Com proposta, conservadores reacendem discussão sobre o relacionamento conturbado do país com seus símbolos. Ideia é que medida possa ajudar a desvincular as cores alemãs da extrema direita.
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A União Democrata Cristã (CDU), o partido da chanceler federal alemã, Angela Merkel, anunciou que realizará uma votação sobre se as escolas na Alemanha devem hastear a bandeira nacional do lado de fora de seus edifícios, ao lado das bandeiras do estado em que a escola se encontra e da União Europeia (UE). A iniciativa foi lançada por uma organização regional alinhada à legenda conservadora.
A moção será apresentada aos correligionários na conferência da CDU, neste fim de semana, em Leipzig, pela filial partidária que representa o estado alemão de Baden-Württemberg. Vários membros do alto escalão da CDU apoiam o plano, e muitos esperam que a moção seja adotada na política do partido.
A ideia foi lançada por uma associação regional de estudantes intitulada Schülerunion (SU), uma organização conservadora independente que possui milhares de membros em toda a Alemanha.
"Acho que é um sinal importante em momentos em que nossa bandeira nacional está sendo apropriada e denegrida por radicais de esquerda e de direita", disse Sven Fontaine, vice-presidente da direção nacional da SU, em entrevista à DW. "O ódio está sendo espalhado mais uma vez usando nossas cores nacionais. Somos um país baseado na diversidade, unidade, justiça e liberdade, e não no ódio."
Fontaine afirmou que a SU tem discutido a questão há vários anos e a adotou na política da organização em 2018. "É importante que isso aconteça nas escolas porque as escolas mediam nossos valores", argumentou. "É nas escolas em que você dá os primeiros passos em seu próprio desenvolvimento político. Vemos isso atualmente com o movimento 'Fridays for Future'."
"Se as bandeiras estão hasteadas do lado de fora das escolas, as pessoas refletem sobre o porquê de elas estarem lá e podem tirar lições sobre os valores que elas representam", acrescentou.
A moção também conta com o apoio da ala juvenil da CDU, a Junge Union (JU). Seu presidente, Tilman Kuban, disse à rede de comunicação RND que hastear bandeiras fora das escolas "também representa um sinal claro de que não permitiremos que a bandeira seja apropriada por forças que não compartilham os valores associados a ela".
A ideia foi recebida com ceticismo pelos parceiros da coalizão de governo federal, o Partido Social-Democrata (SPD), embora apenas por motivos administrativos. "Fico feliz em ver bandeiras alemãs sendo hasteadas em qualquer lugar", disse Johannes Kahrs, do SPD. "Mas as escolas são administradas pelos estados [educação na Alemanha é responsabilidade estadual, e não federal], e isso deve ser decidido em nível local."
Velha bandeira por novos tempos
Nos últimos anos, os conservadores de Merkel tentaram recuperar retoricamente as cores nacionais da Alemanha – preto, vermelho e dourado – de populistas de extrema direita que ressurgiram na política alemã.
Em 2015, quando as bandeiras nacionais foram carregadas com destaque em passeatas de extrema direita do movimento anti-imigração Pegida (sigla em alemão para "Europeus patriotas contra a islamização do Ocidente"), o então secretário-geral da CDU Peter Tauber pediu ao partido que não deixasse as cores da Alemanha para "aqueles que espalham ódio e medo" sob a bandeira alemã.
Fontaine adotou o mesmo discurso. "Podemos ver que os alemães têm um problema com o orgulho nacional, em parte por causa da nossa história, que é importante de ser abordada", disse. "Mas deveríamos ainda assim hastear nossas cores nacionais, que antes do passado sombrio sempre representaram unidade, justiça, liberdade e dignidade humana."
A maioria dos edifícios do governo da Alemanha ostenta a bandeira nacional ao lado da bandeira da UE, e os prédios de governos estaduais têm hasteadas também as bandeiras dos respectivos estados. Mas poucos cidadãos hasteiam bandeiras da Alemanha no país, exceto durante os principais torneios internacionais de futebol.
As cores preto-vermelho-dourado da Alemanha tremularam pela primeira vez durante as guerras de libertação do país das forças de Napoleão Bonaparte, entre 1813 e 1815 – elas significavam a unidade entre os vários estados alemães. A bandeira se tornou um símbolo subversivo ao republicanismo antes de ser adotada pelo Parlamento alemão em 1848 como um paliativo a revolucionários.
A bandeira com estas cores se tornou o estandarte oficial da Alemanha em 1919, com o início da República de Weimar. Posteriormente, ela foi substituída pelo regime nazista por uma bandeira branca e vermelha com uma suástica preta, antes de ser restabelecida quando as duas Alemanhas foram fundadas, em 1949.
Da bíblia de Lutero à bola da final da Copa de 1954 e ao celular de Merkel. O historiador Hermann Schäfer escolheu uma centena de itens para ilustrar 2 mil anos da trajetória alemã. Confira alguns deles.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Büttner
Celular de Merkel
"Espionagem entre amigos é algo que não dá [para aceitar]", disse Angela Merkel em 2013, após a revelação de que a Agência Nacional de Segurança (NSA) dos EUA havia grampeado seu celular por mais de dez anos. Em 2006, a chanceler alemã doou seu velho aparelho, um Siemens S55, ao museu Haus der Geschichte, em Bonn. Na foto acima, Merkel mostra seu novo celular, muito mais seguro que o anterior.
