Alemanha considera ampliar gasto com defesa para 5% do PIB
15 de maio de 2025
Ministro do Exterior anunciou plano um dia após chanceler dizer que país terá "Forças Armadas mais fortes da Europa". Ministros da Defesa e das Finanças reagem e pedem cautela sobre cifra.
A Bundeswehr (Forças Armadas alemãs) sofre com a falta de equipamentos e de novos recrutasFoto: Martin Schutt/dpa/picture alliance
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O ministro alemão do Exterior, Johann Wadepuhl, surpreendeu países aliados da Otan nesta quinta-feira (15/05) ao anunciar que Berlim considera aumentar seus gastos com defesa para 5% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme uma demanda feita recentemente pelo presidente dos EUA, Donald Trump.
Wadepuhl, filiado à conservadora União Democrata Cristã (CDU), disse concordar com a avaliação de Trump de que um aumento drástico nos gastos com defesa era necessário, após se reunir com o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, à margem de uma reunião de ministros do Exterior de países da Otan na cidade turca de Antália.
Washington pediu que os aliados chegassem a um acordo sobre uma nova meta de gastar 5% de seus respectivos PIBs em defesa na próxima cúpula da Otan, em junho. Atualmente, os membros da Otan estão comprometidos em gastar pelo menos 2% do PIB em gastos militares.
O secretário-geral da Otan, Mark Rutte, apresentou na reunião uma estratégia para que os membros atinjam a meta de 5% por meio de investimentos de 3,5% do PIB em gastos militares e 1,5% em outras medidas de segurança, como infraestrutura e defesa cibernética – proposta apoiada por Wadephul.
O ministro da Defesa, Boris Pistorius, do Partido Social-Democrata (SPD), que integra a coalizão de governo, reagiu com cautela às observações de Wadephul. "A porcentagem não é tão importante. O importante é que as metas de capacidade da Otan definidas sejam cumpridas de forma rápida, abrangente e pontual", afirmou durante uma reunião com seu homólogo britânico, John Healey.
Pistorius disse que é provável que haja negociações sobre o aumento da meta para 3%, e sugeriu que a decisão final sobre a questão caberia ao seu ministério.
"O importante é que as metas da Otan sejam cumpridas de forma rápida, abrangente e pontual" disse ministro alemão da DefesaFoto: Anna Ross/dpa/picture alliance
"Estou satisfeito com o ótimo início que tive e continuo tendo com meu colega ministro do Exterior, Jo Wadephul", disse Pistorius. "Ao mesmo tempo, ele sabe tão bem quanto eu que o orçamento da defesa está definido na Seção 14, que é meu departamento."
O ministro alemão das Finanças, Lars Klingbeil, também do SPD, afirmou que o país gastará mais em segurança, "mas a quantia a ser dedicada a isso vai ser determinada pelo acordo alcançado na cúpula da Otan", que ocorrerá no próximo mês em Haia.
Merz quer reduzir dependência dos EUA
Para a Alemanha, gastar 5% do PIB equivaleria a mais de 200 bilhões de euros por ano – valor considerado anteriormente como sendo fora da realidade.
Contudo, a coalizão de Merz aumentou a capacidade de gastos do governo ao afrouxar as regras de endividamento e conseguir a aprovação de centenas de bilhões de euros em financiamentos adicionais para defesa e infraestrutura.
Em entrevista ao semanário alemão Die Zeit, Merz afirmou que os grandes investimentos em defesa – especialmente em sistemas fabricados na Europa – devem ser visto como um estímulo para a economia em recessão e para encerrar a dependência de Washington em termos de segurança.
"Se quisermos fortalecer nossas capacidades de defesa, precisamos reduzir gradualmente nossa dependência dos EUA", disse o chanceler federal.
Trump vem alegando há anos que os parceiros da Otan não contribuem de maneira justa para a aliança. A Alemanha, por exemplo, atingiu a meta de gastar 2% de seu PIB em defesa somente no ano passado.
Secretário de Estado americano, Marco Rubio (esq.), se reuniu com ministro alemão do Exterior, Johann Wadepuhl, na TurquiaFoto: Umit Bektas/REUTERS
Em Antália, Rubio afirmou que "a Otan tem a oportunidade de se fortalecer ainda mais". "A aliança é tão forte quanto seu elo mais fraco, e pretendemos e nos esforçamos para não ter elos fracos na aliança", acrescentou.
Rutte destaca ameaças à Otan
O secretário-geral da Otan disse que os gastos adicionais são necessários para proteger a aliança de diferentes ameaças – incluindo a Rússia, o aumento do poderio militar da China e o terrorismo – mas também para aumentar a produção industrial de defesa da Otan.
"Precisamos produzir mais em toda a Otan, particularmente quando olhamos para a Rússia", disse Rutte. "Temos que vencê-los no que diz respeito à produção industrial de defesa."
