Obra roubada do político judeu e líder da resistência francesa Georges Mandel é entregue aos herdeiros legítimos. Identificação da pintura foi possível graças à comprovação do restauro de um rasgo citado num inventário.
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A pintura "Portrait de Jeune Femme Assise" (Retrato de uma jovem mulher sentada) foi devolvida oficialmente a seus legítimos herdeiros, em uma cerimônia encabeçada pela ministra da Cultura da Alemanha, Monika Grütters, no Museu Gropius Bau, na terça-feira (08/01), em Berlim.
A obra do pintor francês Thomas Couture (1815-1879) pertencia ao então político francês e líder da resistência Georges Mandel e foi roubada pelos nazistas durante a Segunda Guerra. O quadro fazia parte da enorme coleção privada do recluso colecionador alemão Cornelius Gurlitt, que herdou 1.566 obras de seu pai, Hildebrand, um comerciante de arte do regime nazista.
Os herdeiros de Mandel estiveram presentes na cerimônia no Museu Gropius Bau, acompanhados pela ministra alemã, um representante da embaixada francesa e por Marcel Bruelhart, coordenador do Kunstmuseum Bern, para o qual Gurlitt deixou sua coleção quando morreu em 2014.
"Este caso novamente nos lembra de que nunca devemos parar nosso trabalho sincero de investigação dos saques de arte cometidos pelos nazistas, pelos quais a Alemanha é responsável", disse Grütters.
A ministra da Cultura enfatizou o compromisso do governo alemão em promover pesquisas na tentativa de restituir e restaurar obras de arte. Grütters acrescentou que a devolução do "Portrait de Jeune Femme Assise" representou um desfecho "comovente para a exposição do tesouro de Gurlitt". Cerca de 450 pinturas da coleção foram expostas recentemente em Berna, Bonn e Berlim.
"Temos que agradecer à família de Georges Mandel por permitir que esta obra fosse mostrada em todas as três exposições. Desta forma, tivemos a oportunidade de contar ao público sobre o destino do político judeu Georges Mandel, que foi perseguido e preso pelos nazistas", disse Grütters.
O político judeu foi ministro das Colônias (atualmente Ministério dos Departamentos de Ultramar) no último gabinete da Terceira República Francesa antes de ingressar na Resistência em 1940. No mesmo ano, a coleção de arte foi apreendida, e Mandel foi encontrado no Marrocos, onde foi detido e entregue aos nazistas. Mandel foi deportado ao campo de concentração de Oranienburg e depois para Buchenwald. Em 1944, Mandel foi levado de volta a Paris e executado pela milícia fascista francesa.
O quadro de Couture é a quinta pintura da coleção de Gurlitt devolvida a seus legítimos proprietários, e também a sexta obra identificada como tendo sido roubada pelos nazistas.
"No final das contas, o que é decisivo não é o número de restituições, mas os esforços honestos e comprometidos em esclarecer as origens das obras completas na coleção Gurlitt", disse Bruelhart.
A identificação da pintura foi possível graças ao testemunho da ex-parceira de Mandel, que afirmou após a Segunda Guerra que a pintura tinha um minúsculo restauro de um rasgo na área do peitoral da mulher retratada – comprovado por meio de um inventário de posse feito por Mandel em 1940. Especialistas em restauração no museu federal alemão Bundeskunsthalle realizaram uma análise minuciosa e conseguiram encontrar a falha.
A inspeção foi executada como parte do Projeto Gurlitt de Pesquisa de Origem, que visa estabelecer o histórico de propriedade das obras que estavam em posse do colecionador. A descoberta das obras estampou as manchetes internacionais em 2012, quando autoridades alemãs inesperadamente toparam com as pinturas durante uma investigação fiscal.
PV/afp/ap/dpa
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Os mais espetaculares roubos de obras de arte da história
Armados, disfarçados de policiais ou de turistas, ladrões entraram para a história ao roubar valiosas pinturas e objetos de museus – da "Mona Lisa" a uma moeda de ouro de 100 quilos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Van Weel
Quando o sorriso de Mona Lisa desapareceu
Em 1911, o retrato feminino mais famoso do mundo – "Mona Lisa", de Leonardo da Vinci – foi roubado. Um jovem italiano, Vincenzo Peruggia, furtou a imagem do Louvre depois de se vestir como um empregado do museu parisiense e esconder a obra debaixo do casaco. A pintura reapareceu em 1913, após um comerciante de arte denunciar Peruggia à polícia.
