Alemanha elevará orçamento de defesa em 100 bilhões de euros
30 de maio de 2022
Numa reviravolta em sua política de desmilitarização desde o fim da Guerra Fria, Berlim fará emenda à Constituição para aumentar verbas das Forças Armadas. Medida satisfaz também meta de gastos de defesa da Otan.
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O governo e a oposição conservadora da Alemanha fecharam na noite de domingo (29/05) um acordo para liberar 100 bilhões de euros voltados à modernização da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs), perante a ameaça russa. Para tal, será criado um fundo especial de aquisições militares.
Dessa forma a Alemanha também atingirá a meta estabelecida pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de investir uma média de 2% de seu PIB em defesa, ou cerca de 70 bilhões de euros anuais, nos próximos cinco anos. O acordo exigiu semanas de difíceis negociações.
Como a implementação da medida exigia contornar o "freio de débito" previsto na Lei Fundamental alemã, para atingir os dois terços no parlamento necessários a aprovar a emenda, a coalizão governamental – formada pelos partidos Social-Democrata (SPD), Liberal Democrático (FDP) e Verde – dependia da maior legenda de oposição, a União Democrata Cristã (CDU).
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Reviravolta na política de defesa alemã do pós-guerra
Três dias depois de a Rússia iniciar a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, o chanceler federal Olaf Scholz pedira o aumento do orçamento para rearmar o Exército e modernizar seu antiquado equipamento, ao longo dos próximos anos. Paralelamente, o chefe de governo vem sendo criticado por sua reticência em apoiar Kiev militarmente.
Financiados através de endividamento público adicional, os 100 bilhões de euros serão depositados num fundo especial, externo ao orçamento nacional. A CDU conseguiu que a soma flua exclusivamente para a Bundewehr, uma exigência combatida pelo Partido Verde, segundo o qual parte da verba deveria ser dedicada à segurança cibernética. Por outro lado, fracassou a reivindicação dos democratas-cristãos de que a quota de 2% de PIB para defesa fosse ancorada na Lei Fundamental.
A ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, declarou-se satisfeita com o consenso: "Fechamos um pacote abrangente com que poderemos cumprir rapidamente nossa obrigação junto à Otan", comentou à emissora Deutschlandfunk.
O novo fundo militar representa uma reviravolta significativa na política alemã. A partir do fim da Guerra Fria, o país reduziu significativamente seu contingente militar, de 500 mil, em 1990, para os atuais 200 mil soldados. Segundo um relatório publicado em dezembro, menos de 30% das embarcações navais estariam inteiramente operacionais, e grande parte dos aviões de combate alemães não estão aptos a voar.
Berlim vinha também resistindo às diretrizes de investimento militar da Otan, de 2% do PIB. No entanto a guerra de agressão de Moscou na Ucrânia forçou o país, dedicado ao pacifismo desde o fim da Segunda Guerra Mundial e dos horrores do nazismo, a rever seus princípios. A emenda constitucional deverá ser aprovada ainda na semana em curso.
av/ek (AFP, DPA, ots)
Cartunistas observam a guerra na Ucrânia
O conflito iniciado pela Rússia no Leste europeu abala a ordem global. Numa exposição em Dortmund, humoristas abordam sede de poder, armamentismo, fake news, dependência energética, morte. E até um pouco de esperança.
Uma mãe chamada guerra
Um esquelético "Ceifador Macabro" amamenta um bebê que é a cara do presidente da Rússia. Para o italiano Paolo Lombardi, a guerra encontrou em Vladimir Putin o filho adotivo ideal. Moscas esvoaçam em torno da dupla, anunciando morte.
Rota para a Terceira Guerra
Com o Ceifador ao volante de um "veículo Putin" de olhos flamejantes, no banco do carona o Diabo estuda um mapa rodoviário, tendo como destino a Terceira Guerra Mundial. Assim o holandês Tjeerd Royaards interpreta a situação atual. Será que a rota ainda pode ser reprogramada?
Evolução pelas armas
Seria de esperar que, através dos milênios, a humanidade evoluísse em direção à coexistência pacífica. Na visão do uzbeque Makhmud Eshonkulov, porém, o que evoluiu foi basicamente a complexidade dos armamentos. Ele mostra como um macaco se transforma em neandertal, que acaba resultando num soldado moderno com fuzis de alta precisão. O qual, para fechar o círculo, pisa no rabo do macaco.
