Alemanha descarta reconhecer governo interino, já os EUA dizem que legitimidade terá de ser merecida. Exclusão de mulheres e militantes nos cargos mais altos são consideradas quebras de promessas por parte dos talibãs.
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Países do Ocidente observam com ceticismo a formação do novo governo do Afeganistão, após o Talibã indicar militantes veteranos para os principais cargos da administração pública, alguns dos quais constam na lista de procurados pelos Estados Unidos por acusações de terrorismo.
Nesta quarta-feira (08/09), o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou após uma reunião com ministros do Exterior de vinte países que a legitimidade do novo governo terá de ser merecida.
"Apesar de anunciarem que o novo governo seria inclusivo, a lista anunciada consiste exclusivamente de membros do Talibã, sem nenhuma mulher", observou.
Ministro afegão procurado por terrorismo
O governo interino iniciou seus trabalhos nesta quarta sem a presença de mulheres nas funções de maior destaque, o que foi considerado uma quebra da promessa feita pelos extremistas de estabelecer um governo com a participação de todos os setores da sociedade.
Blinken se reuniu nesta quarta-feira com o ministro alemão do Exterior, Heiko Maas, na base americana de Ramstein na Alemanha. O local é utilizado pelos EUA como ponto de acolhimento de pessoas retiradas do Afeganistão após a tomada de poder pelo Talibã.
Segundo o governo alemão, 34.103 pessoas chegaram à base de Ramstein, vindas do Afeganistão, até esta segunda-feira. Mais de 23 mil foram encaminhadas para os Estados Unidos ou outros países, e 90 pediram asilo à Alemanha. Outras 269 ainda devem chegar ao local.
Blinken disse que os EUA estão "preocupados com as afiliações e avalia os registros de alguns desses indivíduos". Entre os nomeados estão ex-detentos da prisão americana de Guantánamo, em Cuba, conhecida por receber suspeitos de terrorismo.
O novo ministro afegão do Interior, Sirajuddin Haqqani, é procurado por terrorismo pelos EUA, que impuseram uma recompensa de 10 milhões de dólares por sua captura. Seu tio, que assumiu o Ministério de Refugiados e Repatriações, é alvo de uma recompensa de 5 milhões de dólares.
Ao contrário de Blinken, Maas disse que a Alemanha descarta reconhecer o governo interino do Afeganistão, mas se pronunciou a favor da manutenção do diálogo com o Talibã, enquanto seu país ainda tenta retirar pessoas do território afegão. Ele pediu uma coordenação internacional sobre a forma de lidar com o regime talibã.
Os Estados Unidos e a Alemanha foram os países que mais enviaram soldados para a coalizão militar, que permaneceu no Afeganistão por duas décadas.
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Protestos de mulheres desafiam extremistas
Enquanto militantes islamistas tentam se metamorfosear em administradores públicos, o Talibã já enfrenta uma série de protestos em diferentes pontos do país, muitos deles liderados por mulheres.
Em Cabul, um grupo de mulheres desafiou os talibãs, ao realizar um pequeno protesto contra a exclusão no novo governo, depois de uma manifestação de maior porte ter sido dispersada a tiros pelos extremistas no dia anterior. Segundo relatos, jornalistas que tentaram cobrir o protesto foram presos, e alguns deles, agredidos.
O novo Ministério do Interior tentou se justificar ao afirmar em nota que, para evitar distúrbios, os pedidos de autorização para a realização de atos públicos devem ser submetidos com 24 horas de antecedência.
rc (Reuters, AFP, DPA)
Dez filmes sobre o Afeganistão
A turbulenta história do país serviu de pano de fundo para muitos filmes internacionais, como "O caçador de pipas" e "A Caminho de Kandahar".
Foto: Mary Evans Picture Library/picture alliance
"Hava, Maryam, Ayesha" (2019)
O filme mais recente da diretora afegã Sahraa Karimi estreou no Festival de Cinema de Veneza em 2019. Ele conta a história de três mulheres grávidas em Cabul. Pouco antes de a capital afegã ser tomada, Karimi enviou uma carta aberta ao mundo alertando sobre o Talibã. Depois, ela fugiu do Afeganistão e encontrou abrigo em Kiev.
