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Alemanha celebra bicentenário do revolucionário autor Georg Büchner

Jochen Kürten (ca)30 de junho de 2013

Nascido em 1813, artista polêmico morreu com apenas 23 anos, deixando poucos textos. Mas suas peças são consideradas atuais, sendo encenadas em todo o mundo. Seria Büchner um dramaturgo à frente de seu tempo?

Foto: picture alliance/dpa

É preciso ter cuidado com o conceito de gênio. Mas os especialistas estão de acordo: o poeta Georg Büchner, que veio ao mundo em 1813, pode ser considerado, seguramente, um dos gênios da história intelectual alemã. E, assim, não é de admirar que por ocasião de seu bicentenário, Büchner seja lembrado de um extremo ao outro do país, e já bem antes da data de aniversário propriamente dita, o 17 de outubro.

Diferentes interpretações

Mas, como alguém se torna um gênio? O "caso Büchner" não é tão simples quanto parece. Pelo menos os argumentos daqueles que colocam Georg Büchner entre os grandes nomes da literatura alemã são bastante divergentes. Os estudiosos da literatura até mesmo disputam acirradamente quem detém o direito de interpretação sobre Büchner.

Para alguns, ele foi, sobretudo, um revolucionário social, que também recorreu à escrita; enquanto para outros, foi antes um romântico tardio, que se engajou politicamente nos primeiros anos, tornando-se mais tarde um pensador reflexivo, que almejava desvendar o que mantém coeso o mundo.

"Georg Büchner", desenho a lápis de August Hoffmann, 1833Foto: picture-alliance/dpa

Três peças de teatro, uma novela, um panfleto político, além de algumas cartas e um punhado de textos acadêmicos: este foi o fruto de sua breve vida. Nascido próximo à cidade de Darmstadt, no estado atual de Hessen, Büchner começou a estudar medicina aos 19 anos, concentrando-se, em seguida, nas ciências naturais. Em sua tese de doutorado, estudou a estrutura neural dos peixes. Aos 23 anos, tornou-se professor em Zurique, morrendo miseravelmente de tifo pouco tempo depois, na Suíça.

De revolucionário a pensador

"Como alguém tão jovem pôde, num espaço tão curto de tempo e sob tais circunstâncias, criar uma obra de tão vasto alcance global?", questiona Hermann Kurzke, que lançou uma extensa biografia de Büchner por ocasião do bicentenário.

Ele vê o autor principalmente como pensador e poeta, colocando-se assim em nítida oposição aos antigos especialistas em Büchner. Principalmente na antiga Alemanha Oriental, mas também na República Federal da Alemanha da década de 1970 e 1980, Büchner era conhecido, em primeira linha, como alguém socialmente engajado, um revolucionário que escrevia.

Havia motivos para tal: a contribuição literária de Büchner para o movimento revolucionário da Alemanha na década de 1830 chamou-seO mensageiro de Hessen. Ainda estava muito distante a concretização de uma nação alemã, da forma como hoje a conhecemos: ducados e pequenos Estados faziam do país numa colcha de retalhos política.

Em seu panfleto, o jovem Büchner opunha-se à injustiça social e a repressão no antigo Grão-Ducado de Hessen-Darmstadt. Com seus aliados, lutava por nada mais do que a derrubada da nobreza governante, coisa que não aconteceu. Houve prisões, julgamentos dos rebeldes, penas de reclusão. Büchner fugiu para Estrasburgo, onde pouco antes havia começado a estudar medicina.

Apreciado até pelos franceses

Dali por diante, além da escrita, passou a se dedicar à carreira acadêmica. Em A morte de Danton, resgatou acontecimentos da Revolução Francesa e da própria vivência: "a única peça relevante sobre a Revolução Francesa", afirma Ralf Beil. Ele está preparando a exposição central do bicentenário Büchner em Darmstadt, que poderá ser vista a partir de 13 de outubro. Segundo Beil, não é por acaso que até mesmo os palcos franceses encenam a peça do alemão.

Hermann Kurzke, autor de biografia de BüchnerFoto: DW/J. Kürten

Mas já na peça seguinte, a comédia romântica Leôncio e Lena, Büchner largava o caminho revolucionário e mostrava no palco pessoas de carne e osso, em todas as suas facetas. Para Hermann Kurzke, não se trata de uma contradição, em absoluto: "Büchner pertence, definitivamente, a uma história de libertação da humanidade, mesmo que muito disso seja melancólico, e que ele descreva o fracasso de uma revolução na sua época".

Escritor psicológico

Por fim a terceira peça, Woyzeck, faz alusão novamente às durezas e injustiças sociais do mundo. Para muitos exegetas de Büchner que querem ver sua obra de forma exclusivamente ideológica, um prato cheio: eis alguém que escreve sobre a revolução e sobre o abismo entre ricos e pobres. O autor passou a ser considerado um precursor das ideologias socialistas.

Uma conclusão de pouco alcança, adverte Kurzke, em referência ao quinto grande texto de Büchner, a novela Lenz, que tem como protagonista o poeta Jakob Michael Reinhold Lenz (1751-1792) em luta com seus demônios pessoais.

Cartaz da exposição comemorativa do bicentenário, em DarmstadtFoto: DW/J. Kürten

Trata-se de um estudo complexo da psique humana. "Ele sentiu em si próprio o potencial para a loucura, e libertou-se desse potencial ao descrever um poeta que fica louco", analisa Kurzke, acrescentando que Büchner também se ocupou várias vezes da fé e do cristianismo.

Atualidade inquebrantável

Na exposição comemorativa do bicentenário, em outubro, Ralf Beil pretende juntar tudo isso: o revolucionário poético e o sensível conhecedor da humanidade. "Para mim, Georg Büchner não significa apenas história cultural e da literatura de primeira categoria, mas também sabedoria mundial."

Em seus escritos, ele se perguntava: "O que é que, dentro de nós, mente, mata, estupra e rouba?". Questões que se colocam hoje em todas as partes do mundo, seja na Índia, na América ou na Europa, enfatiza Beil.

Büchner goza de grande atualidade, concordam os pesquisadores. "De certa forma, ele também foi um precursor do país que temos agora", arrisca o biógrafo Kurzke. Muito do que defendia naquela época se tornou realidade, e ele articulou questões que continuam atuais para muitos povos. E assim, pelo menos num ponto, todos estão de acordo: Büchner foi um poeta genial com muitas facetas.

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