Ministério do Interior alemão manda barrar requerentes de asilo já antes do ingresso. Conservadores em Berlim esperam, assim, ditar nova direção para a União Europeia, porém esse passo é controverso.
Polícia Federal alemã pode decidir de caso para caso quem deixa atravessar a fronteiraFoto: John Macdougall/AFP/Getty Images
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O novo ministro do Interior da Alemanha, Alexander Dobrindt, da conservadora União Social Cristã (CSU), determinou controles mais rigorosos dos confins externos nacionais. Estão sendo barrados já na fronteira requerentes de asilo sem documentos de ingresso válidos ou que já apresentaram um requerimento em outro país da União Europeia (UE).
A Polícia Federal passou a ter a possibilidade, mas não a obrigação, de rejeitá-los, podendo decidir de caso para caso, anunciou o chefe de pasta. Ficam excluídos da medida os migrantes pertencentes a grupos vulneráveis, como grávidas, enfermos ou menores de idade desacompanhados.
Assim, Dobrindt cumpre a promessa de campanha do atual chanceler federal alemão, Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), de que a partir de seu primeiro dia no cargo o ingresso no país poderia ser negado já na fronteira.
Diversas municipalidades se queixam há anos de escolas superlotadas, explosão de preços no mercado imobiliário e sobrecarga do sistema de saúde, pelos quais responsabilizam os imigrantes; enquanto políticos conservadores cristãos criticam a falta de proteção eficaz dos limites internos da União Europeia.
Com a medida, o ministro espera não só dissuadir os migrantes de sequer tentarem chegar até a Alemanha, como também motivar os países vizinhos a sustarem o trânsito humano em direção ao país.
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Base legal e reações da política alemã
Do ponto de vista legal, o rechaço nas fronteiras é controverso. Segundo o artigo 18 da lei de asilo alemã, "deve-se recusar o ingresso aos estrangeiros vindos de um terceiro país seguro". Esse é o caso em todas as fronteiras alemãs, já que todas as nações vizinhas são classificadas como seguras.
Segundo as regras europeias, contudo, de início é preciso esclarecer qual país é responsável pelo pedido de asilo. Normalmente é aquele em que o migrante primeiro pisou o solo da UE, embora, na prática, muitos consigam chegar até a Alemanha e, devido à complexidade dos processos, acabem ficando.
Uma alternativa seria a aplicação do artigo 72, de "estados de emergência", que permite ignorar-se temporariamente das leis europeias para "manutenção da ordem pública e proteção da segurança interna". As exigências para tal passo são, no entanto, rigorosas, e no momento esse não é o caso na Alemanha, como observou o próprio Merz.
Como seria de esperar, se para parte dos políticos do país a medida de Dobrindt vai longe demais, para outros ela é insuficiente. A líder parlamentar Katharina Dröge, do Partido Verde, disse considerá-las "obviamente antieuropeias", pois "quem procura asilo em solo alemão tem direito de que o pedido seja examinado".
O chefe de bancada do A Esquerda, Sören Pellmann, criticou: "Quem, por medo dos direitistas, faz política de direita, só pode perder", e seu partido combaterá o controle e rechaço nas fronteiras. O Partido Social-Democrata (SPD), da coalizão governamental, exige, acima de tudo, coordenação estreita com os países vizinhos, que não veem a medida com bons olhos.
Falando a um jornal regional, o ex-presidente do Tribunal Constitucional Federal Hans-Jürgen Papier defendeu o impedimento de entrada de requerentes de asilo: "Faz parte do direito de soberania inalienável de um Estado não deixar ingressar qualquer pessoa que diga a palavra 'asilo'. Isso é possível e correto, segundo as leis alemãs, assim como as europeias."
A parcialmente extremista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) exige ainda mais isolamento. Segundo sua presidente, Alice Weidel, o chanceler federal Merz, que prometeu "medidas claras contra a imigração ilegal em massa", agora estaria se curvando perante o SPD, decepcionando seus eleitores.
Ministro do Interior Alexander Dobrindt cumpre promessa do novo chefe de governo, MerzFoto: Michael Kappeler/dpa/picture alliance
Países vizinhos em alerta
Estados vizinhos como a Polônia e a Suíça manifestaram preocupação com a portaria de Berlim, temendo ter que receber de volta um grande número de migrantes recusados. Em Bruxelas, Merz tranquilizou: "Não existe uma ação solitária alemã. Estamos coordenados como nossos vizinhos europeus."
