Alemanha caminha para reedição da "grande coalizão"
27 de novembro de 2017
Depois do fracasso das negociações com liberais e verdes, Merkel se volta para os social-democratas, que sinalizam disposição para rever negativa inicial, mas fazem exigências.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, e líderes de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), reuniram-se em Berlim neste domingo (26/11) para debater as alternativas para a formação de um governo depois do fracasso das negociações com os liberais e os verdes.
Após quatro horas de deliberação, os líderes da CDU disseram concordar em fechar uma nova aliança com o Partido Social-Democrata (SPD), o que levaria a uma reedição da chamada "grande coalizão" (que tem esse nome por reunir as duas maiores bancadas do Bundestag).
"Temos a firme intenção de formar um governo efetivo", disse Daniel Günther, governador do estado de Schleswig-Holstein. "Acreditamos que isso não seria possível com um governo de minoria, mas por meio de uma aliança com maioria parlamentar. E essa seria a grande coalizão", afirmou.
Melhor opção para a Alemanha
Antes da reunião, o chefe da União Social Cristã (CSU, o partido conservador da Baviera), Horst Seehofer, defendeu a formação de uma grande coalizão com o SPD. "Uma aliança dos conservadores com o SPD é a melhor opção para a Alemanha. É melhor do que uma coalizão com os liberais e o Partido Verde, do que novas eleições ou do que um governo de minoria", disse Seehofer ao jornal Bild.
Sem acordo para uma coalizão, o que acontece?
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O ministro do Exterior, Sigmar Gabriel, ex-presidente do SPD, disse que ninguém deve esperar que o partido de centro-esquerda esteja desde já comprometido com a reedição da aliança que governou a Alemanha nos últimos quatro anos. Ainda assim, ele deu a entender que o SPD está disposto a rever sua posição inicial de ir para a oposição.
"Todos concordam que não é uma boa ideia dizer ao povo alemão: 'Nossa visão de democracia é a seguinte: vocês votam até que se chegue a um resultado que nos agrade'", disse Gabriel. Existe também a tarefa de dar estabilidade para a Alemanha, e, para isso, o país necessita de um governo capaz, "dotado de suficiente coragem e uma maioria", argumentou o ministro social-democrata.
As negociações preliminares para uma coalizão entre CDU, CSU, verdes e liberais fracassaram na semana passada. Com isso, os conservadores, encabeçados pela chanceler federal, voltaram à estaca zero e querem agora convencer o SPD a rever sua negativa.
O fracasso das conversações elevou a pressão sobre o SPD para se unir ao bloco conservador de Merkel e formar, novamente, uma grande coalizão – uma opção que, num primeiro momento, foi descartada pelo líder dos social-democratas, Martin Schulz, logo após o resultado historicamente baixo do partido na eleição de 24 de setembro.
Sob pressão para preservar a estabilidade na Alemanha e evitar uma nova eleição, o SPD reviu sua posição e concordou em dialogar com Merkel, elevando assim as chances de uma nova grande coalizão, como a que governou o país nos últimos quatro anos.
Nesta quinta-feira, Merkel, Schulz e Seehofer têm um encontro agendado com o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, que está pressionando os partidos a resolver o impasse e, assim, evitar uma nova eleição.
Líderes sob pressão
Merkel tem enfrentado pressão dentro da CDU para a formação de um governo. A ala jovem do partido defendeu um acordo rápido de coalizão com o SPD, ainda antes do Natal. Caso um acordo não seja alcançado até lá, as negociações devem ser consideradas fracassadas, e a CDU/CSU deve optar por um governo minoritário.
Schulz também tem lidado com uma crescente pressão dentro do SPD para que reveja sua negativa inicial, principalmente dos setores à direita. Já a ala jovem do SPD, os Jusos, encerrou seu congresso de dois dias, neste domingo, defendendo que o partido vá para a oposição.
Líderes do SPD também já começaram a impor condições para que o partido entre em negociações com os conservadores, incluindo mais investimentos em educação e moradias. Um dos pontos mais críticos é a recusa do SPD de estabelecer um limite de requerentes de refúgio, um dos principais objetivos políticos da CSU.
Antes da reunião deste domingo, membros da CDU alertaram o SPD contra demandas "irrealistas" durante possíveis negociações para uma coalizão. "Com 20% [dos votos] não se pode impor 100% das demandas", disse o governador de Hessen, Volker Bouffier, referindo-se ao percentual alcançado pelo SPD na eleição de setembro.