Notícias falsas, guerra de verdade
No século 21, as guerras não são mais travadas apenas com armas convencionais ou mesmo as proibidas: em todos os fronts a propaganda entra no combate. Para o ilustrador cubano Miguel Morales, as redes sociais Twitter, Facebook e Instagram são os botões da valise nuclear. A senha é fácil de guardar: "fake news".
Potência insaciável
Em forma de peixe-esqueleto, uma "Rússia eternamente faminta" mastiga a bandeira da Ucrânia. O lituano Kazys Kestutis Siaulytis alerta que o apetite totalitarista pode se voltar para outros países. Assim como a Ucrânia, a Lituânia pertencia à poderosa União Soviética, até declarar independência em 1990.
Grito de horror contra a violência
Não faz tanto tempo que os afegãos vivenciaram como é doloroso ser invadido por tropas russas. Nesta charge, o cartunista Shahid Atiqullah coloca o icônico protaganista do quadro de 1893 "O grito", de Edvard Munch, como espectador dos bombardeios das cidades ucranianas.
Conflito sem pé nem cabeça
Este cartum da romena Marian Avramescu evoca o estilo do surrealista holandês M.C. Escher: as figuras contradizem a lógica, desafiam a perspectiva. No topo do desenho, porém, um lampejo de esperança: uma silhueta humana agita a bandeira da Ucrânia. A possibilidade de uma vitória, contrariando todas as probabilidades?
Protestos impotentes?
Desde que o exército de Putin invadiu a Ucrânia, cidadãos de todo o mundo têm se manifestado contra a brutal agressão armada. Para o artista turco Menekse Cam, porém, tudo é em vão: nem déspotas nem a morte se impressionam com pacifistas, o Ceifador Macabro joga golfe com a foice enquanto as massas protestam atrás da cerca.
Gamada pela Otan
Por longo tempo a Ucrânia esteve subordinada à Rússia/URSS, e sua independência não agradou nada a Putin. O cartunista Amer, dos Emirados Árabes Unidos, representa a nação invadida como uma menininha fascinada pelas cores e elegância da Otan/EUA. Mas uma intimidadora matrona russa a puxa na direção contrária.
Gangorra fatal
Do ponto de vista do artista Popa, da Tanzânia, a atual guerra não é só pela Ucrânia, mas pelo poder global. A Rússia ameaça com um ataque nuclear se o Ocidente continuar interferindo, mas os Estados Unidos são capazes de retaliar imediatamente. Quem sofre sob essa sinistra gangorra pelo domínio é a Terra.
Putin e seu interlocutor preferido
Na arena diplomática, políticos dos países ocidentais seguem tentando trazer Vladimir Putin para a mesa de negociações. Ele, por sua vez, tem sua longa mesa branca, em que mantém os visitantes internacionais à distância. Na visão do alemão Agostino Tale, o único interlocutor que interessa ao ditador de solas encharcadas de sangue é o seu próprio reflexo no espelho.
Dr. Octoputin
A caricatura de Rodrigo, de Macau, China, evoca um vilão das histórias em quadrinhos do Homem-Aranha: "Dr. Octoputin" lembra que uma das principais armas do autocrata é o fato de tantos países europeus dependerem do gás e petróleo russos. Apesar das sanções, esses fregueses continuam comprando energia fóssil da Rússia, cofinanciando assim a campanha militar de Vladimir Putin.
Labirintos de duas classes?
Até mesmo o fato de a União Europeia estar acolhendo multidões de refugiados ucranianos é assunto para controvérsias: num labirinto com duas entradas, o trajeto para os candidatos de pele clara é bem mais direto que para os demais, critica o desenhista filipino Zach.
Panda chinês observa urso russo
Há tempos a China representa uma ameaça para a Austrália, pois a potência asiática almeja à supremacia no Pacífico Sul, e tem repetidamente ameaçado anexar o Taiwan. O cartunista Broelman mostra o urso russo sendo castigado pelas abelhas que defendem o pote de mel da Ucrânia. Do resultado do confronto talvez dependa a conduta futura do panda chinês, que observa na encolha.