Entretanto há indicações de que, com os controles endurecidos, seu governo deseje incentivar a UE a acompanhar a tendência. Segundo o chefe da Chancelaria Federal, Thorsten Frei, da CDU, em entrevista à TV ARD, desse modo Berlim quer alcançar resultados rápidos, para depois adotar outras medidas, "se possível, europeias", na política de imigração.
Por longo tempo tendencialmente favorável à imigração, a UE hoje se move decisivamente em direção ao isolamento, também pelo fato de que em diversos Estados-membros avançam os partidos e governos críticos ao asilo. O bloco já aprovou uma nova norma europeia de asilo, mais rigorosa, porém ainda não a implementou.
Essa legislação prevê, entre outros pontos, que os requerimentos com pouca perspectiva de sucesso passem a ser decididos já nas fronteiras externas da UE. Ainda assim, para conservadores como Frei, a reforma chega não só tarde demais, como é insuficiente, e 16 governos nacionais já exigiram da Comissão Europeia que revise as regras.
Logo em seguida à portaria de Dobrindt, o tabloide dominical Bild am Sonntag fez um balanço do movimento migratório em 8 e 9 de maio: nesses dois dias a Polícia Federal registrou em todas as fronteiras alemãs 365 ingressos não autorizados e barrou 286 migrantes, entre os quais 19 que haviam solicitado asilo.
Os motivos principais para as recusas foram falta de visto válido, documentos falsos ou interdições de ingresso. Quatro indivíduos foram classificados como "vulneráveis" e puderam atravessar a fronteira. Além disso, 14 traficantes de pessoas foram detidos provisoriamente, 48 mandados de prisão em aberto foram executados, e nove extremistas ou fundamentalistas foram capturados ao tentar ingressar na Alemanha.
O mês de maio em imagens
Reveja alguns dos principais acontecimentos do mês
Foto: Francesco Sforza/REUTERS
Israel intensifica ataques enquanto mantem bloqueio a Gaza
Defesa Civil palestina relatou mais de 100 mortes em apenas um dia em ataques israelenses à Faixa de Gaza, onde a crise humanitária e a escassez de recursos atingem níveis cada vez mais alarmantes. ONU alerta que estoques de alimentos, água potável, combustíveis e medicamentos atingiram níveis extremamente baixos. (15/05)
Foto: Hatem Khaled/REUTERS
Alemanha prende três por planejarem atos de sabotagem
O Ministério Público da Alemanha anunciou a prisão de três cidadãos ucranianos, dois deles na Alemanha e um na Suíça, por suspeita de atuarem como agentes da Rússia para realizar atos de sabotagem com explosivos no transporte de cargas alemão. (14/05)
Foto: Uli Deck/dpa/picture alliance
Morre "Pepe" Mujica, o presidente mais humilde do mundo
O ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica morreu aos 89 anos. Ele estava em estágio terminal de um câncer de esôfago e recebia cuidados paliativos. Sua morte foi informada pelo atual líder do país sul-americano, Yamandu Orsi. Líderes do mundo inteiro se despediram do ex-guerrilheiro uruguaio. (13/05)
Foto: Gerardo Vieyra/NurPhoto/IMAGO
Hamas anuncia libertação de refém israelense-americano
O braço armado do Hamas informou que libertou o soldado israelense-americano Edan Alexander, de 21 anos, que havia sido mantido como refém em Gaza desde 7 de outubro de 2023. A libertação ocorreu "após contatos com a administração dos EUA, no âmbito dos esforços dos mediadores para chegar a um cessar-fogo", disse a organização terrorista palestina em comunicado (12/05).
