Vice de Merkel afirma que possível resultado eleitoral na Holanda é um bom sinal. Chanceler federal alemã liga para premiê holandês para parabenizá-lo. Eleição era tida como termômetro do populismo de direita na Europa.
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Após as pesquisas de boca de urna indicarem que os holandeses frearam o populismo de direita nas eleições legislativas, o vice-chanceler federal da Alemanha e ministro do Exterior, Sigmar Gabriel, classificou nesta quarta-feira (15/03) o possível resultado como "uma vitória para a Europa".
Segundo as sondagens divulgadas com o fechamento das urnas, o Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), do primeiro-ministro Mark Rutte, terá o maior número de cadeiras no Parlamento da Holanda. A legenda ficaria à frente dos populistas de direita, com 12 cadeiras a mais.
"É um bom sinal que um candidato de extrema direita como Geert Wilders não tenha ficado à frente nas eleições", afirmou Gabriel durante um evento do Partido Social-Democrata (SPD). O vice de Angela Merkel disse ainda que está otimista em relação a uma derrota da candidata da extrema direita Marine Le Pen nas eleições à presidência da França.
O porta-voz da chanceler federal, Steffen Seibert, afirmou que Merkel telefonou para Rutte para parabenizá-lo. A líder alemã teria expressado a alegria de poder continuar o trabalho em conjunto com o premiê do país vizinho.
As eleições holandesas foram acompanhadas com atenção na Europa – como um teste do sentimento nacionalista e do crescente populismo em ano de eleições igualmente importantes na França e na Alemanha, maiores economias da União Europeia.
A França escolhe seu próximo presidente em abril, e a populista de direita Marine Le Pen deve estar no segundo turno, marcado para maio. Em setembro, vão às urnas os alemães, e o partido eurocético Alternativa para a Alemanha, que atacou a política migratória de Merkel, pode conquistar suas primeiras cadeiras no Parlamento.
Vitória da Holanda
O candidato do SPD à chancelaria federal, Martin Schulz, também comemorou o provável resultado das eleições holandesas. "É uma ótima notícia para a Europa e para a Holanda", diz o ex-presidente do Parlamento Europeu, que estava no evento do partido junto com Gabriel.
Schulz afirmou ainda que o resultado revela que a maioria dos holandeses recusou "a demagogia de Wilders e seu posicionamento inexprimível contra outros grupos étnicos".
O chefe de gabinete da chancelaria alemã, Peter Altmaier, parabenizou os holandeses pelo resultado. "Holanda, oh Holanda, você é uma campeã", publicou em sua conta no Twitter.
Os presidentes da União Social Cristã (CSU), legenda irmã do partido de Merkel, Horst Seehofer, e do Partido Liberal Democrático (FDP), Christian Lindner, também comemoraram o resultado.
CN/dpa/afp
Nem tudo é um mar de tulipas na Holanda
Os holandeses vão às urnas em eleições legislativas. E justamente nesse país pacato e admirado por sua atitude liberal e economia próspera, os populistas de direita ameaçam se afirmar como legenda mais forte.
Foto: Fotolia/samott
País-modelo da Europa?
Tendo como marcas registradas os bucólicos moinhos de vento e campos de tulipas, a Holanda, membro fundador da União Europeia, é um país florescente, com crescimento econômico estável, orçamento equilibrado, baixo desemprego e clima social liberal. Mas nas próximas eleições, entre os favoritos está justamente o populista de direita Partido para a Liberdade (PVV). Como se explica tal fato?
Foto: NBTC Holland Marketing
O grande simplista
No mundo globalizado, os problemas sociais, políticos e econômicos se tornam cada vez mais complexos, o que deixa muitos desorientados e perplexos. Essa é a grande chance de populistas como a Frente Nacional da França ou a Alternativa para a Alemanha. Na Holanda, quem vai à caça de votos com respostas simples para questões complexas é Geert Wilders e seu PVV.
Foto: SHK
Promessas mal cumpridas
Ao assumir a chefia de governo da Holanda em 2012, o liberal Mark Rutte comprometeu-se a promover a recuperação econômica e aumentar a prosperidade. E cumpriu essa promessa: os dados básicos da economia são inegavelmente positivos. O problema é que muitos holandeses das classes média e baixa não percebem diretamente qualquer melhora: sua situação de vida não é melhor do que cinco anos atrás.
Foto: Getty Images/AFP/F. Florin
Perda de confiança galopante
Rutte prometera, por exemplo, não mais investir verbas no saneamento das dívidas de outras economias nacionais da União Europeia. Mas pouco após sua posse, aprovou o pacote de resgate econômico para a Grécia. A partir daí, a perda de confiança se instaurou. Mais tarde, o governo ainda elevou para 67 anos a idade de aposentadoria e cortou benefícios sociais.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Boom para quem?
Em breve os holandeses notaram que eram eles próprios que arcavam com o crescimento econômico nacional, sendo forçados a aceitar cortes no salário-desemprego e na assistência de saúde. O boom deixa os cidadãos insatisfeitos: o desemprego caiu, porém, mesmo tendo trabalho, muitos não ganham o suficiente para manter seu padrão de vida.
Foto: Reuters/M. Kooren
"Nosso barco está cheio!"
Em tais circunstâncias, reflexos nacionalistas vêm à tona – até mesmo na Holanda, cujo posicionamento fundamentalmente liberal há anos tem sido um modelo para muitos europeus. Também os holandeses passaram a se opor ao acolhimento de refugiados, num reflexo que vem a calhar para populistas de direita como Geert Wilders, sendo lenha na fogueira xenófoba, antieuropeia e anti-islâmica.
Foto: Getty Images/AFP/P. van de Wouw
Populistas unidos
No dia em que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, o PVV de Wilders liderou as sondagens pela primeira vez. E manteve essa posição desde então, com oscilações mínimas. Pesquisas sugerem que o PVV conseguirá 16% dos votos, seis pontos a mais que em 2012. O VVD (de 26% para 16%) do premiê Rutte e o social-democrata PvdA (de 24% para 8%), por outro lado, despencam.
Foto: DW/T.Lageman
Medo dos forasteiros
Estrangeiros, e sobretudo os muçulmanos, são alvo constante para Wilders. Não há praticamente uma aparição pública sua sem a advertência de que em breve o país estará "islamizado". Da mesma forma como, nos Estados Unidos, Donald Trump responsabiliza os mexicanos por tudo o que há de ruim, Wilders ataca regularmente os "marroquinos", que a seu ver não têm lugar na Holanda.
Foto: Getty Images/AFP/A. Johnson
Visibilidade indesejada
As casas de oração são expressão visível da presença muçulmana na Europa, e muitos simplesmente não querem mais vê-las. Wilders se aproveita desse reflexo, reivindicando a "proibição nacional de mesquitas". Inimigo tanto da "ideologia islâmica" quanto do euro, ele questiona a UE como um todo. Paralelamente, promete aos eleitores melhor previdência na terceira idade e aumento das aposentadorias.
Foto: Getty Images/AFP/B. Maat
Precisamos nos defender!"
Geert Wilders inegavelmente capitaliza o clima de insatisfação e insegurança na Holanda. Até hoje tem sido raro no país legendas extremistas conseguirem concretizar nas urnas os bons resultados nas sondagens. Mas por enquanto parece ressoar o argumento populista, de que em breve o país não precisará de diques só para se defender das águas do Mar do Norte, mas também dos forasteiros e refugiados.