Alemanha em alerta para corte total de gás da Rússia
11 de julho de 2022
Trabalhos de manutenção, exigindo fechamento de gasoduto Nord Stream 1, geram temores de que em seguida Moscou se aproveite para privar o país de combustível. Planos de emergência estão sendo elaborados.
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A Alemanha está se preparando para uma potencial suspensão permanente do fluxo de gás natural da Rússia a partir desta segunda-feira (11/07), quando se inicia a manutenção no gasoduto Nord Stream 1, que leva o combustível para o país através do Mar Báltico.
Os trabalhos nos 1.220 quilômetros de tubulações são um evento anual exigindo o fechamento dos registros por dez a 14 dias. Segundo porta-voz da companhia administradora, sediada na Suíça, haverá supervisão de partes mecânicas e sistemas automáticos.
"Como previsto, o Nord Stream 1 está a zero desde esta manhã", informou Klaus Mueller, presidente da Bundesnetzagentur, a agência alemã reguladora das redes de gás, eletricidade e telecomunicações. "O que ocorre no fim da manutenção, ninguém é capaz de dizer neste momento. Não saberemos nada antes do dia anterior a seu fim programado."
O ministro alemão da Economia, Robert Habeck, não hesitou em expressar as apreensões do governo, referindo-se a um "cenário de pesadelo": "Tudo é possível, tudo pode acontecer", comentou no sábado à emissora Deutschlandfunk. "Pode ser que o gás volte a fluir, talvez mais do que antes. Mas também pode ser que nada venha. Precisamos honestamente nos preparar para a pior situação possível e fazer o melhor para lidar com ela."
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Planos de emergência em caso de corte total
Na Alemanha é grande a preocupação de que Moscou se aproveite da oportunidade para instrumentalizar ainda mais a energia em represália às sanções do Ocidente pela guerra contra a Ucrânia. O Nord Stream 1 transporta por ano 55 bilhões de metros cúbicos de gás russo, vital tanto para movimentar a maior economia europeia como para aquecer a maioria de seus lares.
Por todo o país estão sendo elaborados planos de emergência em caso de corte total: hospitais e serviços de emergência têm prioridade máxima, enquanto as residências estão à frente da maior parte dos usos industriais. Também é intensa a luta contra o aumento dos preços da energia e a consequente inflação.
Desde o começo da invasão da Ucrânia pelas tropas russas, em 24 de fevereiro, Moscou reduziu o fluxo pelo Nord Stream 1 a cerca de 40% dos níveis usuais, colocando a culpa nas sanções, por supostamente impedirem o acesso a peças sobressalentes.
No sábado, o Canadá declarou que, após consultações com Berlim e a Agência Internacional de Energia (AIE), isentará a Rússia das sanções "por tempo limitado", para permitir o envio, a partir de Montreal, de uma turbina russa necessária aos trabalhos de manutenção do gasoduto.
Na véspera, o Kremlin prometera aumentar o fornecimento à Europa, assim que a turbina seja devolvida. Kiev objetou, argumentando que a medida ajudaria a manter a dependência europeia em relação ao combustível russo.
A meta de curto prazo da Alemanha é tentar encher seus reservatórios de gás, com vista ao próximo inveno. Segundo dados divulgados pela Bundesnetzagentur na sexta-feira, o nível atual das instalações é de 63% de sua capacidade total. Espera-se atingir 90% até 1º de novembro.
No longo prazo, Berlim quer diminuir a dependência do país do gás russo, estabelecida ao longo de décadas, aumentando a geração de energia renovável, em parte ao redefinir o setor como de importância vital para a segurança nacional.
av/bl (Reuters,ots)
Cartunistas observam a guerra na Ucrânia
O conflito iniciado pela Rússia no Leste europeu abala a ordem global. Numa exposição em Dortmund, humoristas abordam sede de poder, armamentismo, fake news, dependência energética, morte. E até um pouco de esperança.
Uma mãe chamada guerra
Um esquelético "Ceifador Macabro" amamenta um bebê que é a cara do presidente da Rússia. Para o italiano Paolo Lombardi, a guerra encontrou em Vladimir Putin o filho adotivo ideal. Moscas esvoaçam em torno da dupla, anunciando morte.
Rota para a Terceira Guerra
Com o Ceifador ao volante de um "veículo Putin" de olhos flamejantes, no banco do carona o Diabo estuda um mapa rodoviário, tendo como destino a Terceira Guerra Mundial. Assim o holandês Tjeerd Royaards interpreta a situação atual. Será que a rota ainda pode ser reprogramada?
