um alojamento. Aqui me sinto bem e segura. Acho que vamos ficar na Alemanha. As crianças já estão indo à escola e aprendem alemão, eu também. Já fugimos duas vezes da guerra, agora os meus filhos precisam crescer em paz."
Foto: DW
"Mamãe, vou morrer agora?"
Tatiana se foi de Kharkiv em 5 de março e agora mora em Bonn. Na Ucrânia, viveu três semanas sob bombardeios. "Minha filha de dez anos tinha muito medo, chorava e perguntava, o tempo todo: 'Mamãe, eu vou morrer agora? Fugir foi amedrontador, mas não podia mais ver a minha filha nesse estado."
Foto: DW
Num bunker de Kharkiv
Sobre a fuga de Kharkiv, Tatiana relata: "Depois de cinco dias chegamos a Lviv, de lá seguimos para a Polônia. Os guardas de fronteira foram amigáveis e nos diziam o tempo todo que estávamos em segurança. Eles nos ajudaram a carregar nossas bolsas, voluntários davam brinquedos para as crianças, nos forneciam comida quente e tudo de que a gente precisava."
Foto: privat
"Meu coração está em Kharkiv"
Tatiana agradece à Alemanha e a outros países europeus pela ajuda: "Posso estar em segurança, mas com meu coração estou em Kharkiv, com a minha familia e os meus amigos. Todas as noites eu leio as notícias sobre bombardeios, mortos e feridos. Toda manhã eu ligo para minha família e amigos, na esperança de que tudo esteja em ordem com eles."
Foto: DW
Com amigos na Alemanha
Inna conta que ela e a amiga Xenia, ambas de Odessa, vieram para a Alemanha ficar com amigos que lhes ofereceram abrigo provisório. Os filhos de ambas continuam tendo aula online em suas escolas na Ucrânia. Elas são gratas a quem as ajudou.
Foto: DW
"O pior de tudo é a incerteza"
Entretanto elas estão longe de ter paz: "Vivemos na incerteza, pois não sabemos o que vai acontecer em seguida. Está claro que vamos ter que reconstruir o nosso país, e também que não vai haver empregos, porque a economia sofreu. Todos os ucranianos sabem disso. Mas o pior é ninguém saber quanto tempo isso vai durar, e o que fazer agora."
Foto: DW
"Também quero voltar para casa"
Inna quer retornar a Odessa. Xenia acrescenta: "Também eu quero ir para casa, aqui só somos hóspedes. Mas o meu marido é contra eu voltar, embora algumas vezes eu tenha estado quase a ponto de partir, apesar da guerra. Eu nunca teria deixado a minha cidade. Se o meu marido estivesse comigo, eu me sentiria diferente. Ele está em Odessa e patrulha a nossa rua."