Alemanha deve reconhecer como genocídio crimes na Namíbia
14 de maio de 2021
Segundo imprensa alemã, acordo entre os dois países também prevê o pagamento de reparação e um pedido de desculpas. Exército alemão massacrou cerca de 75 mil pessoas dos povos herero e nama entre 1904 e 1908.
Anúncio
A Alemanha está perto de um acordo com a Namíbia para reconhecer como genocídio crimes cometidos pelo Exército alemão durante o período do colonialismo na África. Além disso, Berlim deverá pedir perdão e oferecer reparação.
Nesta sexta-feira (14/05), a Deutschlandfunk, emissora oficial de rádio da Alemanha, noticiou que, após seis anos, os dois governos chegaram a um acordo sobre os pontos-chave das negociações. No entanto, uma questão continua em aberto: o valor e formato das indenizações.
De acordo com a emissora, o acordo de reconciliação poderá ser fechado neste final de semana, em uma rodada de negociações que está sendo realizada entre representantes dos dois países em Berlim.
O governo alemão está pronto para reconhecer, do ponto de vista atual, que os assassinatos de dezenas de milhares de pessoas das etnias herero e nama, entre 1904 e 1908, no então Sudoeste Africano Alemão (hoje Namíbia) equivaleram a um genocídio.
Até agora, Berlim relutava em usar o termo, em parte porque implica o pagamento de uma compensação.
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, deve viajar à Namíbia para participar de uma sessão do Parlamento, onde pedirá formalmente perdão.
As indenizações, o ponto mais complicado do acordo, devem servir para compensar, em parte, as consequências sociais do extermínio causado pelo Exército alemão para controlar a região.
Representantes dos herero e nama exigiam indenizações individuais, enquanto Berlim defende o investimento nas terras habitadas por esses dois grupos étnicos.
Em novembro de 2019, o Parlamento alemão usou pela primeira vez o termo genocídio para se referir ao massacre dos hereros e namas.
Anúncio
Mais grave crime da história colonial alemã
Os historiadores estimam que, entre 1904 e 1908, as tropas do imperador alemão Guilherme 2º massacraram aproximadamente 65.000 herero (de um total de cerca de 80.000) e 10.000 nama (de cerca de 20.000), depois que ambos os grupos se rebelaram contra o domínio colonial.
O massacre dos herero e nama é o mais grave crime na história colonial da Alemanha.
O plano sistemático de extermínio de homens, mulheres e crianças incluiu a morte por armas, o bloqueio do acesso à água no deserto e campos de concentração.
Em 2018, a Alemanha devolveu à Namíbia ossadas de vítimas do massacre dos povos herero e nama que estavam guardadas há décadas nos arquivos da Clínica Universitária Charité, em Berlim, entre outros lugares.
A Alemanha se tornou potência colonial relativamente tarde, só ocupando solo africano na década de 1880. Sob o chanceler Otto von Bismarck, o Império Alemão estabeleceu colônias nos atuais territórios da Namíbia, Camarões, Togo, partes da Tanzânia e do Quênia.
O imperador Guilherme 2°, coroado em 1888, procurou expandir ainda mais as possessões coloniais através da criação de novas frotas de navios. Tais territórios foram perdidos em seguida, já durante a Primeira Guerra Mundial.
Foram necessários mais de 100 anos para um governo alemão reconhecer oficialmente as ações coloniais do país na África. Em 2018, a coalizão de governo alemã, composta pelo bloco conservador cristão CDU/CSU e o Partido Social-Democrata (SPD), concordou em fazer uma revisão do passado colonial do país.
le/ek (Efe, ots)
Dez fatos sobre a Alemanha colonialista
Os dolorosos legados do passado colonial alemão.
Foto: Jürgen Bätz/dpa/picture alliance
"Nosso futuro está na água"
Sob o chanceler Otto von Bismarck, o Império Alemão estabeleceu colônias nos atuais territórios da Namíbia, Camarões, Togo, partes da Tanzânia e do Quênia. O imperador Guilherme 2°, coroado em 1888, procurou expandir ainda mais as possessões coloniais através da criação de novas frotas de navios. O império queria seu "lugar ao Sol", declarou Bernhard von Bülow, um chanceler posterior, em 1897.