Foto: Ohad Zwigenberg/AP/dpa/picture alliance
Primeira bênção dominical do papa Leão 14
Em sua primeira bênção dominical na Praça de São Pedro, o papa Leão 14 pediu uma paz genuína e justa na Ucrânia e um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. "Depois desse cenário dramático de uma terceira guerra mundial em pedaços, como tantas vezes afirmou o papa Francisco, eu me dirijo também aos grandes do mundo, repetindo o apelo sempre atual: nunca mais a guerra", afirmou o pontífice. (11/05)
Foto: Vatican Media/ZUMA Press/IMAGO
Macron, Merz, Starmer e Tusk visitam Kiev
Os líderes do Reino Unido, Keir Starmer, da França, Emmanuel Macron, da Alemanha, Friedrich Merz, e da Polônia, Donald Tusk, se encontraram com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, em Kiev, uma demonstração conjunta de apoio à Ucrânia. A visita ocorre um dia após o presidente russo, Vladimir Putin, receber aliados no evento que marcou os 80 anos do fim da Segunda Guerra em Moscou. (10/05)
Foto: LUDOVIC MARIN/POOL/AFP/Getty Images
Leão 14 celebra sua 1ª missa como novo papa
O papa Leão 14 celebrou sua primeira missa após ter sido escolhido como o novo líder da Igreja Católica. O missionário agostiniano retornou à Capela Sistina, onde ocorreu o conclave, para celebrar a missa na presença dos cardeais. Na homilia, disse que foi eleito para que a Igreja possa ser um "farol" para iluminar as regiões do mundo onde haja falta de fé. (09/05)
Foto: VATICAN MEDIA/Handout/AFP
Cardeal americano Robert Prevost é eleito novo papa
O conclave elegeu o cardeal americano Robert Prevost, de 69 anos, como o 267º papa da Igreja Católica. Missionário agostiniano, ele é o primeiro pontífice nascido nos EUA da história. Em seu primeiro discurso aos fiéis, homenageou o papa Francisco, pediu construção de pontos e paz a todos os povos. (08/05)
Foto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS
Começa o conclave que irá eleger o novo papa
Cardeais de todo o mundo estão reunidos no Vaticano para eleger o próximo líder da Igreja Católica.133 cardeais de 71 países estão aptos a votar no maior e mais geograficamente diverso conclave em 2 mil anos de história. Ao fim do primeiro dia, fumaça preta na chaminé da Capela Sistina indicou que não houve consenso em torno de um novo nome. (07/05)
Foto: Gregorio Borgia/AP/picture alliance
Merz toma posse após tropeço histórico no Bundestag
O Bundestag (Parlamento) elegeu oficialmente, em segunda votação, o conservador Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), como o novo chanceler federal do país Ele é o terceiro membro da CDU a chefiar o governo alemão desde a reunificação do país, em 1990. O conservador conseguiu o feito inédito de não conseguir se eleger na primeira rodada de votação (06/05).
Foto: Lisi Niesner/REUTERS
Israel se prepara para ampliar ofensiva militar em Gaza
O gabinete de segurança de Israel aprovou um plano para expandir as operações militares em Gaza, incluindo a "conquista" do território palestino e a pressão para que residentes se desloquem para o sul. No domingo, militares israelenses já haviam iniciado uma convocação em massa de reservistas para ampliar a ofensiva contra o Hamas na Faixa de Gaza. (05/05)
Foto: Omar Ashtawy/ZUMAPRESS.com/picture alliance
Míssil disparado do Iêmen cai perto do aeroporto de Tel Aviv
O Aeroporto Internacional de Ben Gurion, na região de Tel Aviv, foi alvo de um ataque de míssil. Os rebeldes Houthis, do Iêmen, grupo aliado do Hamas, reivindicaram a autoria do ataque, que causou interrupção no tráfego aéreo. O exército israelense reconheceu que não conseguiu interceptar o míssil. (04/05)
Foto: Ohad Zwingenberg/AP/dpa/picture alliance
Austrália: esquerda reelege premiê em meio a onda anti-Trump
O primeiro-ministro da Austrália, o trabalhista Anthony Albanese, proclamou a vitória de seu partido nas eleições gerais. Ele se tornou, assim, o primeiro chefe de governo a conquistar um segundo mandato consecutivo de três anos em 21 anos. "Os australianos escolheram enfrentar os desafios globais do jeito australiano, cuidando uns dos outros e construindo o futuro", disse Albanese. (03/05)
Foto: Rick Rycroft/AP Photo/picture alliance
Inteligência alemã classifica AfD como extremista de direita
A inteligência interna da Alemanha classificou sigla de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) como uma "organização comprovadamente extremista de direita" que ameaça a democracia e viola a dignidade humana ao tentar excluir grupos populacionais, como os imigrantes. A medida permite às agências de segurança monitorarem de forma mais incisiva o partido. (02/05)
Foto: dts Nachrichtenagentur/IMAGO
Trabalhadores ao redor do mundo protestam no 1º de Maio
Redução de jornada, garantia de direitos e melhoria do ambiente de trabalho foram algumas das reivindicações de manifestações em todo o mundo no Dia do Trabalhador, como nesta em Daca, capital de Bangladesh. A data remonta ao início de uma greve em Detroit ocorrida em 1886, que resultou na prisão e morte de trabalhadores. (01/05)