PV/ap/afp/dpa/rtr
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A história da eleição alemã
Após Segunda Guerra, Alemanha já realizou 18 pleitos para eleger um Parlamento nacional e, subsequentemente, um ou uma chanceler federal. Veja quem ganhou.
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1949: Adenauer vence eleições pós-guerra
A primeira eleição após a Segunda Guerra Mundial foi, sem dúvida, a mais importante na história da República Federal da Alemanha e, certamente, a mais apertada. Konrad Adenauer, candidato da União Democrata Cristã (CDU), tornou-se o primeiro chanceler federal da então Alemanha Ocidental pela margem de um voto – o seu próprio. Seu governo se mostraria muito estável. E muito popular.
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1953: Konrad Adenauer é reeleito
Se a primeira eleição da antiga Alemanha Ocidental foi dramática, a segunda foi arrebatadora. Sob a liderança de Konrad Adenauer, a CDU levou 45,2% dos votos contra 28,8% do Partido Social-Democrata (SPD). Graças à coalizão com três outros partidos, Adenauer desfrutou uma maioria de dois terços no Parlamento.
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1957: Adenauer ganha segunda reeleição
Na terceira eleição da Alemanha Ocidental pós-guerra, a CDU de Adenauer aliou-se ao partido conservador da Baviera, a União Social Cristã (CSU), para formar a CDU/CSU, aliança que muitas vezes é denominada de "União". Juntas, as duas legendas levaram mais de 50% dos votos. Adenauer tinha 81 anos quando iniciou seu terceiro mandato como chanceler federal.
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1961: Última vitória eleitoral de Adenauer
Aos 85 anos, Konrad Adenauer venceu sua última eleição, mas seu mandato não foi feliz. Seus críticos o acusaram de não responder adequadamente à construção do Muro de Berlim. Em 1963, ele renunciou a favor do seu vice e ministro da Economia, o político conservador Ludwig Erhard. Em 1961, o Parlamento alemão era composto somente por três bancadas: CDU/CSU, SPD e Partido Liberal Democrático (FDP).
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1965: Milagre econômico leva Erhard à vitória
Ludwig Erhard (dir.) conseguiu estender a série de vitórias eleitorais dos conservadores, embora isso viesse a acabar em breve. O ex-ministro da Economia ganhou pontos pela prosperidade da Alemanha Ocidental, mas não teve sucesso em política externa e renunciou no meio de seu mandato. Seu substituto, Kurt Georg Kiesinger, foi o único chanceler federal a nunca ter vencido eleição para o cargo.
Os anos 1960 foram um período em que as pessoas na Alemanha Ocidental, como em outras partes do mundo, passaram a questionar tradições e, no último ano da década, o prefeito da antiga Berlim Ocidental, Willy Brandt, se tornou o primeiro chanceler federal social-democrata. Na realidade, o SPD recebera menos votos que a União CDU/CSU, mas uma coalizão com os liberais do FDP lhe garantiu o poder.
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1972: Brandt vence, mas não por muito tempo
As eleições alemãs seguintes foram adiantadas um ano depois que Brandt foi afastado através de uma moção de confiança. Essa medida foi negativa para os conservadores. Pela primeira vez no pós-guerra, o SPD obteve mais votos que CDU/CSU nas eleições gerais. Mas um companheiro próximo de Brandt revelou-se espião da Alemanha Oriental, e Willy Brandt renunciou a favor de Helmut Schmidt.
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1976: Helmut Schmidt solidifica o poder
Helmut Schmidt, sucessor de Brandt, conseguiu manter-se à frente da Chancelaria Federal em 1976, apesar de o SPD ter obtido 6 pontos percentuais a menos que a União CDU/CSU. Graças ao parceiro de coalizão, o Partido Liberal Democrático (FDP), a balança pendeu a favor do SPD. Essa foi a primeira eleição na Alemanha Ocidental em que jovens de 18 anos puderam votar. Antes, a idade mínima era 21.
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1980: Schmidt é reeleito, mas parceiro se vai
A reeleição de Schmidt foi relativamente fácil, em parte porque, pela primeira vez, o candidato dos conservadores vinha da União Social Cristã (CSU). Schmidt, no entanto, não conseguiu apoio popular para o seu governo. Em 1982, o parceiro de coalizão FDP deixou o governo, aliando-se à União CDU/CSU para substituir Helmut Schmidt por um chanceler federal conservador.