O orçamento também é necessário "para garantir que a Ucrânia possa prevalecer [na guerra contra a Rússia] e que possamos ajudar coletivamente a Ucrânia a levar esta guerra a uma paz duradoura", concluiu Rutte.
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"Mudança de paradigma"
Em entrevista ao jornal alemão Bild, Roderich Kiesewetter, ex-militar alemão de alto escalão e político da CDU de Merz e Wadephul, chamou a medida de uma "mudança de paradigma". "Não acontecerá da noite para o dia, mas precisa acontecer". acrescentou.
A meta parece ambiciosa, tendo em vista o estado atual da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs), que sofre com a escassez de sistemas de armas essenciais e enfrenta dificuldades para recrutar novos membros.
A Alemanha, com sua história sombria na Segunda Guerra Mundial, por muito tempo relutou em investir demasiadamente em defesa. O orçamento militar do país caiu drasticamente após a Guerra Fria, à medida que os países europeus dependiam mais dos Estados Unidos, o maior "peso-pesado" da Otan, para sua segurança.
Wadephul (esq.) e Friedrich Merz participaram de viagem de líderes europeus à UcrâniaFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
As décadas de gastos militares reduzidos diminuíram o número de tanques de guerra e obuses da Alemanha, de milhares para centenas. Nos últimos anos, a Bundeswehr foi criticada por falhas de equipamento ao enviar contingentes para o Afeganistão e o Mali. Entre os problemas estavam helicópteros que não conseguiam voar e fuzis que não atiravam corretamente.
A Bundeswehr, cujo objetivo é aumentar seu efetivo para 203 mil soldados até 2031, ficou aquém da meta do ano passado de aumentar seu contingente em mais de 20 mil soldados, apesar de uma campanha nas redes sociais.
As Forças Armadas têm "muito pouco de tudo" – de defesas aéreas e drones a satélites e capacidades de inteligência artificial – alertou em março a comissária parlamentar para as Forças Armadas, Eva Hoegl, do SPD.
rc/bl (afp, dpa)
O mês de maio em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Francesco Sforza/REUTERS
Ataque russo na Ucrânia atinge ônibus e mata passageiros
Pelo menos nove pessoas morreram em decorrência de um ataque com drones lançado pela Rússia contra um ônibus com destino a Sumy, no nordeste da Ucrânia. Segundo os ucrnaianos, o veículo estava levando civis que saíam da linha de frente da guerra, e se encontrava em uma área a cerca de 10 quilômetros da fronteira com a Rússia. (17/05)
Foto: Ukrainische Militärverwaltung
Surto de gripe aviária no Brasil
A confirmação do primeiro surto de gripe aviária em uma granja comercial no Brasil levou alguns países como China e Argentina a interromperem a compra de carne de frango brasileira, pressionando o mercado bilionário de exportação do produto. Governo afirma que as medidas de contenção e erradicação para debelar a doença e manter a capacidade produtiva do setor já foram tomadas. (16/05)
Foto: JUSTIN SULLIVAN/Getty Images/AFP
Israel intensifica ataques enquanto mantem bloqueio a Gaza
Defesa Civil palestina relatou mais de 100 mortes em apenas um dia em ataques israelenses à Faixa de Gaza, onde a crise humanitária e a escassez de recursos atingem níveis cada vez mais alarmantes. ONU alerta que estoques de alimentos, água potável, combustíveis e medicamentos atingiram níveis extremamente baixos. (15/05)
Foto: Hatem Khaled/REUTERS
Alemanha prende três por planejarem atos de sabotagem
O Ministério Público da Alemanha anunciou a prisão de três cidadãos ucranianos, dois deles na Alemanha e um na Suíça, por suspeita de atuarem como agentes da Rússia para realizar atos de sabotagem com explosivos no transporte de cargas alemão. (14/05)
Foto: Uli Deck/dpa/picture alliance
Morre "Pepe" Mujica, o presidente mais humilde do mundo
O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica morreu aos 89 anos. Ele estava em estágio terminal de um câncer de esôfago e recebia cuidados paliativos. Sua morte foi informada pelo atual líder do país sul-americano, Yamandu Orsi. Líderes do mundo inteiro se despediram do ex-guerrilheiro uruguaio. (13/05)
Foto: Gerardo Vieyra/NurPhoto/IMAGO
Hamas anuncia libertação de refém israelense-americano
O braço armado do Hamas informou que libertou o soldado israelense-americano Edan Alexander, de 21 anos, que havia sido mantido como refém em Gaza desde 7 de outubro de 2023. A libertação ocorreu "após contatos com a administração dos EUA, no âmbito dos esforços dos mediadores para chegar a um cessar-fogo", disse a organização terrorista palestina em comunicado (12/05).
