"Alemanha em piloto automático"
27 de março de 2006Nas capitais estaduais Magdeburg, Mainz e Stuttgart, e também na capital, Berlim, os partidos discutem os resultados das eleições parlamentares deste domingo (26/03). Os parceiros de coalizão no governo federal – CDU e SPD – vêem-se confirmados no governo e já avisaram que pretendem dar início a uma segunda fase de reformas.
Mas, embora 17 milhões de eleitores tenham ido às urnas no Estado de Saxônia-Anhalt, na Renânia-Palatinado e em Baden-Württemberg, houve pouca ou quase nenhuma surpresa. Os governadores de Baden-Württemberg, Günther Oettinger (CDU), e da Renânia-Palatinado, Kurt Beck (SPD), foram confirmados em seus cargos, e os democrata-cristãos continuam a maior força política na Saxônia-Anhalt, no Leste do país.
Surpreendente foi apenas o crescimento do índice de abstenção nos três Estados. Na Saxônia-Anhalt, por exemplo, a participação foi de apenas 44% dos eleitores – um recorde para eleições regionais alemãs.
Coalizão de governo confirmada?
"Os resultados serviram de confirmação à coalizão federal, que pode sentir-se eleita pela segunda vez", comentou o Berliner Zeitung. "Os cidadãos mostraram sua convicção quanto à aliança, mas também mostraram que esperam algo dela. Os claros resultados servem de preceito para que finalmente se comece a tratar de assuntos da política interna."
Mas o Frankfurter Allgemeine Zeitung alerta para o risco de conclusões apressadas. "Seria absolutamente equivocado interpretar a falta de tensão como um há muito esperado retorno da confiança dos alemães na política. Os baixos índices de comparecimento às urnas significam antes um sinal de resignação em relação a Berlim e de um crescente desinteresse pela política regional."
Resultados "válidos, porém irrelevantes"
Para o Spiegel Online, a baixa participação no pleito deste domingo teve parâmetros norte-americanos. Segundo o portal, "o trabalho da grande coalizão ainda não é visível e a política de centro parece aceitável só porque os índices de comparecimento às urnas caíram para níveis muito baixos. Há meses, o discurso político na Alemanha foi posto em piloto automático. (…) Por isso, os resultados são válidos, porém praticamente irrelevantes no âmbito político".
"O perdedor é antes de mais nada o debate público, o discurso político. O centro político só aparece como um suposto vencedor porque o ceticismo perante eleições democráticas cresceu na Alemanha. A disputa política entre os partidos e o acerto de contas foram adiados para depois do pleito. Isso é novidade: uma campanha política sem disputa política. Ao que parece, é o que os eleitores querem. Mas isso não é indício de um novo pragmatismo, e sim da crença em milagres."
Também para o jornal die tageszeitung, "eleitores e eleitoras deram – sacudindo os ombros? – a ordem: continuem assim, por enquanto. Não estamos deslumbrados, mas não vemos outra alternativa", escreve o diário de Berlim.
Tempo de reformas
Na Europa, as eleições regionais foram vistas como sendo "de importância nacional, apesar das poucas surpresas" (Basler Zeitung). "Os bons resultados da CDU e do SPD em seus baluartes fortalecem o curso do governo e, com isso, a linha defendida pela chanceler federal Angela Merkel. Os parceiros de coalizão passaram pelo primeiro teste. Agora começa a segunda fase: SPD e CDU terão que encarar temas difíceis, como a reforma do setor de saúde", constatou o jornal suíço.
Reação similar veio de Madri. Para o jornal El País, "caso um dos dois partidos da coalizão tivesse sofrido um revés, isso teria gerado agitação, tensão e ciumeira na aliança de governo. Uma vez superadas essas eleições, a coalizão deveria cuidar com mais ímpeto das reformas – em sua maioria impopulares, porém absolutamente urgentes".
Para o austríaco Salzburger Nachrichten, "o maior perdedor foi o Partido Liberal, que obteve a metade dos votos conquistados no pleito anterior na Saxônia-Anhalt" e agora deixa o governo, seguido pelo Partido de Esquerda, para quem o resultado significou "o fim do sonho de uma esquerda unificada em toda a Alemanha". Já o Partido Verde mostrou "que pode vencer eleições sem sua figura de proa, [o ex-ministro das Relações Exteriores] Joschka Fischer".