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1983: Helmut Kohl dá início a longo reinado
Para ganhar legitimidade, o chanceler federal Helmut Kohl, da CDU, adiantou as eleições gerais para 1983. A jogada valeu a pena, pois os conservadores venceram os social-democratas por 48,8% contra 38,2% dos votos. Muitos esquerdistas consideravam Kohl uma figura grosseira demais para ficar muito tempo no poder. Mas estavam errados. Nesse pleito, os verdes entraram pela primeira vez no Parlamento.
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1987: Kohl se reelege em onda conservadora
Os anos 1980 foram conservadores, com Ronald Reagan nos EUA, Margaret Thatcher no Reino Unido e Kohl na Alemanha. E o político da CDU aproveitou a onda para se reeleger. Para Kohl, foi uma alegria ter aparecido junto a Reagan em seu famoso discurso "Sr. Gorbachev, derrube este muro". Mas poucos imaginavam que ele iria cair em breve e que aquelas seriam as últimas eleições da Alemanha Ocidental.
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1990: Kohl vence sob signo da Reunificação
Kohl (dir.) brindou a reunificação da Alemanha com o primeiro-ministro da Alemanha Oriental, Lothar de Maizière, em 3 de outubro de 1990, e dois meses depois, eleitores de todo o país foram convocados a votar em outra eleição antecipada. O clima era de euforia, e não havia quem vencesse o "chanceler da Reunificação". Kohl foi eleito para um terceiro período legislativo.
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1994: Triunfo final para Kohl
Em 1994, cinco anos depois da queda do Muro de Berlim, os primeiros problemas sociais causados pela Reunificação se tornaram visíveis. Mesmo assim, a reeleição de Kohl foi relativamente confortável. Isso se deveu em parte a um fraco adversário social-democrata, que ficou conhecido, entre outros, por tropeçar na diferença entre líquido e bruto na TV alemã.
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1998: Schröder inicia experiência de coalizão
Em 1998, os eleitores estavam cansados de Kohl, e o social-democrata Gerhard Schröder (esq.) soube se aproveitar disso. O SPD venceu a União CDU/CSU por 40,9% contra 35,1% dos votos e formou uma coalizão com o Partido Verde, liderado por Joschka Fischer (c.). Esta foi a primeira eleição em que o PDS (hoje A Esquerda), sucessor do antigo partido socialista alemão-oriental, entrou para o Parlamento.
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2002: Schröder vence reeleição após 11/9
Na eleição de 2002, SPD e a União CDU/CSU tiraram a mesma porcentagem de votos: 38,5%. Schröder conseguiu se reeleger por seu parceiro de coalizão, os Verdes, ser mais forte que o FDP. Uma das tarefas mais árduas de Schröder foi lidar com George W. Bush. Depois do 11 de setembro, o chanceler federal proclamou "solidariedade ilimitada" com os EUA, mas a Alemanha não apoiou a Guerra do Iraque.
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2005: Início da era Merkel
Em 2005, Angela Merkel tornou-se a primeira mulher a governar a Alemanha, após Schröder, que em meio a críticas por seus programas de austeridade econômica, antecipou mais uma eleição. A política da antiga Alemanha Oriental ganhou por pouco. A vantagem dos conservadores sobre o SPD foi inferior a 1% e, em seu primeiro mandato, Merkel passou a chefiar uma "grande coalizão" com o principal rival.
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2009: Merkel realiza "coalizão dos sonhos"
O resultado do segundo pleito parlamentar de Merkel foi muito mais claro que o primeiro. Enquanto o apoio ao SPD despencava, os liberais do FDP, liderados por Guido Westerwelle, ganhavam votos. Como resultado, os conservadores foram capazes de formar uma coalizão com seus parceiros prediletos. Para a centrista Merkel, essa coalizão parecia ter saído de um sonho.
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2013: Merkel comemora terceiro mandato
Em 2013, Merkel estava consolidada como a política mais popular da Alemanha, e os conservadores terminaram à frente do SPD nas eleições. Mas como os liberais não conseguiram alcançar o limite de 5% dos votos para entrar no Parlamento, a chanceler federal reeleita teve que formar outra grande coalizão. Isso não impediu "Angie", como é conhecida carinhosamente hoje em dia, de saborear uma cerveja.
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2017: Ascensão dos populistas de direita
CDU/CSU e SPD foram os partidos mais votados, mas tiveram seu pior resultado desde o pós-guerra. Enquanto os liberais voltaram a ser representados no Bundestag, a grande vitória foi da legenda populista Alternativa para a Alemanha (AfD) – pela primeira vez desde a 2ª Guerra, um partido nacionalista está representado no Parlamento alemão.