Foto: Ohad Zwigenberg/AP/dpa/picture alliance
Primeira bênção dominical do papa Leão 14
Em sua primeira bênção dominical na Praça de São Pedro, o papa Leão 14 pediu uma paz genuína e justa na Ucrânia e um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. "Depois desse cenário dramático de uma terceira guerra mundial em pedaços, como tantas vezes afirmou o papa Francisco, eu me dirijo também aos grandes do mundo, repetindo o apelo sempre atual: nunca mais a guerra", afirmou o pontífice. (11/05)
Foto: Vatican Media/ZUMA Press/IMAGO
Macron, Merz, Starmer e Tusk visitam Kiev
Os líderes do Reino Unido, Keir Starmer, da França, Emmanuel Macron, da Alemanha, Friedrich Merz, e da Polônia, Donald Tusk, se encontraram com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em Kiev, uma demonstração conjunta de apoio à Ucrânia. A visita ocorre um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, receber aliados no evento que marcou os 80 anos do fim da Segunda Guerra em Moscou. (10/05)
Foto: LUDOVIC MARIN/POOL/AFP/Getty Images
Leão 14 celebra sua 1ª missa como novo papa
O papa Leão 14 celebrou sua primeira missa após ter sido escolhido como o novo líder da Igreja Católica. O missionário agostiniano retornou à Capela Sistina, onde ocorreu o conclave, para celebrar a missa na presença dos cardeais. Na homilia, disse que foi eleito para que a Igreja possa ser um "farol" para iluminar as regiões do mundo onde haja falta de fé. (09/05)
Foto: VATICAN MEDIA/Handout/AFP
Cardeal americano Robert Prevost é eleito novo papa
O conclave elegeu o cardeal americano Robert Prevost, de 69 anos, como o 267º papa da Igreja Católica. Missionário agostiniano, ele é o primeiro pontífice nascido nos EUA da história. Em seu primeiro discurso aos fiéis, homenageou o papa Francisco, pediu construção de pontos e paz a todos os povos. (08/05)
Foto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS
Começa o conclave que irá eleger o novo papa
Cardeais de todo o mundo estão reunidos no Vaticano para eleger o próximo líder da Igreja Católica.133 cardeais de 71 países estão aptos a votar no maior e mais geograficamente diverso conclave em 2 mil anos de história. Ao fim do primeiro dia, fumaça preta na chaminé da Capela Sistina indicou que não houve consenso em torno de um novo nome. (07/05)
Foto: Gregorio Borgia/AP/picture alliance
Merz toma posse após tropeço histórico no Bundestag
O Bundestag (Parlamento) elegeu oficialmente, em segunda votação, o conservador Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), como o novo chanceler federal do país Ele é o terceiro membro da CDU a chefiar o governo alemão desde a reunificação do país, em 1990. O conservador conseguiu o feito inédito de não conseguir se eleger na primeira rodada de votação (06/05).
Foto: Lisi Niesner/REUTERS
Israel se prepara para ampliar ofensiva militar em Gaza
O gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para expandir as operações militares em Gaza, incluindo a "conquista" do território palestino e a pressão para que residentes se desloquem para o sul. No domingo, militares israelenses já haviam iniciado uma convocação em massa de reservistas para ampliar a ofensiva contra o Hamas na Faixa de Gaza. (05/05)
Foto: Omar Ashtawy/ZUMAPRESS.com/picture alliance
Míssil disparado do Iêmen cai perto do aeroporto de Tel Aviv
O Aeroporto Internacional de Ben Gurion, na região de Tel Aviv, foi alvo de um ataque de míssil. Os rebeldes Houthis, do Iêmen, grupo aliado do Hamas, reivindicaram a autoria do ataque, que causou interrupção no tráfego aéreo. O exército israelense reconheceu que não conseguiu interceptar o míssil. (04/05)
Foto: Ohad Zwingenberg/AP/dpa/picture alliance
Austrália: esquerda reelege premiê em meio a onda anti-Trump
O primeiro-ministro da Austrália, o trabalhista Anthony Albanese, proclamou a vitória de seu partido nas eleições gerais. Ele se tornou, assim, o primeiro chefe de governo a conquistar um segundo mandato consecutivo de três anos em 21 anos. "Os australianos escolheram enfrentar os desafios globais do jeito australiano, cuidando uns dos outros e construindo o futuro", disse Albanese. (03/05)
Foto: Rick Rycroft/AP Photo/picture alliance
Inteligência alemã classifica AfD como extremista de direita
A inteligência interna da Alemanha classificou sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma "organização comprovadamente extremista de direita" que ameaça a democracia e viola a dignidade humana ao tentar excluir grupos populacionais, como os imigrantes. A medida permite às agências de segurança monitorarem de forma mais incisiva o partido. (02/05)
Foto: dts Nachrichtenagentur/IMAGO
Trabalhadores ao redor do mundo protestam no 1º de Maio
Redução de jornada, garantia de direitos e melhoria do ambiente de trabalho foram algumas das reivindicações de manifestações em todo o mundo no Dia do Trabalhador, como nesta em Daca, capital de Bangladesh. A data remonta ao início de uma greve em Detroit ocorrida em 1886, que resultou na prisão e morte de trabalhadores. (01/05)