Evolução pelas armas
Seria de esperar que, através dos milênios, a humanidade evoluísse em direção à coexistência pacífica. Na visão do uzbeque Makhmud Eshonkulov, porém, o que evoluiu foi basicamente a complexidade dos armamentos. Ele mostra como um macaco se transforma em neandertal, que acaba resultando num soldado moderno com fuzis de alta precisão. O qual, para fechar o círculo, pisa no rabo do macaco.
Notícias falsas, guerra de verdade
No século 21, as guerras não são mais travadas apenas com armas convencionais ou mesmo as proibidas: em todos os fronts a propaganda entra no combate. Para o ilustrador cubano Miguel Morales, as redes sociais Twitter, Facebook e Instagram são os botões da valise nuclear. A senha é fácil de guardar: "fake news".
Potência insaciável
Em forma de peixe-esqueleto, uma "Rússia eternamente faminta" mastiga a bandeira da Ucrânia. O lituano Kazys Kestutis Siaulytis alerta que o apetite totalitarista pode se voltar para outros países. Assim como a Ucrânia, a Lituânia pertencia à poderosa União Soviética, até declarar independência em 1990.
Grito de horror contra a violência
Não faz tanto tempo que os afegãos vivenciaram como é doloroso ser invadido por tropas russas. Nesta charge, o cartunista Shahid Atiqullah coloca o icônico protaganista do quadro de 1893 "O grito", de Edvard Munch, como espectador dos bombardeios das cidades ucranianas.
Conflito sem pé nem cabeça
Este cartum da romena Marian Avramescu evoca o estilo do surrealista holandês M.C. Escher: as figuras contradizem a lógica, desafiam a perspectiva. No topo do desenho, porém, um lampejo de esperança: uma silhueta humana agita a bandeira da Ucrânia. A possibilidade de uma vitória, contrariando todas as probabilidades?
Protestos impotentes?
Desde que o exército de Putin invadiu a Ucrânia, cidadãos de todo o mundo têm se manifestado contra a brutal agressão armada. Para o artista turco Menekse Cam, porém, tudo é em vão: nem déspotas nem a morte se impressionam com pacifistas, o Ceifador Macabro joga golfe com a foice enquanto as massas protestam atrás da cerca.
Gamada pela Otan
Por longo tempo a Ucrânia esteve subordinada à Rússia/URSS, e sua independência não agradou nada a Putin. O cartunista Amer, dos Emirados Árabes Unidos, representa a nação invadida como uma menininha fascinada pelas cores e elegância da Otan/EUA. Mas uma intimidadora matrona russa a puxa na direção contrária.
Gangorra fatal
Do ponto de vista do artista Popa, da Tanzânia, a atual guerra não é só pela Ucrânia, mas pelo poder global. A Rússia ameaça com um ataque nuclear se o Ocidente continuar interferindo, mas os Estados Unidos são capazes de retaliar imediatamente. Quem sofre sob essa sinistra gangorra pelo domínio é a Terra.
Putin e seu interlocutor preferido
Na arena diplomática, políticos dos países ocidentais seguem tentando trazer Vladimir Putin para a mesa de negociações. Ele, por sua vez, tem sua longa mesa branca, em que mantém os visitantes internacionais à distância. Na visão do alemão Agostino Tale, o único interlocutor que interessa ao ditador de solas encharcadas de sangue é o seu próprio reflexo no espelho.
Dr. Octoputin
A caricatura de Rodrigo, de Macau, China, evoca um vilão das histórias em quadrinhos do Homem-Aranha: "Dr. Octoputin" lembra que uma das principais armas do autocrata é o fato de tantos países europeus dependerem do gás e petróleo russos. Apesar das sanções, esses fregueses continuam comprando energia fóssil da Rússia, cofinanciando assim a campanha militar de Vladimir Putin.
Labirintos de duas classes?
Até mesmo o fato de a União Europeia estar acolhendo multidões de refugiados ucranianos é assunto para controvérsias: num labirinto com duas entradas, o trajeto para os candidatos de pele clara é bem mais direto que para os demais, critica o desenhista filipino Zach.
Panda chinês observa urso russo
Há tempos a China representa uma ameaça para a Austrália, pois a potência asiática almeja à supremacia no Pacífico Sul, e tem repetidamente ameaçado anexar o Taiwan. O cartunista Broelman mostra o urso russo sendo castigado pelas abelhas que defendem o pote de mel da Ucrânia. Do resultado do confronto talvez dependa a conduta futura do panda chinês, que observa na encolha.