Foto: picture-alliance/dpa
Trono de Carlos Magno
Por muitos séculos, o trono de Carlos Magno – na igreja Marienkirche, em Aachen, cidade no oeste da Alemanha – foi um símbolo de poder e adorado como uma relíquia. O primeiro rei a ser coroado nesse trono, na verdade, não foi Carlos Magno, mas Otto 1º, no ano de 936. Um homem só se tornava rei legítimo depois de receber a unção com óleo sagrado e sentar no trono.
Foto: picture alliance/R. Goldmann
Bíblia de Martinho Lutero
A primeira bíblia completa em língua alemã foi apresentada em outubro de 1534 na feira comercial de Michaelismesse, em Leipzig. Martinho Lutero traduziu o Velho e o Novo Testamentos e publicou ambas as partes. As 3 mil cópias da primeira edição foram vendidas rapidamente, e cerca de 60 desses exemplares ainda existem hoje.
Foto: AP
Imperador na Galeria dos Espelhos
Em 1871, Guilherme 1º foi proclamado imperador alemão no Palácio de Versalhes. Após 14 anos, o acontecimento foi pintado por Anton von Werner, a pedido do chanceler imperial Otto von Bismarck. O artista fez algumas adições, como Albrecht von Roon, um amigo de Otto que não estava em Versalhes na data. Esta é a terceira versão da pintura – as duas primeiras se perderam durante a Segunda Guerra.
Foto: ullstein bild
O primeiro automóvel
A história de sucesso dos automóveis teve início há quase 130 anos. O alemão Carl Benz patenteou, em 1886, seu "veículo movido a gasolina" de três rodas – e assim nascia o primeiro carro. Em 1906, o engenheiro doou uma versão reconstruída do "Patent-Motorwagen Nummer 1" ao Museu Alemão em Munique e ficou para sempre lembrado como o inventor do automóvel.
Foto: picture-alliance/dpa
Rádio do povo
O "Volksempfänger" (receptor do povo) foi um aparelho de rádio com preço acessível, criado para atingir o maior número possível de famílias e usado pelos nazistas para espalhar sua propaganda. O VE 301 foi lançado em 1933. Os números em seu nome fazem referência ao dia 30 de janeiro, data em que Adolf Hitler chegou ao poder, naquele mesmo ano.
Foto: picture-alliance/ZB
O primeiro computador
Aos 9 anos, Konrad Zuse reprovou em matemática na escola. Em 1938, criou o primeiro computador digital e programável do mundo – assim como os computadores atuais, o Z1 operava com sistema binário. Em setembro de 1941, ele apresentou o Z3, uma versão totalmente funcional. O engenheiro alemão foi reconhecido como o inventor do primeiro computador em 1998, por um grupo de especialistas em Paderborn.
Foto: DW
Fim da Segunda Guerra
A cena acima foi capturada pelo fotógrafo Yevgeny Khaldei em 2 de maio de 1945, logo depois de o prédio do Reichstag, o Parlamento alemão em Berlim, ter sido tomado pela União Soviética. Por ordem de Stalin, a foto foi encenada e depois manipulada. Ela se tornou símbolo do fim da Segunda Guerra e uma das imagens mais reproduzidas do século 20 – mas o crédito só foi atribuído a Khaldei nos anos 90.
Foto: picture-alliance/dpa
Julgamentos de Nurembergue
Os julgamentos de Nurembergue – contra criminosos de guerra do regime nazista – aconteceram entre 20 de novembro de 1945 e 1º de outubro de 1946. Foi o primeiro tribunal internacional do mundo. Os líderes nazistas Herman Göring e Rudolf Hess estavam entre os acusados. Duas das bancadas da Sala 600 do Palácio de Justiça (foto) estão expostas no museu Memorium Nürnberger Prozesse, em Nurembergue.
Foto: picture-alliance/D. Kalker
Copa do Mundo de 1954
A partida entre Alemanha e Hungria terminou com o placar de 3 a 2, tornando a seleção alemã campeã mundial pela primeira vez na história. Helmut Rahn foi quem marcou o último gol. A vitória ficou conhecida como "Wunder von Bern" – em português, milagre de Berna, cidade suíça que hospedou a final de 1954. A bola original da partida pode ser vista no Museu Alemão do Futebol, em Dortmund.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Vennenbernd
Checkpoint Friedrichstrasse
A estação ferroviária Friedrichstrasse era o mais importante posto de passagem entre Berlim Ocidental e Oriental: 60% das pessoas cruzavam a fronteira por ali. Quem queria ir para o outro lado do Muro de Berlim precisava passar pelas sombrias salas de controle alfandegário. O prédio recebeu o nome de Tränenpalast (Palácio das Lágrimas) nos anos 80 e foi declarado monumento histórico em 1995.
Foto: DW
Revolução energética
Após o acidente nuclear de Fukushima, no Japão, a Alemanha foi o primeiro país a se comprometer com a adoção gradual de energias renováveis. Para armazenar energias solar e eólica, a companhia alemã Wemag colocou em operação 25,6 mil células de baterias recarregáveis na cidade de Schwerin, em 2014. Com esse sistema totalmente automatizado, foi possível equilibrar picos de energia de curto prazo.