Proteção do clima
19 de dezembro de 2007A Comissão Européia desencadeou uma onda de protestos da indústria automobilística e do governo da Alemanha contra sua proposta de reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono (CO2) dos automóveis.
Segundo o plano, a partir de 2012, carros novos só poderão emitir 120 gramas de CO2 por quilômetro, em vez da média atual de 160 gramas. "Isso será um forte sinal para o mundo sobre a determinação da UE de adotar medidas corajosas", disse o comissário europeu de Meio Ambiente, Stavros Dimas, ao apresentar o projeto de lei, nesta quarta-feira (19/12).
Já que veículos grandes emitem mais CO2, seus fabricantes serão obrigados a reduzir mais as emissões do que as montadoras de carros leves e compactos. A Associação Européia dos Fabricantes de Automóveis (Acea) bem como a BMW e a Volkswagen condenaram a proposta.
As montadoras alemãs, especializadas em carros de luxo, se vêem "castigadas" demais. Um porta-voz da BMW falou de "distorção do mercado" e disse que as propostas são "ingênuas em relação à meta ambiental".
Merkel defende a indústria
A chanceler federal Angela Merkel disse que o governo alemão defende a meta de redução, "mas o caminho até lá não é favorável. Por isso, acreditamos que aqui se faz uma política industrial em prejuízo das montadoras alemãs". Berlim teme bilhões de prejuízos para a indústria automobilística do país.
O ministro alemão do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, disse que não se trata de proteção do clima e, sim, de "uma guerra de concorrência entre as indústrias automobilísticas alemã, francesa e italiana". Os últimos seriam beneficiados pelo pacote de medidas.
Bruxelas vê a nova legislação como uma contribuição para a UE atingir suas ambiciosas metas de proteção do clima. Durante a presidência alemã da UE, os 27 países do bloco decidiram no final de março deste ano reduzir em 20% as emissões de CO2 até 2020, tomando como referência os níveis registrados em 1990.
Os governos da Alemanha, da França e da Itália vinham pressionando na Comissão Européia para não sobrecarregar a indústria automobilística de seus países. Enquanto a BMW, a Daimler Benz e a Porsche são especializadas em carros grandes e luxuosos, os concorrentes franceses – Peugeot e Renault – concentram-se na produção de carros pequenos.
Segundo a UE, somente através de aprimoramento tecnológico, as montadoras devem reduzir as emissões para 130 gramas de CO2/km. Outros 10 gramas devem ser reduzidos com medidas como ares-condicionados mais econômicos ou melhores pneus.
O limite não vale para cada veículo individualmente e, sim, deve ser atingido na média pela frota total de uma montadora. Para obrigar a indústria a respeitar os limites, a partir de 2012 haverá multa de 20 euros por grama de CO2 que superar o teto estabelecido. Esse valor aumentará progressivamente para 95 euros/g até 2015.
Divergências na UE
De acordo com cálculos de peritos, em média os veículos novos se tornarão 1.300 euros mais carros e as montadoras do segmento de luxo terão custos adicionais de bilhões de euros, caso não atinjam as metas de redução de CO2.
Dimas apresentou o projeto como sendo da Comissão Européia, mas há sinais de que não houve consenso entre os 27 países-membros. Os comissários da Indústria, o alemão Günter Verheugen, da Justiça, o italiano Franco Frattini, e dos Transportes, o francês Jacques Barrot, rejeitaram os planos.
Verheugen, que defendeu multas menores e períodos de transição para os limites de emissão, boicotou a entrevista coletiva à imprensa, que ele deveria conceder junto com Dimas.
A Volkswagen criticou que a indústria agora não terá tempo suficiente para desenvolver motores "mais ecológicos". Dimas rebateu essa crítica, lembrando que as montadoras não cumpriram uma promessa feita em 1996 de reduzir voluntariamente as emissões de CO2 para 140 gramas.
Poder das montadoras
Para o Clube do Trânsito da Alemanha (CVD), a proposta da UE ainda é muito tímida. "A Alemanha e a Europa perderão a credibilidade em seus esforços internacionais pela proteção do clima se deixarem se instrumentalizar dessa maneira pela indústria automobilística", disse o presidente do CVD, Hermann-Josef Vogt.
Ele acusou o governo alemão de haver pressionado maciçamente a Comissão Européia para impedir metas mais ambiciosas e assim proteger a indústria automobilística alemã.
O diretor do Instituto de Economia Automotiva, Willi Diez, prevê que as montadoras alemãs tentarão compensar os custos das exigências feitas por Bruxelas através de um aumento dos preços dos veículos, da racionalização da produção (com cortes de mão-de-obra) e da expansão de suas atividades no exterior. (gh)