Francês Daniel Nivel foi brutalmente atacado por torcedores alemães durante a Copa do Mundo da França em 1998. Sofrendo as consequências da agressão até hoje, ele recebe a mais alta honraria do governo alemão
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O ex-policial francês Daniel Nivel, que foi brutalmente espancado por hooligans alemães durante a Copa do Mundo de 1998, recebeu nesta terça-feira (16/10) a Ordem do Mérito da República Federal da Alemanha (Bundesverdienstkreuz), a única a nível federal do país.
A condecoração foi entregue pelo ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, na residência do embaixador alemão em Paris, Nikolaus Meyer-Landrut. A cerimônia ocorreu momentos antes da partida de futebol entre Alemanha e França, na capital francesa, pela Liga das Nações.
"Você se tornou um símbolo contra a violência hooligan e o nacionalismo", disse Maas ao ex-policial francês. "Me deixa consternado que você sofra, ainda hoje, por esse ataque covarde."
O ministro afirmou ainda que Nivel é um "modelo para a humanidade" e representa "a forte vontade de não sucumbir ao perigo do preconceito por meio de diferenciações ou generalizações". Segundo ele, "isso é mais importante do que nunca nos dias de hoje".
Maas advertiu que, em muitas partes do mundo, discursos populistas e extrema direita ameaçam se tornar novamente aceitáveis atualmente. "Primeiro são apenas palavras, depois se tornam ações", afirmou.
"Ainda hoje pessoas saem às ruas sem hesitar na violência, fazem a saudação de Hitler e perseguem outras pessoas", acrescentou, em aparente referência a protestos anti-imigração convocados por extremistas de direita em Chemnitz, no leste da Alemanha. "Isso é intolerável."
Presente na cerimônia em Paris, o presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB, na sigla em alemão), Reinhard Grindel, também se pronunciou sobre o ataque a Nivel. "Nunca podemos esquecer que aquele ato nefasto mudou não apenas a vida dele, mas de toda sua família."
"Ele segue seu destino com um poder admirável e uma atitude positiva em relação à vida. Tenha certeza que sua história nunca será esquecida na Alemanha, assim como sua contribuição pessoal para a amizade entre Alemanha e França, pela qual você está recebendo esta Ordem do Mérito", acrescentou Grindel, diante de uma plateia de cerca de 50 pessoas.
Atualmente com 63 anos de idade, o ex-policial lida com deficiências físicas desde a agressão em Lens, no norte da França, em junho de 1998. Um grupo de hooligans alemães o atacou antes da partida entre as seleções de Alemanha e Iugoslávia, em jogo válido pela segunda rodada da fase de grupos da Copa do Mundo de 1998.
O então policial foi espancado e quase não sobreviveu. Ele ficou semanas em coma e sofreu danos irreparáveis no cérebro. Ele está paralisado de um lado, cego de um olho e tem dificuldade para falar. Seis agressores foram posteriormente condenados a penas de três a dez anos de prisão na Alemanha.
O então chanceler federal alemão, Helmut Kohl, descreveu os agressores como uma "desgraça para o nosso país". Em 2000, as federações alemã e francesa de futebol criaram a Fundação Daniel Nivel, que se compromete com a prevenção da violência em eventos esportivos.
O ilustrador argentino Germán Aczel capturou de maneira bem-humorada em um livro momentos memoráveis dos 84 anos de história do torneio.
Foto: Aczel/Edel Books
Era uma vez...
A primeira Copa do Mundo ocorreu em 1930, no Uruguai. A maior parte dos times participantes era das Américas. Só quatro seleções europeias decidiram empreender a longa viagem de navio. Na final, os anfitriões bateram a Argentina por 4 a 2. Os times foram liderados pelos capitães José Nasazzi, do Uruguai (à esquerda na imagem), e Manuel Ferreira, da Argentina.
Foto: Aczel/Edel Books
O milagre de Berna
A primeira Copa do pós-guerra ocorreu em 1954, na Suíça. A grande seleção daquele tempo era a Hungria, liderada por Ferenc Puskas. Na primeira fase, a Alemanha perdeu de 8 a 3 para a Hungria, mas acabou vencendo a final contra os húngaros por 3 a 2 e se tornou campeã pela primeira vez. Na imagem, o capitão Fritz Walter (esq.) e o técnico Sepp Herberger são carregados por torcedores.
Foto: Aczel/Edel Books
Apenas uma vez
A Inglaterra inventou o futebol, mas sua seleção só venceu uma Copa, em 1966 - e em casa. Na final, o time venceu a Alemanha por 4 a 2. Foi na prorrogação do jogo que ocorreu o mais famoso "gol fantasma" da história, no mítico estádio de Wembley, num dos lances mais polêmicos de todas as Copas. Foi o gol de Geoff Hurst que virou o placar a favor da Inglaterra de Bobby Moore (segurando o troféu).