Foto: picture alliance/dpa/K-D.Gabbert
Colônias alemãs
Foram adquiridos territórios no Pacífico (Nova Guiné do Norte, Arquipélago de Bismarck, Ilhas Marshall e Ilhas Salomão, Samoa) e na China (Qingdao). Em 1890, uma conferência em Bruxelas determinou que o Império Alemão obtivesse os reinos de Ruanda e Burundi, unindo-os à África Oriental Alemã. Até o final do século 19, as conquistas coloniais da Alemanha estavam praticamente concluídas.
Foto: picture-alliance / akg-images
Um sistema de desigualdade
Nas colônias, a população branca formava uma minoria pequena e altamente privilegiada – raramente mais de 1% da população. Em 1914, por volta de 25 mil alemães moravam nas colônias. Desses, pouco menos da metade vivia no Sudeste Africano Alemão. Os 13 milhões de nativos nas colônias germânicas eram vistos como subordinados, sem acesso a nenhum recurso da lei.
Foto: picture-alliance/dpa/arkivi
O primeiro genocídio do século 20
O genocídio praticado contra os hereros e os namas no Sudeste Africano Alemão, hoje Namíbia, foi o crime mais grave da história colonial da Alemanha. Durante a Batalha de Waterberg, em 1904, a maioria dos rebeldes hereros fugiu para o deserto, com as tropas alemãs bloqueando sistematicamente seu acesso à água. Estima-se que mais de 60 mil hereros morreram na ocasião.
Foto: public domain
Crime alemão
Somente 16 mil hereros sobreviveram à campanha de extermínio. Eles foram aprisionados em campos de concentração, onde muitos morreram. O número exato de vítimas nunca foi constatado e continua a ser um ponto de controvérsia. Quanto tempo esses hereros debilitados sobreviveram no deserto? De qualquer forma, eles perderam todos os seus bens, seu estilo de vida e suas perspectivas futuras.
Foto: public domain
Guerra colonial de longo alcance
De 1905 a 1907, uma ampla aliança de grupos étnicos se rebelou contra o domínio colonialista na África Oriental Alemã. Por volta de 100 mil locais morreram na revolta de Maji-Maji. Embora tenha sido, posteriormente, um tema pouco discutido na Alemanha, este capítulo permanece importante na história da Tanzânia.
Foto: Downluke
Reformas em 1907
Na sequência das guerras coloniais, a administração nos territórios alemães foi reestruturada com o objetivo de melhorar as condições de vida ali. Bernhard Dernburg, um empresário bem-sucedido (na foto sendo carregado na África Oriental Alemã), foi nomeado secretário de Estado para Assuntos Coloniais em 1907 e introduziu reformas nas políticas do Império Alemão para seus protetorados.
Foto: picture alliance/akg-images
Ciência e as colônias
Junto às reformas de Dernburg, foram estabelecidas instituições técnicas e científicas para lidar com questões coloniais, criando-se faculdades nas atuais universidades de Hamburgo e Kassel. Em 1906, Robert Koch dirigiu uma longa expedição à África para investigar a transmissão da doença do sono. Na foto, veem-se espécimes microscópicas colhidas ali.
Foto: Deutsches Historisches Museum/T. Bruns
Colônias perdidas
Derrotada na Primeira Guerra Mundial, em 1919, a Alemanha assinou o tratado de paz em Versalhes, especificando que o país renunciaria à soberania sobre suas colônias. Cartazes como o da foto ilustram o medo dos alemães de perder seu poder econômico, como também o temor da pobreza e miséria no país.
Foto: DW/J. Hitz
Ambições do Terceiro Reich
Aspirações coloniais ressurgiram sob Hitler – e não somente aquelas definidas no Plano Geral de Metas para o Leste, que delineou a colonização da Europa Central e Oriental através do genocídio e limpeza étnica. Os nazistas também almejavam recuperar as colônias perdidas na África, como evidencia este mapa escolar de 1938. Elas deveriam fornecer matérias-primas para a Alemanha.