Alemanha condena ex-agente da Stasi por homicídio há 50 anos
14 de outubro de 2024
Em decisão inédita, tribunal de Berlim condenou a 10 anos de prisão ex-membro da polícia secreta da Alemanha Oriental pelo assassinato de um polonês que em 1974 queria fugir para o Ocidente.
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Um tribunal de Berlim condenou nesta segunda-feira (14/10) um ex-agente da Stasi, a polícia secreta da antiga República Democrática Alemã (RDA), a 10 anos de prisão pelo assassinato de um polonês, que 50 anos atrás tentava fugir para o Ocidente.
De acordo com Daniela Münkel, diretora dos arquivos da Stasi em Berlim, o veredito faz de Martin N., de 80 anos, o primeiro antigo agente da polícia política da antiga RDA de governo comunista, a ser condenado por homicídio por atos perpetrados em serviço.
Em 1974, ele atirou pelas costas em Czeslaw Kukuczka, a cerca de dois metros de distância, quando este tentava fugir para o Ocidente pela passagem fronteiriça da estação ferroviária Friedrichstrasse, em Berlim.
O juiz presidente da instância judicial, Bernd Miczajka, afirmou ter "a convicção inabalável" de que Naumann foi o autor dos disparos que mataram o cidadão polonês. Mesmo que não tenha agido "por motivos pessoais", ele "executou impiedosamente" um ato "planejado pela Stasi".
O Ministério Público alemão tinha pedido 12 anos de prisão para o antigo tenente, atualmente reformado. O réu rejeitou a acusação através de sua advogada, que pediu a absolvição. Ele mesmo se negou a falar durante o processo.
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Historiadores lançaram investigação
O julgamento conclui uma longa investigação levada a cabo também do lado polonês. Isso só foi possível graças ao aparecimento de informações encontradas em 2016 por dois historiadores, alemão e polonês, nos arquivos da Stasi, que ligaram Naumann à morte do fugitivo, levando a novas potenciais testemunhas.
Três meninas que voltavam de uma excursão escolar testemunharam o assassinato nesse posto avançado, conhecido popularmente como "Palácio das Lágrimas” por causa das tristes despedidas que aconteciam ali. Agora adultas, as três foram chamadas para testemunhar no julgamento.
A vítima, Czeslaw Kukuczka, bombeiro de 38 anos de idade, tinha ido à embaixada polonesa em Berlim Oriental para solicitar documentos que lhe permitissem viajar para o Ocidente, sob a falsa ameaça de que estava carregando explosivos em sua pasta.
A Stasi, alertada pela embaixada, decidiu que seria melhor inicialmente fazer Kukuczka acreditar que sua exigência havia sido aceita. Ele recebeu os documentos e foi escoltado até a passagem de fronteira na estação Friedrichstrasse.
Lá, ele teve permissão para passar por todos os controles de saída e, no momento em que dava os últimos passos, antes de pegar um trem para o Oeste, foi morto com vários tiros nas costas.
Desde o início, em março, o julgamento forçou o país a reviver a época da Guerra Fria, um período no qual a Alemanha era dividida em duas pela chamada "Cortina de Ferro" entre a RDA, no leste, e a República Federal da Alemanha (RFA), no oeste).
