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Alemanha dá partida a "clubes de maconha"

1 de julho de 2024

Após a legalização do porte e cultivo de cânabis para uso pessoal, país dá mais um passo no combate ao mercado negro das drogas: "associações de cultivo" podem suprir de erva até 500 sócios– mas com restrições.

Grafiti de homem fumando cigarro de maconha, em Christiania, Dinamarca
Polícia alemã se preocupa que narcotráfico infiltre associações de cultivo de cânabisFoto: Fabian von Poser/imageBROKER/picture alliance

Por toda a Alemanha, sente-se no ar o cheiro da mudança: desde 1º de abril é legal maiores de idade portarem e consumirem cânabis. Mas as restrições e imposições são múltiplas: em âmbito doméstico, por exemplo, só é permitido manter três plantas da erva.

A partir desta segunda-feira (01/07), contudo, entra em vigor a norma que permite o funcionamento de "associações de cultivo" (Anbauvereinigungen), autorizadas a produzir quantidades maiores.

Os interessados precisam apresentar requerimentos às autoridades competentes e fazer uma série de outros preparativos. Portanto, entre o semeio, a colheita e os primeiros baseados, ainda deverão transcorrer várias semanas.

O que são os "clubes de maconha"

A liberalização da posse e cultivo para consumo próprio teve como finalidade coibir o mercado negro, onde a cânabis costuma ser misturada com outras substâncias e negociada em concentrações altas. Por outro lado, o Ministério da Saúde argumentou que é preciso haver quantidade suficiente de erva legal disponível. Aqui é onde entram as associações de cultivo – já apelidadas "cannabis social clubs", ou "clubes de maconha".

Elas podem reunir até 500 membros com o fim de plantar cânabis com fins não lucrativos e distribuí-la entre si, para consumo próprio. Segundo a lei, visam também difundir sementes e mudas, e informar sobre a prevenção de dependência.

Os diretores dos clubes não podem ser fichados por delitos relacionados a drogas. Os sócios devem estar morando há pelo menos seis meses na Alemanha, e há um prazo de carência de seis meses para a filiação. Assim, o Ministério da Saúde pretende evitar narcoturismo.

A área de cultivo não pode ser num prédio residencial nem exibir letreiros chamativos. Publicidade é tabu, assim como o consumo no local e num raio de 100 metros da entrada. Em relação a escolas, playgrounds e outras instalações infanto-juvenis, a distância mínima é de 200 metros.

Totalmente sem fins lucrativos

Ao requerer licença, os clubes da maconha devem fornecer dados como número de afiliados, local e tamanho das áreas de cultivo e previsão da produção anual, além de que medidas de segurança e esquemas de saúde e proteção da juventude pretendem adotar.

A licença vale por sete anos, podendo ser prorrogada após cinco. Em média, os estados preveem um prazo de três meses para exame dos requerimentos. O Ministério da Saúde conta com a fundação de cerca de mil clubes no primeiro ano, acrescidos por 500 outros a cada ano, entre 2025 e 2029.

As quantidades da erva para os membros dos clubes são limitadas: um máximo de 25 gramas por dia ou 50 gramas por mês. Para indivíduos de 18 a 21 anos, o limite é de 30 gramas por mês com, no máximo, 10% de tetra-hidrocanabinol (THC), a substância entorpecente da erva.

Para receber sua quota de cânabis, os membros dos "clubes" devem se apresentar em pessoa, munidos da carteira de sócio e documento de identidade. Só é permitida a distribuição em forma pura, seja de flores ou inflorescências secas (marijuana) ou resina extraída (haxixe), estando proibidas misturas com tabaco, nicotina ou alimentos.

A embalagem deve ser neutra, contendo dados sobre peso, tipo, concentração média de THC e advertências sobre os riscos do consumo. Não é permitido qualquer transação: as associações têm que se manter exclusivamente através das mensalidades pagas pelos sócios. Está prevista para 5 de julho a aprovação da lei regulando o consumo de maconha legal por motoristas: a taxa máxima prevista de THC no sangue é de 3,5 nanogramas.

"Clubes" podem contribuir para narcotráfico?

Se a associação produzir mais cânabis do que o previsto na licença, o excedente deve ser destruído. Cabe exclusivamente aos afiliados plantar, regar, adubar e podar as plantas: as tarefas de cultivo não podem ser terceirizadas. Somente sementes podem ser repassadas a não sócios, mas a maconha para consumo, não.

A fim de evitar a criação de grandes plantações, cada estado pode optar por aplicar a limitação, prevista na lei, de um clube para cada 6 mil habitantes. Ainda assim, o Sindicato da Polícia (GdP) da Alemanha tem expressado receio de que os clubes de maconha contribuam para o consumo crescente de drogas entre menores de idade, alertando contra o perigo de infiltração por quadrilhas de narcotráfico.

"Nós tememos que criminosos do setor da criminalidade organizada utilizem a possibilidade das associações de cultivo para expandir estruturas criminosas", comentou o vice-presidente do GdP, Alexander Poitz, ao jornal Augsburger Allgemeine, antes da entrada em vigor da lei. "Assim, as associações trazem o risco de que o mercado negro da cânabis cresça."

A futura ampliação das alternativas de produção também pode representar um problema para a juventude: "Temos receio de impactos negativos, sobretudo para crianças e jovens, pois em breve haverá mais cânabis em circulação, que também pode ser consumida publicamente", alertou o sindicalista Poitz.

av (AFP,DPA)

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