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Alemanha celebra centenário de Adorno

Soraia Vilela2 de março de 2003

Uma biografia de 600 páginas, uma exposição sobre vida e obra, lançamentos no mercado editorial e mostras de artistas contemporâneos formam o imenso leque de comemorações dos 100 anos do filósofo.

Theodor W. Adorno: transformado em clássico para o acesso popularFoto: AP

O legado de Theodor W. Adorno (1903-1969) está nas mãos de Stefana Sabins, coordenadora e única funcionária do Escritório Adorno, criado pela administração de Frankfurt para organizar as comemorações em torno dos cem anos de nascimento do filósofo, sociólogo e músico. Embora os grandes eventos estejam sendo guardados para as proximidades do 11 de setembro, a data de seu nascimento, algumas editoras alemãs já lançaram no mercado obras relacionadas ao autor.

A mais esperada delas - que já está sendo traduzida durante o processo de criação e deverá chegar ao mercado em várias línguas européias simultaneamente - é a biografia de Adorno escrita pelo sociólogo Stefan Müller-Doohm, da Universidade de Oldemburgo. O trabalho deverá ser "um apanhado biográfico, fundamentado em detalhes do contexto cultural e teórico das épocas que retrata", nas palavras de Bernd Stiegler, da editora Suhrkamp, responsável pela publicação das obras de Adorno na Alemanha.

Crítica via exclusão -

"Até hoje, há bastante documentos sobre Adorno em Frankfurt após a Segunda Guerra Mundial, mas há lacunas essenciais sobre o período anterior à guerra e sobre seu exílio, que deverão ser supridas então", observa Stiegler. Para Müller-Doohm, a vida de Adorno pode ser vista através da dualidade entre "um sentimento de total proteção", que remete à sua infância, "e a amarga experiência da emigração. Dessa experiência de exclusão se alimenta sua posição crítica perante a sociedade", completa o biógrafo.

Cartas aos pais e a Horkheimer -

Além da obra de Müller-Doohm, Wolfram Schütte, ex-redator chefe do diário Frankfurter Rundschau, elabora "um mosaico, uma montagem de documentos" sobre as relações de Adorno com a cidade de Frankfurt. A editora Suhrkamp presenteia ainda o leitor com o primeiro de cinco volumes que reúnem as cartas trocadas entre Adorno e Max Horkheimer, "umas das correspondências centrais da história da filosofia alemã", segundo Stiegler. As cartas de Adorno a seus pais e aos editores Peter Suhrkamp e Siegfried Unseld, ao lado das aulas de Adorno sobre Dialética Negativa complementam o pacote de lançamentos.

Apelo popular -

Além das novidades do mercado editorial, o 10 de setembro foi escolhido para a inauguração de um monumento em homenagem a um dos pais da Escola de Frankfurt. Para a praça que leva seu nome, nos arredores do Instituto de Pesquisa Social, um dia dirigido pelo próprio Adorno, o artista plástico russo Vadim Zakharov criou um cubo de vidro de dois metros e meio de altura, dentro do qual extratos dos textos do filósofo serão reproduzidos sobre o chão, distribuídos sobre um labirinto de formas em preto-e-branco. No centro, será postada uma escrivaninha de madeira e uma cadeira. Sobre a mesa, livros.

"Através do caráter monumental da imagem, a obra deverá despertar também a atenção de pessoas que desconhecem Adorno", justificou o júri da cidade a opção pelo certamente controverso trabalho de Zakharov. Além disso, a Kunstverein de Frankfurt prepara uma exposição sobre como artistas contemporâneos discutem as premissas das teorias de Adorno em suas obras.

Abrindo o acervo -

Todas as comemorações, lançamentos e relançamentos deverão estar atrelados a uma exposição detalhada sobre a vida e obra de Adorno, que poderá ser vista primeiramente em Zurique, antes de chegar ao Museu Histórico de Frankfurt. "Nós teremos, dessa forma, a possibilidade de apresentar ao público partes essenciais de nosso acervo ", observa Gabriele Ewenz, diretora do Arquivo Adorno em Frankfurt.

Além da exposição, saraus de leitura e concertos devem levar ao público tanto as teorias quanto as composições do filósofo. No âmbito universitário, uma série de simpósios e conferências marcam ainda o centenário do autor da Teoria Crítica. Na Universidade de Zurique, por exemplo, um congresso será dedicado à contemporaneidade das teorias levantadas por Adorno em sua obra.

Sob o tema geral Dizer Não, serão refletidas questões como A Arte e a Teoria Estética e Cultura Popular e Análise da Indústria Cultural. A Universidade de Cheminitz, a única no leste alemão a comemorar o centenário de Adorno, dedica um seminário de discussões em torno das influências de sua obra sobre a literatura e as artes cênicas.

O ápice das comemorações deverá acontecer no 13 de setembro, quando será entregue o Prêmio Adorno, já recebido nos anos anteriores por Jürgen Habermas, Jacques Derrida, Pierre Boulez e Jean-Luc Godard, entre outros. Apesar do aspecto positivo de a obra do filósofo "escorregar mais para o domínio público", Müller-Doohm critica que o nome de Adorno "seja estilizado como um clássico. Seu pensamento opõe-se a qualquer tentativa de cerceamento dentro de um museu", completa o biógrafo.

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