md/av (EFE, AFP, Lusa)
Imagens curiosas do arquivo da Stasi
O artista berlinense Simon Menner recebeu autorização para pesquisar os arquivos da Stasi, o serviço secreto da antiga Alemanha Oriental. Seu livro "Top Secret" apresenta uma seleção de imagens curiosas e bizarras.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Achados do fundo do baú
Há 24 anos, a Alemanha Oriental deixava de existir praticamente de um dia para o outro – e com ela a Stasi, um dos serviços secretos mais temidos do mundo. O artista berlinense Simon Menner passou dois anos pesquisando os arquivos da Stasi. O resultado é o livro de fotos "Top Secret", uma visão única sobre o trabalho de espionagem da organização. Estas imagens são de um seminário sobre disfarces.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Na mira dos espiões
Esta imagem é de um filme que mostra uma pessoa sendo observada ao longo de vários dias. Em cada um dos frames, o "alvo" foi marcado com uma seta. Com mais de 90 mil funcionários oficiais e outros 100 mil informantes não oficiais (os chamados IMs), a Stasi tinha uma das maiores redes de espiões de sua época.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Treinamento
Também a espionagem é um ofício que pode ser aprendido: imagens feitas para "fins de treinamento", como esta, são frequentemente encontradas nos arquivos da Stasi. Elas eram feitas para ressaltar aos espiões no que eles deveriam prestar mais atenção. Muito importante era observar quando, onde e com quem um suspeito se encontrava.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Leituras suspeitas
Ou o que eles liam. Para esta foto, a Stasi provavelmente usou um livro de sua própria biblioteca: "O ABC do dinheiro, do poder e da riqueza na Alemanha Ocidental", de Bernd Engelmann. O escritor do lado ocidental era – como se soube após a Queda do Muro – um dos IMs da Stasi.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Correspondências suspeitas
A correspondência trocada entre pessoas espionadas recebia – é claro – um nível particularmente elevado de atenção. A propósito: todas as pessoas identificáveis que aparecem no livro de Simon Menners eram funcionárias da Stasi. As demais tiveram os rostos "borrados" para impedir a identificação.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Da teoria à prática
Esta imagem de uma espionagem real mostra uma caixa de correio monitorada pela Stasi. Cada pessoa que se aproximava da caixa era fotografada. Em seguida, outras imagens mostram como funcionários, em trajes civis, esvaziam a caixa. Mais tarde, cada uma das cartas coletadas era atribuída a uma das pessoas fotografadas.
Foto: Simon Menner/BStU2013
"A vida dos outros"
Esta foto Polaroid foi tirada durante um busca sigilosa num apartamento. A imagem foi feita para servir de referência – assim, tudo poderia ser deixado exatamente como havia sido encontrado. "Estava em dúvida se deveria usar imagens como esta no livro", admite Simon Menner. "Mas cheguei a um acordo com o arquivo e acho importante mostrar também estas fotos."
Foto: Simon Menner/BStU2013
Brinquedo ou sinal de fuga?
Este modelo de avião foi fotografado durante uma busca secreta a uma residência, ao lado de revistas, cigarros e garrafas de uísque ocidentais. Será que havia a suspeita de que o dono planejasse uma "travessia ilegal da fronteira"? Estas eram duramente punidas.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Presentes confiscados
Cerca de 25 milhões de pacotes de presentes, contendo desde alimentos até roupas, eram enviados todos os anos da Alemanha Ocidental para a Oriental. Cada remessa era aberta por um funcionário da Stasi. Muitas vezes, o conteúdo era documentado fotograficamente ou parcialmente confiscado.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Festa à fantasia de espiões
Estas imagens foram feitas numa festa de aniversário de um funcionário da Stasi e estão entre as mais bizarras do livro de Simon Menner. Os espiões compareceram à festa fantasiados de suas "vítimas": artistas, representantes da Igreja ou esportistas.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Ordenação
O senso de humor bem particular da Stasi pode ser visto nesta foto, na qual um espião é "ordenado". Como a "ordem" a ele concedida tem a forma de um telefone, pode-se supor que ele foi especialmente bem-sucedido em escutas telefônicas. Até fotos como esta paravam nos arquivos da organização. A sede de informação da Stasi era tamanha que até cheiros de "inimigos do Estado" eram arquivados.
Foto: Simon Menner/BStU2013
Cisne morto
Algumas imagens dos arquivos da Stasi permanecem sendo um mistério. Esta foto de um cisne morto foi encontrada no gabinete do chefe da Stasi, Erich Mielke, depois da queda do Muro. "Algumas fotos temos que apenas mostrar, com todo seu absurdo e estranheza", diz Simon Menner.