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Boicote alemão

20 de abril de 2009

Alemanha decide não participar do evento por temer que ele seja novamente instrumentalizado a fim de veicular ataques propagandísticos contra Israel. É a primeira vez que o país boicota uma conferência da ONU.

Manifestantes em Genebra exigem combate ao racismoFoto: AP

A Alemanha decidiu não participar da Conferência Mundial Contra o Racismo organizada pela ONU de 20 a 24 de abril em Genebra, na Suíça. O governo alemão teme que o evento seja usado por países islâmicos como uma plataforma para a veiculação de ataques propagandísticos contra Israel, como aconteceu na edição anterior, realizada em 2001 em Durban, na África do Sul. É a primeira vez que a Alemanha boicota uma conferência da ONU.

Também Holanda, Polônia, Itália e Nova Zelândia se negaram a participar. Israel, Austrália e Canadá haviam anunciado sua ausência com antecedência. Durante a 5ª Cúpula das Américas, encerrada no último final de semana, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou que também seu país não estará presente, alegando que o esboço da declaração final sinaliza que a conferência pode tomar o mesmo rumo da de oito anos atrás.

Palestina pede 'boicote a Israel'Foto: AP

Importância diminuída?

A alta comissária de direitos humanos da ONU, Navanethem Pillay, disse estar "chocada e profundamente decepcionada" com a decisão dos EUA. Ela admitiu que um ou outro Estado pretenda se concentrar apenas em determinados assuntos, mas lembrou que mesmo assim é essencial que o problema do racismo seja combatido de forma global.

"Conseguimos um texto por consenso, que será discutido e posteriormente aprovado", disse Pillay, afirmando que o processo de elaboração do esboço de declaração final foi difícil, mas tão bem feito que ela ficaria muito surpreendida com tentativas de mudanças.

Pillay destacou ainda a "generosidade dos palestinos", que aceitaram retirar qualquer referência à ocupação de seus territórios por Israel para que fosse possível chegar a um consenso. Segundo ela, qualquer um dos 143 pontos do documento poderá ainda ser renegociado antes da aprovação final.

Diplomatas em Genebra alertaram que a conferência corre o risco de perder relevância sem a presença de membros de peso das Nações Unidas. Segundo a organização, por enquanto cerca de 35 países confirmaram presença.

Presidente iraniano, Mahmud Ahmadinejad: participação polêmicaFoto: AP

Europa sem linha comum

Os países da União Europeia não chegaram a uma posição comum sobre a participação na conferência. França e Reino Unido decidiram de última hora enviar representantes ao evento em Genebra, embora o ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, tenha alertado que o embaixador francês na ONU deixará a sala imediatamente caso o evento se transforme numa plataforma para acusações racistas contra Israel.

O Conselho Central dos Judeus na Alemanha, que desde setembro de 2008 vinha exigindo do governo alemão que cancelasse oficialmente sua participação no evento, considerou a decisão de Berlim "consequente e corajosa".

No portal Handelsblatt.com, o vice-presidente do conselho, Dieter Graumann, criticou severamente a falta de coesão na UE. "O fato de a Europa se mostrar tão incoesa é uma vergonha", disse. "Uma política externa comum para toda a Europa infelizmente ainda parece ser mera ilusão."

Revisão de questões centrais

A Conferência de Revisão sobre Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Relacionadas de Intolerância visa dar prosseguimento à de 2001, realizada na cidade sul-africana de Durban, avaliando a aplicação da Declaração de Durban e do Plano de Ação, considerado a primeira estratégia mundial contra o racismo.

Para o Brasil, serão tratadas questões centrais, como a situação de afrodescedentes, indígenas e mulheres. Já a revisão das questões da orientação sexual e da intolerância religiosa, ambas defendidas pelo governo brasileiro, é considerada polêmica e vinha dificultando as negociações prévias ao encontro.

RR/ap/afp/lusa/epd

Revisão: Alexandre Schossler

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