Foto: Aczel/Edel Books
O show de Pelé e companhia
Em 1970, o Brasil conquistou a sua terceira Copa do Mundo. O atleta do século, Pelé, e seus companheiros bateram a Itália por 4 a 1 na final. Os brasileiros marcaram 19 gols em apenas seis jogos. A Alemanha ficou em terceiro lugar, após vencer o Uruguai por 1 a 0. Foi nessa Copa que pela primeira vez todos os jogos foram transmitidos a cores.
Foto: Aczel/Edel Books
O “Bombardeiro da Nação"
Na primeira Copa realizada em solo alemão (1974) houve disputas e episódios memoráveis. O imperador (Beckenbauer) contra o rei (Cruyff), Oeste contra Leste, os primeiros pênaltis em uma final e uma nova taça. Na final, os anfitriões enfrentaram a Holanda e sua estrela, Johan Cruyff. A Alemanha venceu por 2 a 1. O gol que selou a partida foi de Gerd Müller, apelidado de “o bombardeiro da nação”.
Foto: Aczel/Edel Books
A mão de Deus
A Copa do Mundo de 1986 no México continua sendo memorável pelo espetáculo de Diego Maradona. Graças à sua genialidade e sagacidade, a Argentina se tornou campeã pela segunda vez. Maradona marcou belos, mas também controversos gols. No duelo com o goleiro inglês, ele fez um gol de mão. Mais tarde, Maradona diria que “marcou um pouco com a cabeça e um pouco a mão de Deus”.
Foto: Aczel/Edel Books
O cuspe
Em 1990, na Copa da Itália, a Alemanha conquistou seu terceiro título ao vencer a Argentina por 1 a 0. No entanto, ficou na memória a cusparada que o jogador holandês Frank Rijkaard deu no alemão Rudi Völler nas oitavas de final. Ambos foram expulsos da partida, e Rijkaard recebeu o apelido de “lhama”. A Alemanha venceu a partida por 2 a 1, vingando a derrota para a Holanda na Eurocopa de 1988.
Foto: Aczel/Edel Books
A cabeçada de Zidane
Em 2006, a Alemanha sediou mais uma vez a Copa do Mundo. Na final, a França perdeu para a Itália nos pênaltis. A partida ainda teve o momento mais inglório do torneio: após ser ofendido, o capitão francês Zidane deu uma cabeçada no peito do italiano Materazzi. Foi expulso logo em seguida. Um fim melancólico para uma carreira extraordinária.
Foto: Aczel/Edel Books
Finalmente campeã
Ao final da Copa de 2010, na África do Sul, a Espanha dominou os adversários com seu conceito tático “tiki-taka”. Os espanhóis derrotaram os holandeses por 1 a 0 na final e conquistaram o título, o maior sucesso da seleção em sua história. O gol que decidiu a partida foi de Andrés Iniesta. A Alemanha conquistou o terceiro lugar ao vencer o Uruguai por 3 a 2.
Foto: Aczel/Edel Books
Tetracampeã e um 7 a 1
A final da Copa de 2014 contou com 75 mil torcedores no Maracanã. Antes de disputar a última partida, a Alemanha atropelou o Brasil, o anfitrião da Copa, com um placar surpreendente: 7 a 1. Na final, os alemães venceram a seleção da Argentina por 1 a 0. Foi a primeira vez que um time europeu venceu nas Américas. A Alemanha se tornou tetracampeã.
Foto: Aczel / Edel Books
2018: um anfitrião controverso
O anfitrião da próxima Copa é a Rússia. A escolha do país foi controversa, e logo depois a Fifa passou a sofrer acusações de corrupção. A Rússia, por sua vez, se viu envolvida em um escândalo de doping de atletas. O pontapé inicial da Copa ocorre no dia 14 de junho, com a partida entre Arábia Saudita e Rússia. A final está prevista para 15 de julho, em Moscou.
Foto: Aczel / Edel Books
O mundo ilustrado da Copa
Vários momentos inesquecíveis da história de 84 anos do torneio estão no livro “Copa do Mundo 1930-2018”, publicado pela editora alemã Edel Books. As cenas são reproduzidas com desenhos e um texto bem-humorado. A capa do livro mostra várias estrelas que vao disputar o próximo torneio, entre elas Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar.
Foto: Aczel / Edel Books
O artista
O ilustrador argentino Germán Aczel começou sua carreira em sua Buenos Aires natal, onde trabalhou para a revista esportiva "El Gráfico". Aos 26 anos, se mudou para a Alemanha. Hoje vive em Munique. No momento, fornece ilustrações para renomada revista inglesa de futebol "FourFourTwo".