Foto: picture alliance/Mary Evans Picture Library
A pintura mais roubada
O retrato de "Jacques 3º de Gheyn", de Rembrandt, foi roubado quatro vezes da Dulwich Picture Gallery, no Reino Unido, em 1966, 1973, 1981 e 1986. Por isso, a pintura também é conhecida como "o Rembrandt para viagem". Também após o último roubo, a obra de arte felizmente foi recuperada.
Foto: picture-alliance/akg-images
Misterioso roubo em Boston
Em 1990, o roubo de 13 pinturas do Museu Isabella Steward Gardner, em Boston, nos EUA, atraiu a atenção internacional. Dois homens disfarçados de policiais invadiram o prédio e roubaram, entre outras obras de arte, "Chez Tortoni", de Édouard Manet, e "O Concerto" (foto), de Jan Vermeer. Até hoje, as molduras, sem os quadros, permanecem penduradas no local.
Foto: Gemeinfrei
O roubo espetacular de pinturas de Van Gogh
Em 1991, sem ser notado, um homem se fechou num banheiro do Museu Van Gogh, em Amsterdã, e roubou 20 pinturas com a ajuda de um supervisor. Entre elas, estavam o "Autorretrato diante do cavalete" (foto). No entanto, a polícia conseguiu recuperar as obras roubadas apenas uma hora depois, no veículo usado na fuga. Depois de alguns meses, os ladrões foram presos.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Van Weel
"Virgem do fuso" desaparecida
A pintura de Leonardo da Vinci, avaliada em até 70 milhões de euros, foi roubada em 2003 de um castelo na Escócia. Dois ladrões, que entraram na exposição como turistas, dominaram o guarda do Castelo de Drumlanrig e fugiram com a obra. A imagem ficou desaparecida por quatro anos. Somente em 2007 ela foi recuperada após uma batida policial realizada em Glasgow.
Foto: picture-alliance/dpa
Roubo armado no Museu Munch
Em 2004, "O grito" e "Madonna", do expressionista Edvard Munch, foram roubadas em Oslo. Dois criminosos armados invadiram o Museu Munch e furtaram as obras diante de várias testemunhas. Durante uma busca, a polícia recuperou as duas pinturas. Porém, o estado de "O grito" era tão ruim que o quadro não pôde ser totalmente restaurado.
Foto: picture-alliance/dpa/Munch Museum Oslo
Roubo milionário na Suíça
Em 2008, ladrões armados roubaram quatro pinturas no valor de 180 milhões de francos suíços do museu privado Fundação Coleção Emil G. Bührle, em Zurique: "Rapaz de colete vermelho", de Paul Cézanne; "Conde Lepic e suas filhas", de Edgar Degas; "Amendoeira em flor", de Vincent Van Gogh; e "Campo de papoulas perto de Vétheuil" (foto), de Claude Monet. Todos foram recuperados.
Foto: picture-alliance/akg-images
Moeda de ouro de 100 quilos em Berlim
Em março de 2017, uma moeda de ouro de 100 quilos, com valor nominal de 1 milhão de dólares, foi roubada do Museu Bode, em Berlim. Os ladrões provavelmente usaram uma escada para entrar no edifício. A moeda, chamada de "Big Maple Leaf", é originária do Canadá, tem 53 centímetros de diâmetro e três centímetros de espessura. Na parte frontal, ela traz o retrato da rainha Elizabeth 2ª.
Foto: picture-alliance/dpa/F.May
2019: Roubo na Abóbada Verde em Dresden
Três conjuntos de joias foram roubados no museu Grünes Gewölbe (Abóbada Verde), no Palácio Real em Dresden, em 25 de novembro de 2019. Investigações iniciais apuraram que os ladrões entraram por uma janela e quebraram as vitrines, como mostra um vídeo.