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Alemanha e França guiam a UE

Alexander Kudascheff (ef)22 de janeiro de 2003

Os ex-inimigos de guerra desenvolveram uma amizade profunda e também o motor da União Européia. Alemanha e França comemoram agora o 40º aniversário do Tratado do Eliseu e também sua parceria.

Gerhard Schröder e Jacques Chirac encontraram motivos para rir juntosFoto: AP

Alemães e franceses têm motivos de sobra para festejar os 40 anos do seu tratado de amizade nesta quarta-feira (22). A data é histórica também para o processo de unificação européia. Pois, embora engasgue uma vez ou outra, é o motor teuto-francês que impulsiona a União Européia. A comunidade de 15 países segue o rumo apontado por Alemanha e França, sempre que os dois países chegam a um acordo e apresentam uma proposta conjunta.

A parceria teuto-francesa foi o motor de arranque do mercado interno europeu, da introdução do euro, da construção das estruturas militares européias e do processo de ampliação da comunidade dos 15 membros atuais para 25 a partir de 2004. A UE progrediu sempre que os dois governos tiveram as mesmas idéias, a mesma vontade, os mesmos interesses e se dispuseram a colocá-los em prática.

O melhor exemplo disso foi observado em outubro passado: todos pensavam que o processo de ampliação da UE estava ameaçado pela contenda dos subsídios agrícolas. Ledo engano. O chanceler federal alemão, Gerhard Schröder, e o presidente francês, Jacques Chirac, chegaram a um acordo, de forma pouco espetacular, na véspera da conferência de cúpula dos chefes de Estado e de governo que oficializou o ingresso de mais 10 países na UE em 2004.

Os dois lados tiveram que fazer concessões: Paris aceitou o fim da política agrária européia altamente dispendiosa; Berlim teve que reconhecer que não poderia impor reformas radicais na agricultura européia contra a vontade da França e suas tradições agrícolas. De forma que os dois governos encerraram o impasse de forma elegante. Uns parceiros aplaudiram o consenso e outros resmungaram, mas a ampliação tornou-se um fato histórico. Quem não gostou da solução para a contenda agrícola teve que aceitar o mandamento europeu, segundo o qual resistir à vontade do peso pesado teuto-francês na UE é remar contra a maré. Os outros parceiros não têm o mesmo peso político da Alemanha e França juntos.

A nova proposta de Schröder e Chirac para a criação de uma presidência dupla da Comissão Européia e do Conselho da UE está gerando novos resmungos contidos nestes dias nas capitais européias. Alguns reclamam de "uma diretoria teuto-francesa" e da vontade dos dois grandes de determinar tudo na comunidade. Mas os outros europeus acabarão por achar a idéia boa e no final se curvarão ao desejo de Schröder e Chirac.

Os dois políticos tiveram problemas no início. Eles não se entendiam política e pessoalmente. O chefe de governo alemão tendia mais para Tony Blair, acreditando que poderia transferir o sistema de coordenação da UE para um eixo Berlim-Londres. Mas faltou estratégia e tática. A França, por sua vez, lançou uma ofensiva, com muito charme, em direção a Londres e neutralizou o desejo alemão de mudança de parceiro. Permaneceu o eixo Berlim-Paris.

Isso ficou claro na cúpula de Nice, quando a UE queria balancear o seu peso institucional. Entre outras coisas, deveria ser determinado quantos votos cada país teria no Conselho da UE. A Alemanha queria que fosse baseado no tamanho da população de cada um. Com mais de 82 milhões de habitantes - um quarto a mais que a França -, a Alemanha teria direito a mais votos. Paris não aceitou e a cúpula quase fracassou. Berlim e Paris entenderam que teriam de colaborar mais intensamente um com o outro.

Agora, depois que Chirac ganhou uma eleição com brilho e Schröder foi reeleito a muito custo, parece que os dois desenvolveram uma boa relação pessoal. Talvez também porque Schröder precise hoje muito mais de Chirac: com o seu categórico não a uma guerra no Iraque, a coalizão de governo social-democrata e verde alemã está isolada na diplomacia internacional. A França, ao contrário, é uma figura-chave com o seu não elástico a uma intervenção militar no Iraque, sem um confronto frontal com os Estados Unidos.

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