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Alemanha ajuda a recuperar manuscritos históricos no Mali

3 de março de 2013

Mais da metade dos estimados 350 mil documentos antigos das bibliotecas de Timbuktu foram salvos de incêndios promovidos por rebeldes islâmicos. Ministério do Exterior e fundação alemã apoiam a recuperação do acervo.

Mali Timbuktu Bibliothek DokumenteFoto: Getty Images

Abdel Kader Haidara, diretor da Biblioteca Mamma Haidara, do Mali, e seus funcionários, conseguiram retirar mais de 200 mil documentos das bibliotecas de Timbuktu. Tudo de forma bastante improvisada. Em carros particulares, parte dos manuscritos foi levada para a capital, Bamako.

O Ministério alemão do Exterior quer agora participar do resgate dos escritos. Mais de quatro mil dos mais importantes escritos científicos, filosóficos e teológicos da Idade Média árabe-africana se encontram armazenados na embaixada alemã, dentro de caixas de arquivo fornecidas pelo ministério.

Berlim confirma apoio

O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, mostrou-se satisfeito com o apoio logístico e financeiro do lado alemão. "É uma grande sorte que tenhamos conseguido salvar mais de 200 mil manuscritos de Timbuktu. Eu me alegro que uma grande parte deste valioso tesouro cultural tenha sido colocada em segurança também com a ajuda alemã. Agora, precisamos inventariar o acervo e preservá-lo para a posteridade. Nós nos dispomos a apoiar vigorosamente a reconstrução da biblioteca em Timbuktu." O governo alemão, entretanto, não quis, por enquanto, citar cifras concretas para a ajuda financeira.

Em sua fuga dos soldados malineses e franceses, os rebeldes islâmicos incendiaram em 28 de janeiro de 2013 o Instituto Ahmed Baba. O edifício, de traços modernos, havia sido inaugurado somente quatro anos antes, numa obra que custou vários milhões de euros.

Os milhares de manuscritos guardados na biblioteca do instituto eram tidos como especialmente valiosos, por fazerem parte do Patrimônio Mundial da Unesco. A Biblioteca Ahmed Baba é apenas uma das cerca de 80 bibliotecas particulares de Timbuktu.

"Crime cultural"

A princípio, não era conhecida a amplitude da destruição. Mesmo cientistas do Tomboctou Manuscript Project, da Universidade da Cidade do Cabo, encarregada do arquivamento dos documentos, não conseguiram precisar quanto foi destruído dos tesouros.

Só dos 30 mil manuscritos que estavam guardados na Biblioteca Ahmed Baba, nem mesmo um terço estava catalogado, segundo informações divulgadas após o incêndio, classificado por muitos meios de comunicação como um "crime cultural".

A revista Time noticiou no final de janeiro que moradores de Timbuktu e funcionários de órgãos de preservação do patrimônio histórico já haviam previsto um possível ataque dos militantes radicais islâmicos à Biblioteca Ahmed Baba, tendo levado a maioria dos documentos muito antes do incêndio. Shamil Jeppi, diretor do Tomboctou Manuscript Project, confirmou estas informações à Time.

Fundação alemã participa da reconstrução

A fundação alemã Gerda Henkel apoiará os trabalhos para reconstrução da Biblioteca Ahmed Baba. O objetivo da instituição, sediada em Düsseldorf, no oeste da Alemanha, é o incentivo científico, incluindo as ciências históricas islâmicas.

"Temos atualmente, uma estreita cooperação com o Ministério do Exterior, tentando fazer um balanço inicial do acervo", diz Michael Hanssler, presidente da instituição. "A situação continua ainda muito confusa. Ninguém sabe quantos eram os manuscritos e quantos chegaram inteiros em Bamako. Vamos considerar ainda como prosseguir os trabalhos, com o auxílio de especialistas. Provavelmente, optaremos por uma digitalização dos manuscritos e por medidas de proteção contra a ação do tempo."

No século 16, Timbuktu tinha uma universidade com mais de 20 mil alunos e entre 100 e 150 escolas corânicas, de acordo com Hanssler. "Os manuscritos descrevem a história da região e são, por isso, de grande importância cultural e histórica, mesmo fora do Mali. A princípio, são interpretações jurídicas e textos islâmicos, além de descrições de viagens e textos didáticos sobre astrologia, retórica e a língua árabe", afirma o especialista. É também provável que houvesse na biblioteca tratados muito antigos sobre fitoterapia, sobre música e até mesmo sobre as sandálias do profeta Maomé.

Hanssler é a favor de uma cooperação mais estreita com os malineses e que os documentos, na medida do possível, permaneçam no país. "Devemos trabalhar em conjunto para garantir que seja encontrado um lugar seguro para o armazenamento do acervo. Logicamente, sob a condição de que as operações militares não atinjam também a capital."

Autor: Nikolas Fischer (md)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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