Alemanha demonstra preocupação com o ritmo das reformas na França
15 de novembro de 2012As más notícias estão se acumulando para o governo francês. No início de novembro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) salientou, em seu relatório financeiro sobre a França, a fraca competitividade da indústria do país no cenário internacional.
Segundo o relatário, o alto grau de endividamento público ameaçará a estabilidade da zona do euro, caso os investidores percam ainda mais a confiança no país. O FMI alerta para o "perigo de contágio", uma vez que os bancos franceses atuam fortemente nos países em crise da zona do euro.
A União Europeia (UE) também demonstrou preocupação com a França. O comissário de questões monetárias Olli Rehn afirmou, durante a apresentação dos prognósticos de crescimento do bloco europeu para o ano de 2013, que a Alemanha estaria em posição bem melhor do que a França.
"Supomos que a economia francesa irá crescer apenas 0,4%, embora o governo em Paris parta de um índice de 0,8%, ou seja, o dobro", disse Rehn. Segundo ele, o deficit público será de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano, e de não 3%, como prometido pelo governo.
O especialista Henrik Uterwedde, do Instituto Franco-Alemão em Ludwigsburg, vê esses números de maneira crítica. "Acredito que a situação seja muito séria, porque a má conjuntura na França não é um fenômeno passageiro, mas permeado pelos problemas estruturais da economia francesa."
Em entrevista à Deutsche Welle, Uterwedde afirma que o presidente François Hollande deveria reduzir o endividamento do país. Porém, uma política de austeridade poderia levar a um enfraquecimento ainda maior da conjuntura. Por isso, conclui Uterwedde, Hollande encontra-se em meio a um dilema.
Competitividade na Europa
A pedido do governo francês, o executivo Louis Gallois concluiu um parecer com 22 medidas para fortalecer a indústria francesa perante a concorrência internacional. Gallois afirmou em Paris, após reunir-se com o primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, que é necessário um verdadeiro "choque", a fim de recuperar a competitividade da indústria francesa no cenário internacional.
"Os franceses devem apoiar esse esforço conjunto, que poderá talvez se transformar num maravilhoso projeto para nosso país, visando fortalecer novamente nossa indústria", disse Gallois, ex-presidente do grupo franco-alemão EADS. "Para isso, precisamos de debates e de um diálogo social em todos os níveis: nas fábricas, nas esferas regional e nacional, a fim de desencadear uma nova dinâmica e novos impulsos", concluiu.
Ayrault anunciou um primeiro passo neste sentido: uma redução tributária de 20 bilhões de euros nos próximos três anos para a indústria. Segundo o especialista Uterwedde, há, contudo, a necessidade de o presidente Hollande levar adiante reformas mais profundas na economia e no setor administrativo.
"Hollande não teve coragem ainda de tocar nas reformas administrativas. Mas ele vai ter que fazer isso, porque um novo relatório do conselho de especialistas sobre a posição da indústria francesa no mercado internacional trouxe notícias muito alarmantes, atestando que a economia do país não poderá ser realmente saneada sem um 'choque' verdadeiro", declarou Uterwedde.
O jornal francês Le Figaro desafiou o chefe de governo socialista a ser "como Schröder", em referência ao ex-chefe de governo alemão, do Partido Social Democrata, que levou a cabo um pacote de reformas sociais e do mercado de trabalho, intitulado Agenda 2010, mesmo contra resistências consideráveis no país.
Preocupações na Alemanha
Ayrault viaja a Berlim nesta quinta-feira (15/11), onde se reúne com a chanceler federal Angela Merkel para debater questões de política financeira. O ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, teria demonstrado sérias preocupações a respeito da morosidade das reformas na França.
O diário francês Liberation noticiou que Paris havia pedido um esclarecimento por escrito a Berlim. Os assessores do presidente Hollande veem o "pânico" provocado pela Alemanha com grande preocupação, escreveu o jornal na última segunda-feira, apontando que a situação na França não pode ser comparada nem com a crise da Grécia nem com a Espanha, e que a insegurança dos mercados financeiros, bem como a especulação, podem acabar sendo desencadeadas por se falar tanto no assunto.
Uterwedde não vê, porém, nenhuma desavença neste sentido. "Os dois países estão condenados a agir juntos, pois estão altamente entrelaçados e são quem dá o tom na zona do euro. Sem uma cooperação entre ambos não poderemos superar a atual crise na zona do euro", conclui.
A França tem que agir
O comissário Rehn vê boa vontade por parte da França no sentido de implementar reformas. As previsões da Comissão Europeia para o crescimento econômico em 2013 poderão, segundo ele, ser modificadas em função de medidas políticas concretas. "Vivenciamos na França uma possível mudança decisiva na política, tanto na consolidação orçamentária quanto em questões relativas à competitividade. Por isso não nos encontramos numa situação estática, mas em mudança", afirmou Rehn à imprensa em Bruxelas.
Uterwedde acredita que Hollande esteja dando apenas os primeiros passos rumo a uma mudança. "Ele sabe que tem que reduzir as dívidas e quer fazer isso, embora até agora não tenha conduzido até o fim a implementação desta política de desendividamento. Isso ainda vai acarretar muitas discussões políticas difíceis na França", resume o especialista.
No próximo ano, o endividamento total do país, segundo uma projeção da Comissão Europeia, ultrapassará o equivalente a 90% do PIB. O percentual é visto como limite crítico da capacidade de um país de suportar dívidas.
Autor: Bernd Riegert (sv)
Revisão: Alexandre Schossler