Presidente da principal agência alemã de inteligência considera "muito grave" situação no país e alerta que "Estado Islâmico" busca novos adeptos entre o grande número de refugiados atualmente em solo alemão.
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O presidente do Departamento Federal de Proteção da Constituição (BfV) da Alemanha, Hans-Georg Maassen, afirmou que as autoridades de segurança erraram ao avaliar as estratégias da organização terrorista "Estado Islâmico" (EI) de se infiltrar no país.
Em entrevista publicada neste domingo (10/04) pelo jornal Welt Am Sonntag, Maassen disse que os serviços de segurança alemães, inicialmente, achavam pouco provável que o EI se utilizaria do fluxo migratório de grande proporções para infiltrar terroristas em solo alemão.
"Pensávamos que os riscos eram altos demais para eles", disse Maassen. "Apesar deles não precisarem misturar seus adeptos entre os refugiados, eles o fizeram mesmo assim", disse, afirmando se tratar de uma "demonstração de força" por parte dos extremistas.
Em torno de 70% dos refugiados que chegaram ao país não possuem passaportes válidos e são registrados com base nas informações que eles mesmos fornecem.
"Pergunto-me se o BfV e nossos parceiros possuem, de fato, informações sobre indivíduos perigosos em nossos bancos de dados. É possível que não percebamos que eles estejam aqui, uma vez que entram com identidades falsas", alertou o chefe do departamento, que é responsável pela inteligência interna da Alemanha. Ele acrescentou que "ainda há muito o que aprender" sobre o modo de operar do EI.
Recrutamento em plena Alemanha
Os extremistas não apenas usam a crise de refugiados para se infiltrar no país, mas também agem para conseguir a adesão dos refugiados recém-chegados à Alemanha. Maassen disse que o BfV tomou conhecimento de cerca de trezentas tentativas, por parte de salafistas conservadores e outros grupos radicais, de recrutar requerentes de asilo.
"Em particular, me preocupa a situação dos menores desacompanhados – este é o grupo mais visado", afirmou. O diretor do BfV diz ver nessas tentativas de recrutamento um "enorme potencial para a radicalização".
Saques são fonte de renda do "Estado Islâmico"?
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Há também diversos casos de envolvimento de alemães que retornaram da Síria em planos de ataque descobertos pelas autoridades. Segundo Maassen, o risco representado por esses jihadistas é bastante significativo.
Masssen, porém, acrescentou que "no momento, não temos conhecimento de nenhuma ameaça terrorista concreta na Alemanha".
RC/dpa/rtr
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.