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Alemanha e EUA em disputa por vacina contra coronavírus

15 de março de 2020

Jornal afirma que Trump ofereceu 1 bilhão de doláres a laboratório alemão para garantir acesso exclusivo a potencial vacina contra o vírus da doença covid-19. Caso provoca fúria em Berlim: "Alemanha não está à venda."

Pesquisador trabalha em laboratório
Empresa CureVac espera ter uma vacina experimental desenvolvida até junho ou julhoFoto: picture-alliance/dpa/Hao Yuan

Os governos da Alemanha e dos Estados Unidos entraram numa disputa envolvendo uma potencial vacina contra o novo coronavírus, em desenvolvimento pela empresa alemã CureVac, revelou o jornal alemão Welt am Sonntag em reportagem publicada neste domingo (15/03).

Segundo o veículo, o presidente americano, Donald Trump, teria oferecido uma grande quantia de dinheiro aos cientistas alemães para garantir o direito exclusivo sobre a vacina.

A publicação citou uma fonte anônima próxima do governo alemão dizendo que Trump está fazendo de tudo para obter o agente imunizador: o presidente teria oferecido "1 bilhão de dólares" para garantir que a vacina seja "apenas para os Estados Unidos".

Segundo o Welt, membros do governo em Berlim já estariam negociando com a companhia para evitar que o líder americano obtenha os direitos exclusivos.

Em coletiva de imprensa neste domingo, jornalistas pediram ao ministro alemão do Interior, Horst Seehofer, que confirmasse a investida de Trump. "Só posso dizer que ouvi várias vezes hoje de membros do governo que este é o caso, e discutiremos isso no comitê de crises amanhã", disse.

Por sua vez, o ministro da Economia, Peter Altmaier, reagiu à reportagem do Welt, que traz a manchete "Trump vs Berlim" em sua capa, afirmando que a "Alemanha não está à venda".

O caso provocou fúria em Berlim. "O que importa agora é a cooperação internacional, não o interesse nacional próprio", disse o deputado conservador Erwin Rüddel, membro do comitê de saúde do Parlamento alemão.

Christian Lindner, líder do Partido Liberal Democrático (FDP), acusou o presidente dos EUA de usar a questão para fins eleitorais, já que concorre à reeleição neste ano. "Obviamente, Trump usará todos os meios disponíveis numa campanha eleitoral", afirmou.

Por outro lado, uma autoridade dos Estados Unidos alegou à agência de notícias AFP que a reportagem do jornal alemão foi "exagerada". "O governo dos EUA conversou com muitas (mais de 25) empresas que afirmam poder ajudar com uma vacina. A maioria dessas companhias já recebeu financiamento inicial de investidores americanos", disse.

O funcionário também negou que Washington esteja tentando comprar uma vacina para mantê-la exclusivamente no país. "Continuaremos a conversar com qualquer empresa que diz poder ajudar. E qualquer solução encontrada será compartilhada com o mundo."

A CureVac, fundada em 2000, está sediada na cidade de Tübingen, no sudoeste alemão, e possui laboratórios em Frankfurt e em Boston, nos Estados Unidos.

A empresa trabalha hoje na fabricação de uma vacina contra o vírus Sars-Cov-2 em colaboração com o Instituto Paul Ehrlich, vinculado ao Ministério da Saúde alemão. A expectativa é ter uma vacina experimental até junho ou julho e, em seguida, obter aprovação para testes em pessoas.

Na semana passada, a CureVac surpreendeu ao anunciar que substituiu o então CEO Daniel Menichella por Ingmar Hoerr, apenas algumas semanas após Menichella se encontrar com Trump.

"Estamos muito confiantes de que seremos capazes de desenvolver uma potente candidata a vacina dentro de alguns meses", afirmara Menichella logo após o encontro em Washington, que também contou com o vice-presidente Mike Pence e representantes de empresas farmacêuticas.

Neste domingo, investidores da CureVac negaram a possibilidade de vender a vacina para um único país. "Se formos bem-sucedidos no desenvolvimento de uma vacina eficaz, ela deverá ajudar e proteger pessoas em todo o mundo", dizia um comunicado.

Desde que o Sars-Cov-2 surgiu pela primeira vez em dezembro, mas de 162 mil casos foram registrados em mais de 130 países e territórios, com o número de mortos superando 6 mil. Quase 75 mil pessoas se recuperaram, a maioria na China.

O próprio Trump esteve próximo de algumas pessoas que testaram positivo para o coronavírus, incluindo o secretário de Comunicação do governo brasileiro, Fabio Wajngarten. O presidente realizou exames, que deram negativo.

EK/afp/dpa/rtr/efe

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