Foto: http://hava.nooripictures.com
"Osama" (2003)
Durante o primeiro regime talibã (1996-2001), as mulheres não podiam trabalhar, o que representava uma ameaça existencial para todas as famílias cujos maridos foram mortos ou feridos na guerra. Em "Osama", uma jovem se veste de menino para sustentar sua família. Foi o primeiro filme a ser rodado no Afeganistão desde 1996, quando a produção de filmes foi proibida pelo Talibã.
Foto: United Archives/picture alliance
"A ganha-pão" (2017)
O premiado estúdio irlandês Cartoon Saloon criou um filme de animação com um enredo semelhante: "A ganha-pão", baseado no romance best-seller de Deborah Ellis, é sobre Parvana, de 11 anos, que assume a aparência de um menino para ajudar sua família. O filme foi produzido por Angelina Jolie e foi indicado ao Oscar de melhor desenho animado.
A adaptação cinematográfica do best-seller de Khaled Hosseini trata de temas universais como culpa e redenção. A história está ancorada no turbulento último meio século do Afeganistão: a derrubada da monarquia, a intervenção militar soviética, o êxodo em massa de refugiados afegãos e o regime do Talibã. O diretor foi o cineasta suíço-alemão Marc Forster.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture-alliance
"A Caminho de Kandahar" (2001)
O filme do diretor iraniano Mohsen Makhmalbaf conta a história de uma afegã-canadense que retorna à sua terra natal para evitar o suicídio de sua irmã. Quando "A caminho de Kandahar" estreou em Cannes, em 2001, não atraiu muita atenção. Mas então vieram os ataques de 11 de Setembro, e o mundo quis saber mais sobre a situação das mulheres no Afeganistão.
Foto: Mary Evans Arichive/imago images
"Às cinco da tarde" (2003)
Dois anos depois, Samira, filha de Makhmalbaf, também representante do Novo Cinema iraniano, apresentou outro filme sobre mulheres afegãs em Cannes. "Às cinco da tarde" conta a história de uma jovem em Cabul devastada pela guerra. Depois que o Talibã foi derrotado, ela tenta estudar - e até sonha se tornar presidente.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture alliance
"Neste mundo" (2002)
O filme retrata dois jovens refugiados afegãos em sua árdua jornada de um campo de refugiados no Paquistão para Londres. O diretor Michael Winterbottom filmou o drama em estilo documentário com atores amadores. O filme ganhou o Urso de Ouro e o prêmio Bafta de melhor filme em idioma não inglês na Berlinale de 2003.
Foto: Mary Evans Picture Library/picture-alliance
"O grande herói" (2013)
O filme de guerra dos EUA é baseado em um relato factual do soldado americano Marcus Luttrell. Durante a Operação Red Wings, em 2005, uma equipe de quatro pessoas tinha como alvo um grupo de combatentes do Talibã na província afegã de Kunar. Luttrell, interpretado por Mark Wahlberg, foi o único sobrevivente de uma emboscada. Um helicóptero enviado para ajudar também foi abatido.
Foto: Gregory E. Peters/SquareOne/Universum Film/dpa/picture alliance
"Rambo 3" (1988)
O terceiro filme da série com Sylvester Stallone no papel-título se passa durante a guerra soviético-afegã. Rambo vai ao Afeganistão para salvar seu ex-comandante do exército soviético. Quando lançado, supostamente o filme teria sido dedicado aos "corajosos mujahedin", que também lutaram contra os soviéticos − um mito puro para os especialistas em cinema.
Foto: United Archives/IFTN/picture alliance
"Jogos do poder" (2007)
Na década de 1980, o congressista americano Charlie Wilson arquitetou um programa secreto de financiamento para os mujahedin afegãos. O plano visava financiar armas aos combatentes, ainda considerados heróis na luta de resistência contra os soviéticos. A sátira política estrelada por Tom Hanks foi o último trabalho de direção do diretor americano Mike Nichols.