Alemanha debate legalizar a prática de pegar comida do lixo
31 de maio de 2019
Cidade-estado de Hamburgo vai propor ao governo federal a legalização do vasculhamento de lixo alheio em busca de alimentos, considerado roubo no país. Medida visa combater o desperdício.
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A Secretaria de Justiça da cidade-estado de Hamburgo prepara uma iniciativa inédita na Alemanha para combater o desperdício de alimentos ao legalizar a prática conhecida como "containern" – o ato de vasculhar o lixo de terceiros em busca de itens que possam ser aproveitados.
Reportagens divulgadas nesta sexta-feira (31/05) pela imprensa alemã afirmam que o secretário de Justiça de Hamburgo, Till Steffen, do Partido Verde, elabora uma proposta ao governo federal sobre o tema, que será apresentada na próxima semana durante a Conferência dos Secretários Estaduais de Justiça.
Na Alemanha, a retirada não autorizada de alimentos encontrados no lixo é considerada legalmente como roubo. Em janeiro, duas ativistas alemãs foram condenadas pela prática após terem retirado alimentos do lixo de um supermercado no sul do país. A intenção das jovens era chamar a atenção para o desperdício de comida.
Na ocasião, os juízes que julgaram o caso disseram que, apesar de os produtos estarem no lixo, eles ainda eram propriedade do supermercado. As jovens foram condenadas a contribuir com oito horas de trabalho voluntário para um banco de alimentos local e pagar uma multa de 225 euros cada, mas poderão ficar isentas da pena caso não sejam autuadas durante um período de dois anos.
Agora, o secretário de Justiça de Hamburgo quer que o governo federal permita a prática do "Containern" a fim de evitar punições aos moradores de rua e ativistas que protestam contra o desperdício de comida e os excessos do consumo na sociedade.
Steffen propõe uma proibição aos supermercados de jogar comida fora. Um modelo a ser seguido pode ser o da França, que aprovou em 2016 uma lei contra o desperdício que obriga mercados com áreas maiores que 400 metros quadrados a doar os alimentos não vendidos para instituições sem fins lucrativos.
"A cada ano jogamos fora milhões de toneladas de alimentos na Alemanha. Eu acho errado processarmos pessoas que agem contra esse desperdício através do 'Containern'", diz Steffen, citado pelo portal de notícias Tagesschau.de. "Para conseguir isso, poderíamos mudar a definição de propriedade no Código Civil ou no Código Criminal."
Mesmo que o pedido do secretário não tenha efeito judicialmente vinculativo, o governo federal terá de examinar a proposta.
Na Alemanha, muitos supermercados trabalham em conjunto com bancos de alimentos locais, que redistribuem a comida não aproveitada. Ainda assim, segundo um estudo da Universidade de Stuttgart, cerca de 13 milhões de toneladas de comida vão parar no lixo todos os anos.
Praias antes paradisíacas repletas de garrafas, animais engasgados com dejetos, pessoas recolhendo o material em aterros. Uso desenfreado do derivado do petróleo deixa rastro preocupante no meio ambiente.
Foto: Daniel Müller/Greenpeace
A era do plástico
Leve, durável, flexível e muito popular. O mundo produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico desde o início da produção em massa, nos anos 50. Como o material não é facilmente biodegradável, muito do que foi produzido acaba em aterros como este, nos arredores de Nairóbi. Catadores de lixo caçam plásticos recicláveis para ganhar a vida. Mas muito também acaba no oceano.
Foto: Reuters/T. Mukoya
Rios de lixo
Cerca de 90% do plástico entra nos habitats marinhos através de apenas dez rios: o Yangtzé, o Indo, o Amarelo, o Hai, o Nilo, o Ganges, o Pearl River, o Amur, o Níger e o Mekong. Esses rios atravessam áreas altamente povoadas, com falta de infraestrutura adequada para o descarte de resíduos. Aqui, um pescador nas Filipinas retira uma armadilha para peixes e caranguejos de águas poluídas.
Foto: picture-alliance/Pacific Press/G. B. Dantes
Começo de vida plastificado
Alguns animais encontram uma utilidade para resíduos de plástico. Este cisne fez seu ninho no lixo em um lago de Copenhague que é popular entre os turistas. Seus filhotes saíram dos ovos rodeados de dejetos, o que não é um bom início de vida. Mas para outros animais, as consequências são muito piores.
Foto: picture-alliance/Ritzau Scanpix
Consequências fatais
Embora o plástico seja altamente durável e possa ser usado para produtos com longa vida útil, como móveis e tubulações, cerca de 50% da produção são destinados a produtos descartáveis, incluindo talheres e anéis usados em pacotes de seis unidades de latas de bebidas, que acabam no meio ambiente. Animais correm o risco de se enredar neles e morrer, como ocorreu com este pinguim.
Foto: picture-alliance/Photoshot/Balance
Confundido com comida
Este filhote de albatroz foi encontrado morto em Sand Island, no Havaí, com vários pedaços de plástico no estômago. Um levantamento realizado em 34 espécies de aves no norte da Europa, Rússia, Islândia, Escandinávia e Groenlândia, apontou que 74% delas ingeriram plástico. Comer o material pode levar a danos nos órgãos e bloqueios no intestino.
Mesmo os animais maiores sofrem os efeitos do consumo de plástico. Esta baleia foi encontrada na Tailândia. Durante a tentativa de salvamento, o animal vomitou cinco sacos plásticos e morreu. Na autópsia, os veterinários encontraram 80 sacolas de compras e outros dejetos plásticos que entupiam o estômago da baleia, de modo que ela não conseguia mais digerir alimentos nutritivos.
Foto: Reuters
Dejetos invisíveis
Grandes pedaços de plástico na superfície do oceano, como é registrado aqui, na costa havaiana, chamam atenção. Mas poucos sabem que trilhões de minúsculas partículas com menos de 5 milímetros de diâmetro também flutuam nos mares. Essas partículas acabam na cadeia alimentar. O plâncton marinho, que é uma fonte importante de alimento para peixes e outros animais marinhos, já foi filmado comendo-as.
Foto: picture-alliance/AP Photo/NOAA Pacific Islands Fisheries Science Center
Fim à vista?
Medidas para tentar reduzir o plástico descartável já foram tomadas em alguns países africanos, como proibições de sacolas plásticas, e a União Europeia planeja proibir produtos plásticos descartáveis. Mas se as tendências atuais forem mantidas, cientistas acreditam que haverá 12 bilhões de toneladas de plástico no planeta até 2050.