Alemanha aperta cerco aos fumantes
18 de maio de 2005A charge da edição desta quarta-feira (18/05) do jornal Kölner Stadt-Anzeiger, de Colônia, enfoca um dilema do país. Ela mostra a ministra da Defesa do Consumidor, a verde Renate Künast, empunhando um cartaz com os dizeres "Fumar é extremamente mortal", enquanto é observada pelos social-democratas Hans Eichel, ministro das Finanças, e Gerhard Schröder, chefe de governo, que diz: "Ela deveria pensar mais nos buracos do nosso orçamento!".
Se, por um lado, o imposto sobre o tabaco é um importante aliado do Ministério das Finanças para abastecer os cofres públicos, o Ministério da Saúde cumpre suas funções e adverte para os perigos a que o contribuinte é submetido quando fuma. Que o cigarro faz mal à saúde e a indústria acrescenta aditivos aos produtos de tabaco para torná-los mais "saborosos", já se sabe há tempos.
O ministério de Künast, no entanto, foi mais longe e publicou em sua página na internet, nesta terça-feira, uma lista de 1174 páginas sobre os aditivos contidos nos produtos de tabaco. As informações baseiam-se em dados fornecidos por fabricantes e importadores.
Adição de substâncias regulamentada em 1977
Na fabricação de cigarros e assemelhados, são acrescentados vários ingredientes ao tabaco, com o objetivo de aumentar o "prazer do consumidor". Aí aparecem, entre outros, diversas variantes do açúcar, cacau, amoníaco, ácido lático, mel, baunilha, canela ou mentol. Segundo Künast, o suposto efeito "light" provocado pelos ingredientes doces pode causar a dependência de jovens e crianças.
"Devemos fazer de tudo para impedir que principalmente os jovens comecem a fumar", disse Künast em Berlim e complementou: "Por isso, apóio a proibição da propaganda que apresenta o vício de fumar como algo chique".
A decisão neste sentido foi tomada nesta quarta-feira pelo gabinete de governo, obedecendo a uma diretriz européia que obriga os países-membros a proibirem até o final de julho as propagandas de produtos de tabaco em jornais, revistas, na internet e em competições esportivas transmitidas ao exterior.
Oitenta substâncias comprovadamente cancerígenasO ministério pretende agora testar em conjunto com outros países da União Européia a nocividade destas substâncias quando aliadas à combustão do cigarro, para eventuais proibições no futuro. Das 4800 substâncias que serão pesquisadas, cerca de 80 são comprovadamente cancerígenas.
Os aditivos são legais, regulamentados no país em dezembro de 1977. Trata-se de cerca de 600 substâncias e misturas químicas, que podem perfazer 10% do peso de um cigarro. "Há uma mistura para cada gosto", garantiu o professor Heinz Walter Thielmann, do Instituto do Câncer de Heidelberg.
Os principais riscos à saúde decorrem do aquecimento do tabaco e dos aditivos a até 900ºC, que originam substâncias cancerígenas, como formaldeídos, epóxidos e nitrosaminas.
"Das 210 mil mortes por câncer ao ano na Alemanha, 33% devem-se ao fumo", advertiu Thielmann à revista Der Spiegel. Ele acrescenta que estudos atuais comprovam que a longo prazo o consumo de cigarro acaba matando 33% a 50% dos fumantes.
Polêmica atinge escolas e trânsito
O debate sobre o fumo vem tomando força no país. No começo do ano, foi sua proibição completa nas escolas até o final do ano. Na semana passada, a polêmica girou em torno do fumo ao volante, mas não ganhou muita força.
Também a encarregada do governo alemão para assuntos sobre drogas, Marion Caspers-Merk, juntou-se ao coro de críticos ao denunciar os altos custos em conseqüência do fumo. Segundo ela, as caixas de saúde gastam pelo menos 20 bilhões de euros no tratamento de doenças causadas pelo tabaco.
"Os custos representam pelo menos o dobro da arrecadação anual com os impostos sobre produtos de tabaco", acrescentou Caspers-Merk em entrevista ao jornal Leipziger Volkszeitung.
Ao destacar a importância de coibir o consumo, ela lembrou que até março do próximo ano pelo menos 30% dos estabelecimentos gastronômicos alemães serão obrigados a oferecer 30% de seu espaço para não-fumantes. "De forma progressiva, dois anos depois, ao menos 90% dos estabelecimentos terão de garantir a metade de seu espaço para clientes que não fumam", salientou Caspers-Merk.