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Alemanha amplia pensões para sobreviventes do Holocausto

6 de outubro de 2021

Organização judaica garante benefícios mensais pagos pelo governo alemão para 6,5 mil sobreviventes do cerco a Leningrado e de outros episódios do terror nazista.

Nonna Revzina, sobrevivente do cerco a Leningrado, vive em Berlim e está apta a receber benefício do governo.
Nonna Revzina, sobrevivente do cerco a Leningrado, vive em Berlim e está apta a receber benefício do governoFoto: Michael Sohn/AP Photo/picture alliance

Uma organização que defende os interesses de sobreviventes do Holocausto anunciou nesta quarta-feira (06/10) que assegurou o pagamento de pensões para 6,5 mil pessoas por parte do governo da Alemanha.

A Claims Confererence, que negocia as compensações, informou que entre os beneficiados estão sobreviventes do cerco a Leningrado – um dos episódios mais brutais da Segunda Guerra Mundial, ocorrido durante a ofensiva nazista na então União Soviética –, além de outros grupos que conseguiram fugir do terror imposto pelo nazismo em outras partes da Europa.

Em suas negociações anuais com o governo em Berlim, a ONG trabalha para expandir o número de pessoas aptas a receber compensações. Os 6,5 mil sobreviventes receberão mensalmente a quantia de 375 euros (em torno de 2,4 mil reais) a partir de julho.

Os novos beneficiários são, aproximadamente, 4,5 mil sobreviventes do cerco a Leningrado; 800 judeus franceses e 1,3 mil judeus que sobreviveram à guerra na Romênia. Essas pessoas já haviam recebido pagamentos únicos de compensações financeiras e agora estão aptas a receber a pensão mensal.

"Dignidade roubada"

"Enquanto essa última geração de sobreviventes envelhece, aumentam suas necessidades", disse o presidente da Claims Conference, Gideon Taylor. "Mesmo 75 anos após o Holocausto, esses pagamentos simbólicos proveem reconhecimento e restauram uma parte da dignidade roubada dos sobreviventes em sua juventude."

A entidade de nome Conference on Jewish Material Claims Against Germany ("Conferência sobre Reivindicações Materiais Judaicas contra a Alemanha", em tradução livre), mais conhecida somente como Claims Conference, é uma ONG baseada em Nova York com escritórios na Alemanha e Israel.

O grupo, fundado por representantes de 23 organizações judaicas internacionais, negocia compensações financeiras para sobreviventes do Holocausto desde que foi criada, em 1952.

Em outubro do ano passado, após uma intervenção da Claims Conference, a Alemanha concordou em pagar mais de 560 milhões de euros (cerca de 3,5 bilhões de reais) adicionais como auxílio emergencial a vítimas do Holocausto durante a pandemia de covid-19

Na rodada de negociações do ano passado, Berlim já concordara em aumentar em 30,5 milhões de euros o financiamento de serviços sociais em 2021, até um total de 554 milhões de euros. Esse fundo fornece cuidados a domicílio, alimentos, medicamentos e transporte. 

O cerco a Leningrado

Leningrado, agora rebatizada de São Petersburgo, na Rússia, foi sitiada durante dois anos e meio pelas forças nazistas. Mais de um milhão de pessoas morreram de fome ou em consequência dos bombardeios aéreos e de artilharia contra a cidade.

Embora a população como um todo tenha sofrido com a brutalidade do cerco, os judeus foram alvo de humilhação pública, além de serem culpados pelas dificuldades da época.

Os nazistas lançavam panfletos sobre Leningrado, pedindo que os moradores identificassem amigos, vizinhos e colegas judeus. Espiões também foram enviados para a cidade para instigar distúrbios que então eram atribuídos à população judaica.

Ninna Revzina, de 85 anos, uma das sobreviventes agora aptas a receber a pensão do governo alemão, vive atualmente em uma casa de repouso em Berlim. Ela afirma que sua família tinha conhecimento de que "se os nazistas conquistassem a cidade, todos os judeus seriam imediatamente mortos".

A bibliotecária aposentada treme ao lembrar de quando assistia, do sexto andar do prédio onde morava, aos bombardeios nazistas contra Leningrado, que bloqueavam as linhas de abastecimento da cidade.

Ela chora ao lembrar do pai, que morreu faminto e doente em 1942. Sua mãe não teve outra escolha a não ser levar o corpo em um trenó até um local onde centenas de cadáveres eram depositados. Até hoje, Revzina não sabe se o pai foi enterrado ou não.

Hoje, lana Solovej, estudante de 23 anos e neta de Revzina, ajuda a avó com as necessidades diárias. "Essa é uma grande notícia para ela", e a nova pensão "fará uma grande diferença", disse a jovem. 

Revzina migrou para a Alemanha em 1996, alguns anos depois de seus dois filhos adultos fazerem o mesmo. Ela ajudou a criar seus três netos na capital alemã. "A pensão será uma ajuda muito grande para mim", afirmou. "Eu gosto de ir a cafés, e poderei fazer isso mais vezes agora."

rc/lf (DW)

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